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Vau do Jaboque

Estatísticas bem recentes, apontam um quadro alarmante de pessoas que hoje estão sofrendo as agruras ocasionadas pelo uso indevido das drogas; são, por baixo, aproximadamente 65 milhões de jovens e adultos vivendo um mesmo drama, pois que, nessa questão só mudam os personagens, a história daqueles que são humilhados, diariamente, pela violência do mundo das drogas, é a mesma.  

O sentimento em geral que se tem, em relação ao problema, é que todas as entidades estão impotentes diante do avanço inexorável do mundo das drogas. Por onde ando ouvindo palestras sobre o assunto nefasto, ouço sempre uma velha máxima dos centros e clínicas de recuperação: o Estado é impotente; a família é impotente; a igreja é impotente; a ciência é impotente. Perante os fatos, ficamos a nos auto-indagar se existe libertação para tão grande mal, ou se há, ainda, esperança para todos aqueles que estão no fundo do poço existencial. Será que há uma tábua de salvação onde possamos nos agarrar? esperança de que possamos ser salvos desse mar encapelado das drogas? Há remédio, leitor, para reverter essa caminhada trágica do tráfico e consumo das drogas?  

As famílias, e são muitas, que convivem, na própria carne, com esse tipo de problema, vivem  a realidade cruel de quem se encontra numa situação que mais parece “um beco sem saída”. Vale ressaltar que nessa luta da família pelos seus entes, contra o mal inescrutável das drogas, há pais e famílias que em total desesperança abandonam o combate. Contudo há muitos pais e mães que conseguem caminhar nesta luta, como vimos nesta A GAZETA, edição de ontem, o exemplo da Sra. Sebastiana Ferreira que em plena praça pública, demonstrando descontrole emocional e  grande desespero, buscava o resgate do seu filho. Como é, também o caso de um pai muito íntimo meu, que labuta, por longos 15 anos, ao lado de seu filho que foi alcançado pelas drogas.

Peço a tua atenção leitor, para o teor duma  cartinha de um pai à seu filho que estar internado numa clínica para dependentes químicos:

“Por mais difícil que seja a tua atual circunstância aceite a vida como uma dádiva de Deus; aceite como uma nova oportunidade de recomeço; receba agradecido, pois poucas pessoas têm esse privilégio que estás tendo. Nas últimas 48 horas, antes de adentrares este lugar, buscastes deliberadamente o inferno. Fostes salvos, creio eu, pela estrita misericórdia de Deus.  

 Quero que saibas que estamos ambos de nós, você e eu, doentes e precisamos nos tratar adequadamente. Reconheço que o peso da idade se faz mais presente nas minhas lidas. Deste modo, creio firmemente, que precisamos de cooperação mútua com o fim de alcançarmos a vitória; não podemos, nesta luta feroz, sofrer mais derrotas, sob pena de perdermos a guerra. Tenha cuidado com as tuas decisões, busque orientação do alto; busque a humildade, sem a qual você não terá êxito. Seja útil às pessoas que aí estão. Alias, você vai notar o quanto há pessoas, nossos semelhantes, que estão talvez mais doentes do que nós. Portanto, seja útil ao seu semelhante, e você estará se ajudando.

Reflita, também que para “todo beco sem saída” existe sempre um Vau do Jaboque, ou uma travessia do Mar Vermelho; existe uma libertação, existe uma esperança. Abre a tua mente para, especialmente,  o caminho sobremodo excelente, O Senhor Jesus Cristo, a Verdade que liberta. O caminho da paz genuína; aquele que pode sarar nossas feridas. O Poder Superior a quem temos que dedicar total confiança, e em quem podemos descansar das nossas lutas terrenas. Aquele que pode derrotar todos sistemas satânicos, até nas “regiões celestiais”; nEle você, meu filho, pode confiar.
 Quero saibas que hoje, mais do que ontem, estou renovado nas minhas forças de me colocar ao teu lado na busca da tua cura. Podes ter certeza. A minha expectativa é que Deus me conceda esta grande alegria:  Ver você  liberto do domínio das drogas, antes da minha morte.

“Deus te abençoe, e te guarde e ti dê a paz”.

 O filósofo italiano Norberto Bobbio (1911-2005) que admitia viver  como um leigo num mundo que desconhecia a dimensão da esperança, dizia que a esperança é uma virtude puramente teológica. Por esse prisma, a esperança além de ser o ato de esperar um bem que se deseja, é também, uma extensão da fé: “Ora, a fé é a certeza daquilo que se espera”,  “A esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?” , diz- nos o texto Sagrado. Por conseguinte, a esperança é uma forma de “perseverança” ou “paciência”, uma espera paciente pelo cumprimento daquilo que o homem interior diz que ocorrerá, por causa de sua confiança em Deus. Mas enquanto o milagre não vem, pois os milagres não são determinados por nós, os sinais estão no campo da metafísica, precisamos de uma solução que nos tire dessa situação; circunstância  amaldiçoada que nos deixa num estado de total desesperança.

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