Receber cartas é sempre muito bom. Hoje, é claro, a singeleza da missiva escrita à mão, em caligrafia às vezes tortuosa, clássica ou em garranchos, já não existe. Já não se leem aqueles preâmbulos que rogam a Deus que esta te encontre gozando de saúde plena. Nem aqueles que pedem desculpas pelas mal traçadas linhas. Já ninguém sabe sequer o que vem a ser uma missiva… Nem mais caligrafamos, nem mais datilografamos. Agora, digitamos e, amanhã, talvez, nem isso.
Todavia, mesmo pelos meios eletrônicos mais modernos, ser correspondido, em palavras escritas, continua sendo algo extremamente agradável, prazeroso, alentador, pelo menos para os de mais sensibilidade, como este parco e vão poeta que vos alinhava estas algaravias toscas. Crê-se, piamente, que a humanidade ainda não está a deixar de existir. Pelo menos é o que ocorre comigo, logo eu, uma espécie de humanista apaixonado em extinção no terceiro milênio.
Aí, é conveniente lembrar, mais uma vez, o Kennedy – da Jackeline que também (ela) foi do Onassis. Num dos seus fantásticos discursos, ele registrou que o laço essencial a nos unir é que todos nós habitamos este pequeno planeta. Todos nós respiramos o mesmo ar. Todos nos preocupamos com o futuro dos nossos filhos. E todos somos mortais. Eis, em resumo, a humanidade do homem dos nossos dias.
Mais, bem mais, mais que demais, muito mais interessante é este esteta das letras mal-acabadas receber uma carta bastante carinhosa de alguém que nunca viu. E lembrar que, há pouco tempo, muitos de nós modernos pensávamos ser imponderável tal possibilidade.
Correspondo-me com alguns ilustres desconhecidos que me são muito gratos, e eu também o sou para com eles, considerando a felicidade que é tê-los por perto, pelo menos em espírito. Destes, destaco Dona Eulália Ventura, seis ponto quatro, de Portugal, que me envia poe-sias demonstrativas de uma inspiração incomum, notadamente, com as coisas e os fatos do Brasil.
Mas há o meu velho amigo, leitor assíduo, de oito ponto quatro outonos, Fábio Lima que, num certo dia de 2004, me enviou e-mail dizendo ter nascido em Xapuri e haver residido por alguns anos com a família de Eurico e Linda Gomes Fonseca, na Rua 24 de Janeiro, a mesma onde nasci. Hoje, este meu correspondente em São Paulo, quase semanalmente me envia dicas e recados que vão desde os perigos do câncer via celular, à última cura do diabetes pelo uso de abóbora ou de alpiste… É muito bom tê-lo como um amigo a quem nunca vi, mas de quem sempre gostei. Fico grato. Por Deus!
E tem razão o poeta quando assevera que nunca te vi, mas sempre te amei… Sim! É amor de fato pela terra saudosa, cá distante – a Xapuri memorial dos anos 40 e 50 do século passado.
Também é um afeto muito especial que sinto por este meu mais recente amigo cibernético, velho xapuriense, o Advogado Leônidas Nogueira de Souza.
Observe, minha cara senhora, um espírito cativante que fala por meio de palavras tão bem escritas. Há um gosto de saudade, sim, e quase um cheiro de lágrimas nas páginas seguintes que apanho do correio eletrônico, endereçadas a mim há alguns meses.
Prezado José Cláudio Mota Porfiro. Não imagina a felicidade e a emoção que senti ao ler a sua crônica Encantamento e surpresa, de 8 de janeiro de 2012. Viajei em pensamento mais de seis mil quilômetros, de Fortaleza, Ceará, à minha querida e amada Xapuri.
Nascido à Rua Pio Nazário, dessa cidade histórica, há 71 anos, revivi momentos memoráveis na sua andança (do seu personagem) com os senhores e irmãos Eurico e Tomás Fonseca, portugueses de fibra.
O imóvel que hoje abriga a Câmara de Vereadores foi, por muito tempo, a minha terceira e última residência nessa cidade e, claro, dos meus pais e irmão, até janeiro de 1959, quando passamos a residir em Rio Branco. Na capital, cursei o Ensino Médio, em Contabilidade, juntamente com os colegas Luiz Gonzaga, do Cartório de Registro de Imóveis, Chico Fontenele, Jair Gouveia e outros. Entrei no Curso de Direito, formando-me em dezembro de 1971, tendo como colegas Edmir Gadelha, Ciro Facundo, Manoel Araripe, Marluce Costa, Kina Cruz, Aquileu José da Silva, Marciliano Fleming, Oded Moreno, Suzuky, Hélio Saraiva e outros.
Em Xapuri, morei, por longo tempo, na Rua Major Salinas, época de minha infância. A Casa Branca, como hoje é chamada, foi o primeiro grupo escolar que frequentei. Construído o atual Grupo Escolar Plácido de Castro, obra majestosa, passei a estudar ali, quando já estava residindo na Rua 24 de Janeiro, prédio, hoje, da Câmara Municipal. Minha saudosa mãe era afilhada de fogueira de Dona Linda, esposa do Seu Eurico.
Feita essa pequena digressão, volto ao nosso passeio turístico. Não sei se por esquecimento, mas o Amigo – permita-me assim chamá-lo – ao descrever aquelas passagens, deixou de lado: 1 – a casa do Seu Antonino, também português e sócio da loja A Limitada; 2 – a residência do Seu Zé Rodrigues, homem simples; 3 – a morada do Seu Guilherme Ferreira, mais conhecido por Guilhermão, sócio da loja Zaire, de Guilherme Zaire, e filho de dona Venilha e Seu Tufic; 4 – a casa do Seu Homero Araújo, chefe de máquinas da lancha A Limitada; 5 – o quartel da Polícia e Cadeia Pública; 6 – a residência do Seu Rosendo Alves, seringalista e padrinho de meu irmão caçula, isto, do lado direito de quem vem lá do início, onde está o novo Quartel da Polícia; do lado esquerdo, a partir do grupo escolar, temos: 7 – a casa do Seu Aziz, ou para ser mais claro, dos genitores do ex-prefeito Jorge Akel Hadad, meu amigo de infância e de peladas no campinho do grupo escolar Plácido de Castro; 8 – a mercearia da Badia Fadul; 9 – a residência de José Maciel; 10 – a seguinte era de um turco, cujo nome me falha a memória, comerciante da loja na esquina desta mesma rua Dr. Batista de Morais, nas confluências do antigo Palanque; 11 – e aí, temos o antigo colégio Divina Providência, onde fiz o curso ginasial, tendo como professores, dentre outros, os seguintes: Euri Figueiredo, Carmem Magalhães Assef, Rosa Hadad, Elaís Meira Heluan, José Hadad, Adauto Brito da Frota, Francisco Lima, Fábio Araújo, afora as Irmãs do próprio colégio. Ainda do lado direito da rua, tínhamos um conjunto de casas conjugadas, dentre as quais, uma de meu tio barbeiro José Nogueira, que também foi vereador; depois o posto de Puericultura, até o Mercado Público; ao lado do Palanque, existia um pequeno restaurante da tia de minha mãe, que eu também a chamava de tia Nazaré, que era tia também da Erato Castelo, funcionária da Prefeitura.
Porfiro, não quero me alongar mais, pois com esse seu passeio ao qual também estive em pensamento, revivi toda a minha vida nessa cidade. Os passeios aos domingos ao Laranjal do Jofre Koury, ao Mirassol, onde morava um tio meu, os banhos no Rio Acre, na época da seca, as pescarias que fazia com meu irmão, e, algumas vezes com meu pai, que possuía uma rede de pesca, além das peladas de futebol no campo do grupo escolar; e os banhos de chuva! Tudo isso fluiu, abundantemente, em minha memória com o seu passeio. Mas, como disse, não quero alongar-me mais, e aqui me despeço com um forte abraço. Leô-nidas Nogueira de Souza.
Meu bom amigo Leônidas. Apenas o que de mais interessante havia na Batista de Morais, em 1942, é que foi descrito pelo personagem, que é fruto da minha ficção atual, um romance em fase de conclusão denominado O INVERNO DOS ANJOS DO SOL POENTE. Já não sou tão moço e ainda não experienciei tanto da vida. Estudei também no Plácido de Castro e no novo Colégio Divina Providência, das freiras católicas. Sou um tanto jovem aos cinco ponto cinco e as informações que trago me foram repassadas pelos meus pais e avós – especialmente a minha matriarca, Dona Mariinha, falecida desde 1991 – e por uma certa Professora Euri, filha de Eurico e Linda Fonseca. Diria ser esta uma espécie de segunda mãe e queridíssima amiga, hoje, aos oito ponto dois em número de primaveras.
Com os agradecimentos pela atenção dispensada à leitura das minhas crônicas e com uma afoita recomendação: acesse, por gentileza, o www.claudioxapuri.blog.uol.com.br – aí, nas estradas de seringa desta vida, você vai me conhecer muito melhor. Um afetuoso abraço!
* José Cláudio Mota Porfiro é escritor…