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Parceria promíscua

A recente pesquisa de prévias eleitorais do Ibope, feita junto ao público de Rio Branco (??) dizendo quem é quem na corrida municipal, além de contraditória, em relação a outras fontes de informação, denota preocupação exagerada em ascender o candidato  do governo a altura dos índices plenamente favoráveis ao candidato do PSDB. Essas pesquisas, sem desmerecer o lado científico da análise, à luz das predições religiosas mais parecem profecias místicas que só existem para satisfazer o orgulho humano ou o desejo de poder. Tais pesquisas supostamente dão aos seus proponentes, munição para combater os seus “inimigos” políticos, obter vantagens com empresários (apoio de campanha) e nos negócios pessoais; além, é claro, de florescer os anseios de vaidade, exibicionismo e presunção. Em outras palavras: presunção elevada ao quadrado. Pode-se deduzir claramente, por dilatação, que a afinidade entre marqueteiros e políticos, dada as facilidades óbvias, quase sempre, são parcerias promíscuas.

Ademais, uma definição de marketing aceita por grande parte dos profissionais que lidam com “venda” ou “mercado” é a seguinte: marketing é a realização de atividades de negócios que dirigem o fluxo de bens  e serviços do produtor ao consumidor, para satisfazer as necessidades e desejos do consumista e as metas e objetivos do fabricante. Assim, estou entre aqueles que guardam má impressão do marketing por considerar um termo ilusório, criado só para “camuflar” a palavra “venda”.

De todas as previsões desses institutos de pesquisas espalhadas por esse mundão eu só acredito naquela que disser que, mais uma vez, as próximas eleições serão de caráter pragmático. Todavia essa predição seria indispensável, pois que essa tem sido a tônica das eleições no Brasil nos últimos 50 anos. Mesmo porque, para essas agências da especulação de “intenção de votos” pouco importa se a teoria, de alguns políticos, é verdadeira ou falsa. O importante é que dê resultados práticos e imediatos.

A maioria da gente sabe que, do lado de cá do atlântico, as eleições têm base numa ética situacional. Em nível de eleição municipal, como a de agora, o eleitor quer ter sua rua asfaltada, a praça de sua cidade embelezada, quer ter emprego garantido com salário em dia, o pastor quer telhas para cobrir casas de oração, o padre quer reformar a igreja, o desdentado quer dentadura nova, algumas mulheres querem laqueadura, enfim. Todos querem resultados práticos. Desmentir essa verdade é ser no mínimo hipócrita.

Esse pragmatismo eleitoral ou do voto vai demorar a ser debelado da vida pública tupiniquim, uma vez que se faz presente, há tempos, nas entranhas da classe política brasileira; alimenta-se de: sistemas populistas; dos caciques com seus falsos paternalismos; casuísmo e  clien-telismo; conchavos político; cooptações e barganhas da pior espécie  que tanto mal faz  ao Brasil em longo dos anos.

Do mesmo modo, talvez de forma mais aviltante, os partidos políticos, quase sem exceção, com  linha “ideológica” extremamente pragmática, pois que seus mais dignos representantes, loucos por poder e protegidos pela memória curta do povão, fazem acordos espúrios e parce-rias promíscuas com algumas empresas, corroboram com essa porfia desonesta, fomentando rivalidade entre as siglas, na busca desenfreada pela “glória” uma vez que são presas fáceis da cooptação advinda do poder mor. Exemplo específico do que se afirma aqui são os recentes escândalos em alguns  no Ministérios.

Essa promiscuidade entre política partidária e marketing nos faz distanciar, cada vez mais, daquela ideia clássica, oriunda do pensamento platônico, de que as noções políticas são permeadas por um elevado senso moral e que os padrões éticos representados na virtude da sabedoria, da coragem, da moderação e da justiça, que deveriam se fazer presentes na política, propriamente dita, e nas suas formas de governo,  nos dias atuais, é uma verdadeira utopia, para não dizer de elevado conceito abstrato, isto é:  impossível à luz da experiência humana, porquanto política e ética  que deveriam andar lado a lado estão,  hoje, trilhando caminhos ambíguos, não tem nada a ver uma com a outra.

Daí ser um grande desperdício gastar R$ com propaganda institucional orientando o eleitor a “votar consciente” ou “votar com ética” “votar limpo” etc., quando se sabe que no Brasil, o eleitor, com raríssima exceção, sempre vota por interesses secundários. E mais, nem a ação e o papel destacado da Justiça Eleitoral, hoje com cobranças mais rígidas, fará com que os contumazes fabricantes de “lista remunerada” deixem de usar esta “engrenagem” em favor de suas candidaturas, nesta próxima eleição.

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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