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Acorda Ufac!

Em pleno século XXI, quando o mundo se tornou tão competitivo, a exigir pessoas qualificadas e bem preparadas para o trabalho, no ensino superior, no Acre, essa urgente necessidade parece fazer água. Diz-se isso porque a formação humanista, voltada para o desenvolvimento de um conhecimento enciclopédico e erudito, parece fracassar, no momento em que a Universidade se dá ao luxo de mandar para casa os medalhões que possui nos seus quadros. O mais grave: figuras notórias, que construíram história na Academia, por seus feitos e produções, são chamados de velhos como um defeito grave. Esquecem os “noviços”, que fazem a gritaria, em nome da “inovação”, que conhecimento, sabedoria e experiência, se adquirem no correr da vida, portanto, no correr dos anos.

Os grandes cientistas do mundo, com raríssimas exceções, são pessoas que passaram dos 60 anos. Mais uma vez esquecem esses arautos “democráticos” que a formação clássica do pesquisador, dentro de uma tradição disciplinar específica, e tendendo para um padrão cada vez mais especializado, não nasce do dia para a noite, nem com a simples obtenção do título de Doutor. É preciso mostrar o que é, de fato, ser Doutor. Ou seja, ter competência, desempenho e trazer nas mãos os frutos de sua colheita para oferecer à Comunidade Universitária. Assim, este ser educador necessita de flexibilidade para acompanhar as mudanças na educação, na sociedade, na ciência e, consequentemente, no ensino superior, de forma que promova um ensino de qualidade para o saber fazer, o saber pensar, o saber ser.

Nas universidades de excelência, a exemplo de muitas reconhecidas no território brasileiro, pronunciam-se pessoas com alta produção nas áreas ou nos cursos. Pronunciam-se professores experientes e que chegaram a posições destacadas na hierarquia universitária, em decorrência de mérito acadêmico/científico e de competência administrativa. São profissionais reconhecidos por seus trabalhos de alta relevância nas Universidades.

Ariscam ao pleito de reitor somente aqueles guindados por equipes que se agregam em torno de nomes de pares mais antigos, que tenham trabalhos relevantes na instituição e que tenham um legado útil para a Academia. Isso porque a gestão de um sistema tão complexo quanto o universitário justifica o fato de que aqueles que já demonstraram ter domínio sobre essa complexidade sejam ouvidos com maior peso na escolha dos rumos da instituição. Em alguns casos, têm sido também indicados para concorrer ao cargo candidatos mais jovens, só que esses mais jovens são, invariavelmente, docentes reconhecidos na academia por sua experiência administrativa e significante produção na sua área de atuação, ou mesmo nos cursos onde atuam. São pessoas profissionalmente reconhecidas dentro e fora da Universidade, considerando as publicações, as pesquisas, os livros, as patentes etc.

Na Ufac, na contramão dessas considerações, existem pessoas que sem qualquer maturidade acadêmica, sem produção científica, sem conhecimento sobre a nobre história da universidade, ousam apregoar que ter história, ter maturidade, produção, experiência, capacidade, visão ampla de futuro, são requisitos para ir para casa criar pintos, galinhas ou algo similar. São pessoas que não sabem como foram construídas as maiores universidades do mundo.

Há, em meio aos eufóricos, o alheamento de como surgiu à ideia de universidade, o desconhecimento do tamanho da importância de se ter um acadêmico memorável na representação máxima da instituição. Apostam na lógica de que no Brasil sempre é possível “aquele jeitinho”. Querem, assim, a qualquer custo, eleger nomes para atender interesses particulares, políticos ou de grupos, com interesses estranhos ao meio universitário. Quem não produz não pode exigir produção. Quem não pesquisa não pode falar em mudanças, isso porque a mudança começa com a produção intelectual, científica dessas pessoas. Afinal, elas devem zelar e respeitar aqueles que têm produções e fazem história na vida universitária. Um acadêmico enaltece a instituição quando oferece seu nome, seu esforço, sua capacidade, seu prestígio intelectual e administrativo para que essa instituição cresça e avance na qualidade do ensino, pesquisa extensão.

Quando se disputa um bem material, juntamente com alguém, torna-se natural o caráter mutuamente exclusivo da conquista: para alguém ganhar, alguém deve perder. Em contrapartida, o mesmo não necessita ocorrer quando o bem que se disputa, ou que se busca com alguém, é o conhecimento. Pode-se dar ou vender o conhecimento que se tem sem precisar ficar sem ele, pois o conhecimento não é um bem fungível, não se gasta: quanto mais o usamos, mais novo ele fica.

Mas há muitos que não querem saber como se constrói uma grande e respeitável universidade. Preferem achincalhar quem tem maturidade, produção, respeito, credibilidade, determinação para realizar grandes feitos. Assim, há pessoas que para ganhar simpatizantes ficam prometendo cargos em duplicidade e atirando a esmo em todas as direções. Deveriam, antes de qualquer outra coisa, mostrar seus trabalhos, nas suas áreas de atuação, pelo menos dentro daquilo que mais defendem, ou então dentro dos cursos onde atuam.

O que pode oferecer uma pessoa que mal terminou um curso de doutorado e nada produziu? Ou outro que voltou do doutorado, fez photoshop durante um ou dois anos e logo deu um jeitinho de sair novamente para desenvolver um trabalho complementar, sob uma orientação, com o nome de pós-doutorado, mas que, mesmo assim, ainda não conseguiu produzir trabalhos, divisas ou incorporar suas contribuições como recompensa dos investimentos feitos pela instituição nas suas qualificações. Como a academia vê essas pessoas ávidas pelo poder simplesmente “pelo poder”? Essa reflexão é pertinente e importante na hora de eleger o gestor maior da Ufac.

Como a academia deve tratar esses malabaristas? Esses professores poderiam ser bem mais úteis ao desenvolver e aplicar seus conhecimentos nos cursos e contribuir para a melhor formação dos alunos. Assim, estariam colocando em prática aquilo que pregam nos discursos. Estariam mostrando para a sociedade que de fato são produtivos, competentes, compromis-sados  com a Universidade. Afinal, o amor é pelo cargo ou pelo trabalho enquanto docentes e pesquisadores?

Esses improdutivos doutores, após justificarem suas condições de professores, nos quais o governo fez um alto investimento, em prol das suas qualificações, com vistas ao exercício da docência, deveriam entender que o retorno que devem expressar, antes de qualquer outro, tem que ser como docentes-pesquisadores e, somente depois de justificarem esses altos investimentos, uma vez comprovadamente produtivos e certificados pela comunidade, mais experimentados, mais maduros, mais afeitos a política do que deve ser uma universidade e menos ligados a política partidária ou de interesses particulares de grupos, aí sim, se candidatarem ao cargo de reitor. Fazer o contrário é um contrassenso. Acorda, Ufac!

DICAS DE GRAMÁTICA
ADJETIVO COMPOSTO TEM FEMININO?
– Sim! Um colégio luso-brasileiro e uma escola luso-brasileira. Um homem moreno-claro e uma mulher moreno-clara. Banco afro-brasileiro e música afro-brasileira. Mas como sempre, há uma exceção: se você encontrar um casal de surdos-mudos, saiba que ele é surdo-mudo e ela, surda-muda.

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Acreana de Letra; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Professora Visitante Nacional Sênior – Capes/Ufac. ( colunaletras@yahoo.com.br)

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