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Reparos na Igreja Católica

O Papa Emérito Joseph Ratzinger Bento XVI, numa de suas últimas falas públicas, antes de se autocondenar ao ostracismo no Mater Ecclesiae, mosteiro de freiras enclausuradas, onde viverá até morrer, pediu à igreja que promova reformas ou faça reparação em algumas de suas diretrizes, uma vez que já  não basta mais à igreja, como queria o agora canonizado Santo Papa João Paulo II, pedir que os fiéis católicos que almejam se iniciar na vocação de sacerdote ou a leigos consagrados de qualquer ordem sejam apenas submetidos a teste de masculinidade. Claro que não se pode pedir que a igreja atenda reivindicações  exacerbadas advindas duma plêiade de homossexuais e pedófilos que lutam para permanecer à frente dos ofícios sacramentais. Essas esta-pafúrdias reivindicações são crias das repercussões culturais que começou e se alargou com ironias intermináveis do tipo: “Deus está morto” ou  “O século XXI e seu desenvolvimento, já é grande em demasia para a tutela da fé”. Não, não é isso!

Sabe-se, contudo que há agudos segmentos da igreja que buscam, quase desesperadamente, romper os “grilhões” da religiosidade medieval. Homens e mulheres cristãs que querem afinal liberar-se dos dogmas medievais e dos mitos orientais. Querem despojar-se dessa teologia atordoadora e aterrorizante, querem liberdade para duvidar, para perguntar, para pensar, para reunir conhecimentos e distribuí-los.  Esses fiéis não querem tão somente discutir, como se faz hoje abertamente, os problemas políticos, econômicos, éticos e culturais, sem poder apelar em ocasião alguma à autoridade divina ou eclesiástica. Querem também liberdade para construir uma nova “religião” em volta do altar da razão e a serviço da humanidade. Querem, apesar da fraqueza dos homens, honrar a boa instituição igreja. Afinal de contas, a igreja e seus devotos são ainda, considerados uma comunidade que prega caridade, harmonia e paz.

Os reparos se fazem necessários, especialmente por causa dos escândalos, nos últimos 50 anos, em que pelo menos dez mil casos de abusos sexuais contra crianças, adolescentes e jovens, atribuídos ao clero aconteceram. Fato escabroso que a  Igreja Católica, por motivos ignorados, fechou os olhos, ao longo dos anos. Esses escândalos atingiram diversos países além do Brasil.  Só a Igreja Católica de Boston (EUA), sofreu 450 processos impetrados por advogados de supostas vítimas de abusos sexuais por parte de padres. E, o que é pior, os altos escalões da arquidiocese, incluindo seu responsável, o cardeal Bernard Law, tinha conhecimento de alguns casos de abusos de crianças cometidos por padres da cidade e não tomou medidas para impedir que continuassem em contato com crianças. A propósito, o cardeal Bernard Law, em função do escarcéu, á época, entrou com pedido de renuncia do posto de arcebispo de Boston, no que foi prontamente atendido pelo falecido Papa João Paulo II.

 Ademais, os reparos no seio da igreja são necessários, sobretudo porque, as pesquisas revelam que 90% dos católicos consideram que a imagem da igreja está abalada por causa dos contínuos escândalos de assédio e manipulação emocional e sexual de crianças, protagonizados por falsos guias espirituais, infiltrados no coração da igreja.

Escândalos que obrigou o Vaticano, constrangido pelas circunstâncias, a tomar medidas rígidas, na década passada, para punir padres católicos responsáveis por abusos se-xuais contra crianças. Com essa postura o Vaticano tentou mi-nimizar a pressão que o mundo, via mídia, cobrava do então Papa que, no inicio de seu pontificado, fez uma “caça às bruxas” destronando a grei dos pedófilos contumazes, enrus-tidos nos bastidores da igreja. O ideal seria reavaliar a questão do celibato. Os estragos no campo da perversão sexual seriam, com toda certeza, mi-nimizados.

A hora é oportuna. Chegou o momento de uma nova reforma mais saudável até do que a promovida pelo papa idoso João XXIII que  convocou o II Concilio Vaticano (1962-1965) e revolucionou a Igreja Católica Romana. Os progressistas da época interpretaram as mudanças como um vento refrescante do Espírito Santo. Na prática o Vaticano II abriu “as janelas” da igreja, sobretudo no ensino e estudo da Bíblia. A Bíblia assumiu um novo papel e valor como fonte e padrão definitivo da verdade.

Entretanto existem dois entraves: O primeiro é que ainda há entre os que disputam o papado, tradicionalistas linha dura que enxergam qualquer mudança no seio da igreja como vento forte de modernismo. O Segundo, e grande obstáculo, é que a igreja cristã, que não consegue passar uma semana sem dinheiro, precisa de séculos para promover uma simples reforma eclesiástica.

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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