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Medida acertada

Pondero como sensata e acertada, apesar do fato já ter caído no esquecimento geral, a medida do Governo do Estado em conjunto com a PMRB, de não promover, neste ano, as comemorações de Carnaval. Lógica, igualmente, é a palavra oficial sobre o assunto: “Nosso papel é a responsabilidade em preservar recursos públicos para manter as obrigações diárias do governo”.

Muito bem, afinal de contas faz tempo que o carnaval deixou de ser apenas folguedo. Deixou de ser uma festa folclórica para ser o que é hoje, uma grande e nefasta orgia que infelicitam muitos adolescentes e jovens nos quadrantes da nação brasileira. Não é mais uma batalha de confetes, como nos carnavais de antigamente, ou somente uma batalha competitiva: do melhor samba-enredo; da melhor porta-bandeira; a melhor bateria; dos melhores adereços, enfim.  Agora envolve grandes negócios e altos consumos, dizem os espertos promotores do negócio, gerando tremendas divisas para o Brasil, além de animar diversos setores da economia nacional, a caseira, inclusive, principalmente no Rio de Janeiro.

Em sendo um comércio dos mais rentáveis, num país em que 11 milhões de pessoas sobrevivem em favelas, palafitas e outros assentamentos e moradias irregulares, não é mais aceitável que estados pobres, caso do Acre, vivam ano após ano festejando o Reino de Momo, com o “esplendor” de sempre, sob os auspícios do erário público. Especialmente, porque 2013 vai exigir de cada um de nós, gente brasileira, porção dobrada de sacrifício para gran-jear o pão nosso de cada dia.

Em longo dos anos, sempre lamentei que fossem empregados recursos consideráveis para o usufruto de três dias de folia, enquanto milhares de famílias de dezenas de municípios brasileiros vivam, eternamente, a agonia de conviver com todo tipo de mazelas sociais, produto da ausência de políticas públicas, especialmente, no campo da infraestrutura. Aqui em Rio Branco, é do conhecimento geral, existem bairros que não dispõem de água encanada, esgoto sanitário, luz elétrica e que sobrevivem mal e “porcamente”. Não é à toa, que essas famílias são o foco principal da tal de dengue.

É nesse clima nacional de “n” desigualdades que milhares de brasileiros, entorpecidos pela embriaguez dionisíaca, querem curtir, bancadas pelo erário público, o reino de Momo, e só parar depois da quarta-feira, ingrata, de cinza. Insinuam que “nem só de pão vive o homem” que é preciso, uma vez ou outra, um pouco de circo. Acontece que este país é um circo só. O Brasil é um país brincalhão. Vivemos de farras e, quando muito, da cultura de entretenimento apelativa.  

Batido o martelo, o dinheiro que supostamente seria gasto, pelo poder público, com o carnaval que está aí, pode ser destinado para auxílio às vítimas dos estragos feitos pelas constantes chuvas e enchentes que castigam a capital acreana.

Outro investimento que o Estado faz, em função do carnaval, que precisa ser bem avaliado pelos gover-nantes, é o da distribuição gratuita de camisinhas em épocas mo-mescas. É admissível que o governo faça veicular propaganda ins-titucional sobre os cuidados que o folião deve tomar, neste carnaval, fazendo uso da camisinha. Contudo, não na mesma proporção dos anos anteriores, quando o governo através do Ministério da Saúde fez crescer o já gigantesco empreendimento de produção de camisinhas e, numa só semana, distribuiu, por este Brasil afora, 10 milhões de exemplares do produto. Aqui no Acre teve um carnaval em que foram distribuídas 60 mil “camisinhas” com o fim de “prevenir” a AIDS que se tornou um, dentre outros, componente grave dos desastres que afligem o mundo.

Pelo menos neste item parece que economizamos alguns trocados, talvez até pelo descaso de muitos, pois o que se escuta por aí é que especialmente os jovens não estão mais ligando para o uso da tal camisinha. Estou entre aqueles que pensam, sem radicalizar, que quem quiser transar com segurança que compre a sua própria “camisinha”. Afinal, o folião tem cacife para pagar ingressos nos clubes, comprar a sua cerveja; comumente vai à folia todo paramentado; alguns têm grana para comprar drogas.  Mas, a camisinha, não! Esta tem que vir dos combalidos cofres da união. No fim, diz o contribuinte fiel, a conta sobra sempre para quem está na base da pirâmide social.

Estou entre aqueles que creem que a sociedade, da qual faz parte toda coletividade, tem parcela de culpa no grande tributo da desgraça social em que estão metidos milhares de famílias, constituídas de pais desempregados e filhos, na maioria crianças e adolescentes, prostituídas por toda sorte de perversões.

Assim, para que o Governo do Estado logre êxito nesta jornada difícil de diminuir as diferenças sociais, visíveis entre nós, e continue tomando medidas reparadoras, como essa de não mais subsidiar despesas em prol do carnaval deste ano, mesmo sendo taxado de anticultural e outros adjetivos não publicáveis, é imperativo que a sociedade, apesar de sua “miopia utilitarista” contribua decisivamente, o que não significa tão somente pagar impostos, tornando o Estado responsável no cumprimento do seu dever, pois nenhum Estado foi suficientemente capaz de solucionar coisa alguma, no campo social, sem o decisivo apoio da sociedade.

E-mail:assisprof@yahoo.com.br

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