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Papa Francisco: opção pelos pobres

A escolha do cardeal argentino Mário Jorge Bergoglio, agora Papa Francisco,  reconhecido por ser um intenso defensor da ajuda aos pobres, fato que na condição de prelado se tornou notório por apoiar programas sociais e desafiar publicamente políticas de livre mercado, torna óbvia que a opção pelos pobres, deve ser uma das notas preferenciais da atual  Igreja Católica, no mesmo nível daquelas que antigamente definíamos como vinculada, santa e apostólica.

O novo Papa movido, provavelmente pela vida do santo Francisco de Assis, um pobre entre os pobres, iluminado pela leitura dos evangelhos que mostram claramente que Deus fez com que seu filho Jesus nascesse num contexto de pobreza total e vivesse em condições humilhantes, para as condições de vida moderna, quem sabe queira dizer ao mundo católico que na prática, qualquer igreja que se diz cristã e negue que essa opção não é parte constitutiva de sua missão, seria herética, por estar falsificando um dado intrínseco de sua própria essência.

O sentido da missão do novo Papa em afinidade com os pobres deve espelhar-se em Jesus Cristo. A escolha de Jesus Cristo pelo pobre, e o método que usou foram inaceitáveis para seus contemporâneos legalistas e, lamentavelmente, parece que ainda é, hoje, para alguns líderes de igrejas modernas. Igrejas, pelo que se pode observar in loco, por suas ostentações terrenas, que não tem o perfil dos que vivem em pobreza, não tem a cara das vítimas da sociedade e, nem de longe se parecem com os abandonados e explorados pelos poderosos.

Com Francisco, a Igreja Católica retoma a participação dos cristãos no comprometimento coletivo pelos grandes problemas históricos e so-ciais da humanidade. Contudo este empenho impõe-se pela exigência do amor, pois ninguém duvida que amor seja elemento essencial da vida cristã. A fé sem as obras de amor ao próximo é morta. O próximo aqui, diria Dom Tepe, não pode ser visto apenas numa relação interpessoal, mas na dimensão ampla das estruturas e dos sistemas. É preciso um esforço gigantesco de não atingir apenas os sintomas, mas suas raízes envenenadas que produzem sofrimento e marginalização de grandes contingentes de pessoas, verdadeira discriminação de setores completos da sociedade.

Alguém tem dito que a pobreza é uma conjuntura econômica na qual as pessoas são incapazes de obter (e de possuir) os meios de sustento, por seus esforços, evitando assim passar necessidade. São os criticamente empobrecidos, que dependem inteiramente de outras pessoas, para sua simples sobrevivência. Nesta classe a mortalidade infantil é extremamente  alta, e a expectação da duração  de vida, entre os adultos, é muito baixa. Assim sendo, em sentido bem real, tais pessoas não estão nem ao menos sobrevivendo. Estão “sobrevivendo” em condições econômicas desesperadoras, como é o exemplo das crianças abandonadas, ou mesmo adultos que vivem e mendigam pelas ruas das grandes cidades. Ou ainda inúmeras famílias que “moram” debaixo de pontes, invadem edifícios e cujo nível de vida assemelha-se aos animais irracionais.

 No contexto de América Latina, afinal o novo Papa é latino, onde uma de cada três crianças tem fome, é oportuno o discurso do pai da teologia da libertação Gustavo Gutiérrez: “Descobri que pobreza era uma coisa destrutiva, algo a ser resistido e destruído, não meramente algo que era o objeto da nossa caridade (amor). Em segundo lugar, descobri que a pobreza não era acidental. O fato de que estas pessoas estão pobres e não ricas não é meramente questão de escolha, mas, sim, o resultado de uma estrutura. Em terceiro lugar, descobri que a pobreza era coisa contra a qual se deve lutar que a pobreza era estrutural, e que os pobres era uma classe, ficou claro como cristal que, a fim de servir aos pobres, era necessário entrar na ação política…”

Igualmente adequado, é o pensamento do teólogo Leonardo Boff ao dizer: “Sinceramente, creio que a opção da igreja pelo pobre, significa a mais importante transformação teológico-pastoral acontecida desde a Reforma protestante do século XVI. Com ela se define um novo lugar histórico-social a partir do qual a igreja deseja estar presente na sociedade e constituir-se a si mesma, a saber, no meio dos pobres, os novos sujeitos da história”.

A igreja não é um simples organismo, voltada para o “lado espiritual”, a adoração, o ensino e a pregação. Ela é, também, uma organização e faz parte dum contexto religioso que se tornou em fator político. A igreja mobiliza milhões de pessoas e deve fazer parte da solução e não, procurar uma saída da responsabilidade usando artifícios teológicos, ou lançando sobre o Pode Público a carga total da solução que envolve o homem e suas mazelas. Só assim, os nossos irmãos em pobreza extrema poderão almejar melhores dias.

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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