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Pressuposto ético de Bento XVI

O Papa Bento XVI, em seu breve ministério petrino, foi intransigente quando se tratou de permitir uma participação relevante na hierarquia da Igreja Católica, por exemplo, das mulheres, dos divorciados, dos homossexuais; somados a decisão polemica no que diz respeito à distribuição de camisinhas, pressupostos éticos cada vez mais difícil de sustentar, em tempos de Aids e sexo rotineiro. Tempos em que a religião e a fé genuína estão em declínio; só 7% da população na França, por exemplo, se interessam pela “busca da espiritualidade”. Na Alemanha, e porque não dizer no resto do mundo, a prostituição ganha respeitabilidade. Naquele País 62% da população acham que a prostituição deve ser reconhecida como qualquer outra profissão. A Sífilis, doença sexualmente transmissível está de volta, daí é um pulo para o surto epidêmico da Aids.

O suíço Hans Kung, teólogo católico liberal, estimulador do tema – a relação entre religiões e ética mundial – em dias idos, apregoava que o Papa Bento XVI pretendia pregar princípios éticos comuns a todas as religiões. Esse pressuposto ético, de não fazer ao outro aquilo que não quer que lhe faça, seria comum a todas as religiões. Há ainda outros princípios éticos, sendo o principal não matar. Essa ética serve tanto para as guerras convencionais, como para as mortes através do aborto e, também para as guerras nas favelas do Rio de Janeiro ou para a periferia de Berlim.  Nesse principio ético, desculpem a redundância, estão elencados: não mentir; não roubar e; não abusar da sexualidade.

Pode até ser, que tais diretrizes éticas, advindas do Papa da renuncia, sejam utópicas, uma vez que o mundo está permeado duma cultura concretizada nas guerras, nos crimes, na opressão social e na conduta autodestrutiva. Contudo, Hans Kung estava convencido de que seria possível se construir uma ética a partir dos valores morais compartilhadas pelas grandes religiões do mundo e aceitas pela razão secular.

Tornou-se óbvia, pela renúncia do Papa, que uma reação na busca de uma ética mundial, não é tarefa simplória, pois que sabemos não ser empreitada pequena reverter este quadro de alienação ética, em que a igreja cristã está metida. É mais cômodo para alguns grupos, especialmente grupos que compõe as igrejas eletrônicas, espoliar de todas as formas, em nome de Jesus, o que resta da economia do povo sofrido, do que estabelecer princípios éticos, que venham minimizar as diferenças gritantes porque passa a sociedade como um todo.

Os pressupostos éticos que o Papa ainda deseja para sua igreja despontaram nos duros discursos, ditos ao mundo, como o que fez em uma mensagem por ocasião do 15º Congresso Eucarístico Internacional, em Dublin, citando concretamente os casos de pedofilia registrados na Igreja irlandesa, enfatizando que a “gratidão e a alegria da história tão grande de fé” dos irlandeses “se viu recentemente abalada de uma maneira terrível com a revelação dos pecados cometidos por padres e pessoas consagradas contra gente sob seus cuidados”. Que os religiosos pedófilos “solapam a credibilidade da mensagem da igreja”, quebrando “de maneira terrível” a fé dos fiéis. Tal mensagem animou e confortou a maioria dos cristãos nos qua-drantes da terra. Alento que deu a todos cristãos professos, um fio de esperança para suportar, hoje, um mundo que vive numa escala, nunca antes conhecida na História, de brutalidade, ganância, bestialidade e instinto criminoso, provavelmente oriundo dos pró-prios demônios que imperam nos lugares eminentes da terra.

Por outro lado, esses discursos que para muitos se resumem em moralismo, esbarram nos difíceis problemas da modernidade, da tradição ou das diferentes acepções da palavra liberdade. Vida moderna ou pós-moderna abonada por uma “liberdade” que é confundida com libertinagem, escrava de modas e das comodidades disponíveis e efêmeras.  

É nessa máxima extraído de um antigo Concílio do Vaticano, que muitos “fiéis” se estribam para dizer que a palavra “livre” no texto, significa: “Os homens devem estar livres de coações, tanto da parte dos homens como da parte de qualquer poder humano”. Livres de quaisquer constrangimentos!

Digno de menção é o editorial da Folha de São Paulo de 13.02.13, do qual extraio um parágrafo: Premido que tenha sido por limitações de saúde, por escândalos no recesso do Vaticano ou pela incontrolável torrente de denúncias de abuso sexual pelo clero, a desistência de Bento 16 soará a não poucos fiéis como admissão de incapacidade para liderar a igreja diante de seus enormes desafios.

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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