O empresário Jorge Luiz Frare, um dos proprietários da Loja Halley, em Cobija, está se sentindo desamparado pelas autoridades brasileiras. Ele se diz vítima de uma rede de interesses que mistura questões comerciais e jurídicas da Bolívia e que culminou com um ultimato anunciado por um juiz na última semana. “Ele me disse que eu tinha 3 dias para tirar toda minha mercadoria”, relata.
“Tentei tirar o máximo de mercadoria possível da loja e levei para uma casa que tenho em Epitaciolância”, admitiu. Resultado: por meio de denúncia anônima, a Polícia Federal e a Receita executaram a Operação Cometa e apreenderam quase R$ 2 milhões em mercadorias.
Calcula-se que Jorge e o irmão, Ricardo, investiram cerca de US$ 2 milhões no empreendimento, fora os gastos com obras de infraestrutura do prédio – que incluída até um elevador panorâmico.
A GAZETA – Por que a Justiça boliviana resolveu tomar essa postura em relação a sua empresa?
Jorge Luiz Frare: Eu e meu irmão mantínhamos uma socie-dade com um boliviano porque a legislação da Bolívia obriga que tenha uma pessoa natural de lá para formalizar uma empresa. Mais tarde, descobrimos que havia falsificação de documento e lavagem de dinheiro, identificada pela adua-na. Pedimos uma auditoria para investigar. Nessa fiscalização, descobrimos que o nosso sócio falsificava nota para roubar a gente.
A GAZETA – Quanto foi desviado?
Jorge Luiz Frare: A auditoria apontou que ele roubou de nós 1 milhão e 200 mil dólares. Entramos no Ministério Público lá e o denunciamos com notas e tudo o que conseguimos reunir. Ele foi preso. A polícia o prendeu e apreendeu a mercadoria que lhe pertencia para ressarcir a nós e o governo que havia sido roubado também.
A GAZETA – Mas, que relação…
Jorge Luiz Frare: O Ministério Público de lá não é igual o daqui. Lá, eles não são concursados. É indicação política. A procuradora geral de Justiça, Maria Deli, foi comprada pelo meu ex-sócio boliviano. Essa mulher começou a me perseguir. Saiu por denúncias de corrupção. Só que as relações dela com o ministro Juan Rámon Quintana construíram uma rede de relações para vir contra mim.
A GAZETA – Quando aconteceu esse aviso?
Jorge Luiz Frare: Há 1 mês. A partir daí, o Ministério Público de lá inocentou o meu ex-sócio, dizendo que não havia nada contra ele. Os mesmos juízes que o prenderam falam agora que ele é inocente. Contestei. Pedi as provas que eu havia apresentado para incriminar o meu ex-sócio. Todas as provas desapareceram. E o pior: eles nos obrigaram a deixar as provas originais lá. As provas desapareceram e eu virei culpado. O cara virou inocente e entrou com uma ação contra mim e meu irmão dizendo que fizemos uma denúncia falsa. O juiz entendeu que temos de pagar 1 milhão de dólares e pediu a minha prisão e a do meu irmão. Hoje, eu e meu irmão estamos foragidos da Bolívia.
A GAZETA – E as autoridades brasileiras? O senhor recorreu a elas?
Jorge Luiz Frare: Recorremos ao pes-soal do governo, da Polícia Federal. Fomos indicados ao ministro Eduardo Paes Saboia [ministro da embaixada do Brasil em La Paz]. Ele designou uma advogada da embaixada para nos ajudar. Ela esteve na penitenciária de Cobija, onde me falaram que havia um preso lá pago para me matar. Ela foi lá e confirmou. Havia um preso, brasileiro, conhecido como ‘Careca’, e estava pago para me matar. Eles querem me prender para me matar e matar ao meu irmão, Ricardo. O juiz me deu 3 dias para tirar a mercadoria da loja.
A GAZETA – Qual é o prejuízo?
Jorge Luiz Frare: Os investimentos que fizemos na infraestrutura do prédio, incluindo o elevador panorâmico, foram de R$ 500 mil. Em mercadoria, foram mais de US$ 2 milhões.
A GAZETA – E essa mercadoria?
Jorge Luiz Frare: No desespero, eu trouxe para Epitaciolândia. Do lado de lá, as autoridades estão todas contra mim. Como eu já tinha consciência de que a Polícia Federal sabia da minha situação, imaginei que não haveria problema. No sábado, houve denúncia da mercadoria. Houve a Operação Cometa. O resto que ficou na Bolívia, o dono do prédio está tirando tudo.
A GAZETA – O teu caso é um caso isolado?
Jorge Luiz Frare: Na verdade, todos os brasileiros têm problema de insegurança. Vou ser tachado de contrabandista. Instituições brasileiras, ao invés de me proteger, estão me prejudicando.