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Doidice total!

Estamos fechando o ano debaixo de uma condição estúpida e nada alvissareira; trata-se do consumo de crack, que segundo aponta a pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM), se alastrou pelo país alcançando 98% dos municípios brasileiros. Nem o mais histórico dos pessimistas, do passado, poderia satanizar ou prognosticar que um dia grande parte, quiçá a maioria, da população brasileira seria escrava das drogas. Mesmo que eu evocasse pessimistas do naipe de um Schopenhauer, para quem a vida não valia o investimento que se faz nela ou ressuscitasse as teses macabras de Thomas Malthus, o mais violento dos pessimistas quanto ao futuro da humanidade, conseguiria alcançar o tamanho do prejuízo que essa cultura da droga, com seus efeitos danosos, traz aos que dela se servem.

 O fenômeno não é só privilégio dos grandes centros urbanos, é de caráter global. Chama, também, a atenção à idade dos usuários, jovens na faixa etária de 11 a 21 anos. Alguns, inclusive, já comandam o tráfico de drogas, notadamente nas favelas cariocas.  

O problema é mesmo, repito, de caráter universal. A doidice é quase total nos jovens do mundo de hoje. Consequen-temente, pode-se dizer que toda essa loucura juvenil é produto de uma nova filosofia de vida em que a verdade e os valores são relativos, dependentes de sua utilidade tanto para os indivíduos como para a sociedade. Assim sendo talvez as “vãs filosofias” tenham as respostas para “os por quês” dessa realidade sombria que se aproxima, cada vez mais, dos jovens.

O perfil do jovem, no mundo em que vivemos, enquadra-se na filosofia niilista de Nietzsche que consiste na desvalorização dos supremos valores, na ausência de fim, na impossibilidade de responder “os por quês de tudo isso?”. Niilismo, por outro lado, que prega que o valor é um modo do ser. E as coisas valiosas, apreciadas e desejadas porque valiosas, que se tornam norma ou regra de conduta, são, por isso mesmo, fim ou razão de ser da conduta. Abro parêntese para evocar tese de Schopenhauer, sobre essa questão de “desejar.” Para Schopenhauer  a liberdade do homem só se dar através do deixar de querer. Como, por natureza dos sentidos múltiplos, vivemos para desejar, notada-mente o que é alheio, estamos todos presos aos valores estéticos. De volta a Nietzsche, com este aprendemos que o sentimento da ausência de valor emergiu, “quando se compreendeu que a existência em seu conjunto não poderia ser interpretada nem pelo conceito de fim, nem pelo de unidade, nem pelo de verdade; a existência deixou de ser verdadeira, é falsa. Não há mais razão alguma para imaginar um mundo verdadeiro”. Deste modo, na tese nietscheniana, privado de fim, de unidade e de verdade, o mundo parece sem valor.  

Existe, ainda, o hedonismo extremado oriundo do antigo sistema filosófico hedonista, que estabelece o prazer como o objeto principal da vida. Essa configuração de encarar a vida é fortemente influenciada, hoje, pela mídia pornográfica, indutora de maus costumes; dessa forma, a petizada só fala em “ficar” “parada”, curtição em embalos alucinógenos e tudo mais o que enche a mente de milhares deles. Esse apego, exagerado, aos prazeres objetivos, fere e descaracte-riza a própria estética; pois a satisfação só é estética quando gratuita e desligada de qualquer interesse; não se ufana e não prevalece sobre o interior ético responsável, cumpridor de suas obrigações de jovem. Com tudo isso para deleitar-se estabanado, e sem ter de onde tirar os borós; muitos jovens são levados a planejar e executar assaltos e outros crimes.

Basta-nos verificar os registros criminais para demonstrar que a delinquência juvenil aumentou em proporção assustadora no mundo inteiro. Se formos enfáticos, diremos que a indisciplina e o delito se acham presentes nos jovens, em escala tal como jamais o mundo as conheceu.       

 Num mundo assim em que os jovens são considerados os “bandidos da era digital” o melhor é aliar-se à gente que não se desespera, que pensa que é possível fazer algo e lutar por um futuro feliz da juventude. Embora no momento, diante do estupor, miséria, desespero e malefícios oriundos das drogas, mesmo à luz do mais otimista dos homens, pareça não existir absolutamente qualquer possibilidade de, ao menos, remediar essa situação. E-mail:assisprof@yahoo.com.br

Categories: Francisco Assis
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