A falta de uma legislação para medicamentos de uso veterinário igual a que existe para humanos poderá em breve causar a morte de novos jovens como o garoto Jonas da Silva Lopes. O alerta é do médico veterinário Pedro Gama da Mota. O garoto de 15 anos, que morreu por envenenamento, no último dia 20, depois de sete dias na UTI do Pronto Socorro de Rio Branco, foi vítima do descontrole do Ministério da Agricultura sobre a medicação animal, no entendimento do médico.
Outros três, de um grupo de sete garotos, continuam internados.
Estima-se que três jovens em Rio Branco procuram dia-riamente lojas de agropecuária, em busca de algum produto que lhes possam trazer a sensação – falsa por sinal – de que vão ganhar músculos e corpo bem torneado. Androgenol e ADE (a abreviatura para vitiminas A, D e E) são os mais procurados.
“Enquanto o primeiro contém testosterona sintética, o ADE contém vitamina superdimensionada pra humanos”, explica Mota. Isso significa que o polivitamínico usado em animais tem concentração de 20 milhões de unidade por litro, ao passo que o mesmo composto, se aplicado em cães, por exemplo, a 300 mil unidades por litro é o suficiente para matar.
“Vejamos então, o quanto o organismo humano não é agredido quando recebe uma dose cavalar de ADE”, pontua o médico.
Duas coisas são muito certas neste caminho só de ida: se não se morre por infecção generalizada, os produtos vão causar algum tipo de lesão em dez ou doze anos. A mais comum é a impotência sexual. A lógica é simples: a testosterona é um hormônio masculino produzido por células localizadas nos testículos. Quando derramado forçosamente no organismo, os órgãos o param de fabricar.
“O resultado é que para um jovem de 15 ou 16 anos, danos ao sistema reprodutivo virão aos 35 ou 40 anos”.
Se não bastasse essa condição, como as células musculares se enchem de água – e não propriamente músculos como muitos jovens creem -, eles vão murchar uma hora e os danos então passam a ser nos rins. “O sistema renal ficará comprometido com risco alto de óbito”.
O médico afirma que o aspecto geral de jovens que fazem uso de ‘bombas’, como são popularmente chamadas essas drogas, é o de corpo roliço com cintura muito fina acompanhada por pernas delgadas. “Eles assumem a mesma aparência de um cão pitbull”, compara Pedro da Mota.
Legislação é falha
O médico culpa a falta de uma fiscalização intensa por meio dos conselhos de medicina veterinária e do Ministério da Agricultura para que o comércio de produtos veterinários seja livre.
Não é preciso receituário, por exemplo, para comprar antibióticos que combata a pneumonia canina, embora o composto seja o mesmo para humanos, cuja restrição é severa.
“Deixando um pouco o assunto, imaginemos que alguém tenha um cão a bactéria da pneumonia e compre um medicamento sem prescrição para combater a doença. Ela administra mal o remédio e a bactéria vai se fortificar, podendo ser transmitida com mais intensidade para humanos”, explica o profissional. Por quê? Porque se obteve anti-biótico sem receituário.
Para Pedro Mota, a responsabilidade não é do proprietário dos estabelecimentos, mas “é institucional”.
A reportagem de A GAZETA esteve numa loja agropecuária, na manhã de ontem, demonstrando interesse em comprar o ADE. O balconista prontamente atendeu, se dispondo a vender o complexo vitamínico.
“É preciso estabelecer receituários também para uso animal, pois do contrário, com toda a certeza esse garotinho que morreu semana passada não será o único aqui no Acre, infelizmente”, lamenta.