Aliás, necessário refletir sobre o fato de que o 1º Ciclo da Borracha e os diversos episódios que caracterizaram nossa Revolução Acreana possuíram, na passagem do século XIX para o XX, uma dimensão tal que ainda não foi plenamente alcançada pela história da civilização ocidental.
Acredito que, mesmo com grandes autores e intelectuais brasileiros – tais como Euclides da Cunha, Artur Cesar Ferreira Reis, Leandro Tocantins, Samuel Benchimol, entre outros – e estrangeiros – como Alfonso Domingo, Jeffrey D. Needell, Warren Dean e, mais recentemente, Joe Jackson (com o excelente livro que trata do roubo das sementes de nossas seringueiras, que li a pouco) – se debruçando sobre este tema, ainda não compreendemos completamente seu significado.
Não podemos perder de vista que, com a revolução industrial que transformou completamente a configuração da nossa civilização, nas últimas décadas do século XIX a floresta amazônica se tornou o centro da economia mundial. As grandes potencias do mundo – Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, França e Holanda, principalmente – entraram numa ferrenha disputa pelo controle das fontes fornecedoras da mais estratégica matéria prima do período: a borracha. E, no centro deste cenário de interesses conflituosos e disputas de mercado que colocavam em xeque a geopolítica mundial, estava a floresta acreana com sua borracha de altíssima qualidade e uma perigosa indefinição territorial.
Assim, quando, naquela manhã do dia 06 de agosto de 1902, Plácido de Castro a frente de um pequeno grupo de seringueiros invadiu a Intendência Boliviana, estrategicamente situa-da em Xapuri, anunciando o início da Revolução, estava dando um ousado passo que iria abalar o mercado internacional e, por conseqüência, os poderosos interesses do grande capital.
Como acreano apaixonado por essa terra, neste momento em que exerço o cargo de Senador da República, ao qual fui generosamente conduzido pelo povo acrea-no, sinto imenso orgulho ao lembrar e comemorar mais uma passagem de um evento tão importante, não só para a história do Acre e do Brasil, como para a história do mundo. Afinal, somos um povo que venceu uma Revolução, empreendeu a longa luta autonomista, acaba de completar 50 anos como Estado autônomo da federação brasileira, deu um excepcional exemplo de defesa da Amazônia com a luta de nossos povos da floresta liderados por Chico Mendes e nos últimos dez anos vem avançando e alcançando um novo patamar de desenvolvimento sustentável que mantém o Acre como importante paradigma frente aos desafios de nosso tempo.
* Jorge Viana, Senador PT-AC