Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Natal: além duma mera ilusão

O Natal, do ponto de vista de confraternização, é saudação, abraços aconchegantes, parabéns, felicitações mensagens, via internet, escrita às pressas; família reunida com troca de presentes, roupas e sapatos novos. É a árvore verde vestida de algodão e estrelas e lâmpadas coloridas que apagam e acendem! Natal, também é época de oportunismo de governos injusto com seus sa-colões. De alguns setores da mídia televisiva, com eventos demagogos do tipo: “Criança Esperança”  “Jogo contra a pobreza” etc.

Num mundo marcado pelo consumismo exagerado, Natal para a maioria das pessoas é a mesa farta: leitões assados com rodelas de limão sobre o corpo tostadinho, o peru recheado de peito aureolado com farofa cor de ouro, os frangos, o chester, o bacalhau, as frutas, as passas, as ameixas pretas, nozes, castanhas, uvas coloridas… bebidas e mais bebidas, bebidas descendo redondas, gotejando, geladas que refrescam até pensamento, loiras, espumantes. Natal sem ceia farta, de dar inveja aos banquetes nababescos do Rei Belsazar, da antiga Babilônia, dizem alguns: Não tem nenhum valor. Não tá com nada!

Contudo, há um verdadeiro sentido do Natal. Teologicamente o nascimento de Jesus  é o logos que se fez carne e habitou entre nós. O sentido metafísico da ideia de logos estabelece o conceito de uma união entre o eterno e o invisível, o Deus transcendente e as coisas criadas.

Historicamente Jesus, nascido em Belém Efrata e criado em Nazaré da Galileia, cresceu, ensinou o bem, verberou o mal, tolerou suspeita, foi tentado, odiado, preso maltratado, crucificado e morto; mas venceu a morte e ressuscitou. Ele veio mudar o curso da História. Curar os quebrantados de coração; abrir os olhos aos cegos; soltar os encarcerados; trazer para luz os que vivem nas sombras e trevas.

Na visão clássica do cristianismo e seus seguidores, Natal é muito mais: é esperança, certeza de dias melhores, humildade e fraternidade. É Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens de boa vontade! É a profecia cumprida: “Porque um menino vos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”.

O Natal é, igualmente, uma luz que irrompe neste mundo caos, minimizando pelo menos por algumas horas a escuridão social em que estamos metidos. Sociedade: que a  cada dia se afasta dos contratos sociais; que vive distante das comunidades vitais, aquém da comunidade jurídica e; carente de uma fraternidade movida pelo amor. O Natal nos mostra que somos propensos a emoções; somos sensíveis aos apelos oriundos das tradições que nos concitem a amar, a ter paz e a exercer a irmandade universal, numa verdadeira magia.

Além de uma grande magia, aceita universalmente, o dia de Natal, ainda, nos mostra e põe desnudo que, mesmo estando para lá da era cibernética, o homem, a sociedade ou o mundo continuam carentes de mudanças na estrutura social. Significa dizer que apesar do avanço tecnológico, científico e das grandes realizações, nota-damente, no mundo urbano, o homem, enquanto sociedade é um brucutu em questões e formas de sociabilidade. A sociedade, aos olhos de qualquer leigo, na hipótese de ser comparada a um edifício, está com sua base, inteiramente comprometida, produto de uma arquitetura confusa e, por conseguinte, necessitando de indispensáveis reparos, podendo desabar a qualquer hora.

O Natal envolve a humanidade de diferentes culturas, numa teia de acontecimentos de amor ao próximo sem precedentes. Surgem campanhas, as mancheias, de solidariedade humana, oriunda dos mais diferentes segmentos sociais, concitando o povo a fazer doações de alimentos, visando minorar a fome dos menos favorecidos so-cialmente. Essa farta solidariedade humana, mesmo que só aconteça em épocas natalinas, é salutar; uma vez que é melhor fazer pouco, do que nada fazer.

Além desse “dia mágico”, o Natal é real, não é uma ilusão; pois o fato do dia de Natal perpassa essa aparente realidade que nos faz viver de ilusão em ilusão, achando que somos filhos de Icária, país fictício produto da cabeça, fértil e otimista de Étienne Cabet que ilusoriamente, acreditava na libertação de seu povo da “peste” da fome; confiava que somos todos alimentados, vestidos, alojados e educados; que a ordem sucedeu a anarquia, a regra ao caos. Não, o Natal não é uma mera ilusão. O Natal transcende toda e qualquer falsa esperança e a tudo o que é passageiro, excede até mesmo ao generoso, gordo, bonachão e barbudo Papai Noel, pois que o Natal se radicaliza em Jesus Cristo, a verdadeira esperança de um novo amanhecer.

E-mail:assisprof@yahoo.com.br

Sair da versão mobile