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Vidas negadas!

Os terríveis assassinatos acontecidos aqui em Rio Branco, antes de ontem um jovem de 19 anos foi fuzilado com tiro de escopeta e ontem uma jovem de 15 foi vilmente esfaqueada pelo seu algoz, nos remete para uma realidade paradoxal: o mundo e seus principais personagens não celebram a vida. Há não somente uma crescente falta de respeito pela vida, mas uma aversão à vida, em outras palavras: uma negação da vida!  Já faz tempo que ouvimos declarações oriundas de psicólogos, filósofos, teólogos, educadores, cientistas sociais e magos da mídia, dessa verdade insofismável.  Vive-se, é óbvio olulante, a cultura da morte. No mundo do crime, os senhores do narcotráfico mandam matar famílias inteiras. Eles camuflam no sentido figurado, seus crimes com expressões como “apagar”, “silenciar”, “queima de arquivo”, ou “executar” as vítimas, que encaram como “encomendas”.

As nações estão em conflitos armados e em guerras constantes. Agora, neste exato momento, é possível que haja algumas guerrilhas em andamento e, nem o mau exemplo histórico, catastrófico, deixados em seu séquito pelas I e II Guerras Mundial serve de alerta. Hoje, até, os “problemas” de caráter conjugal, não se resolvem mais com diálogo, mas na bala ou na faca. A segurança da instituição família, por exempo, é comprada por um alto preço: o homem,  para quem tudo foi inventado como meio, tornou-se um meio ele próprio a serviço dos meios. “Nunca em nenhum momento da história da humanidade” diria o renomado articulista do New York Times, Lula da Silva, os fins justificam os meios, como nos dias atuais.

Essa negação da vida possui multiplas facetas. O fácil acesso público às armas provoca um aterrador e constante aumento na morte de pessoas e de grupos de pessoas. Neste ítem é apavorante saber que qualquer vagabundo, no mau sentido, pode ter acesso p.ex. a uma escopeta. No mundo da diversão, muitos filmes exploram o tema da morte, o crime organizado, minimi-zando assim o valor da vida e dos princípios morais. Filme para ter sucesso de bilheteria, tem que ser o mais violento possível. Quanto mais morte, melhor. Afinal, dizem: “A morte é a musa de nossas religiões, filosofias, ideologias, políticas, artes e tecnologias médicas. Ela vende jornais, apólice de seguro e fortalece enredos de nossos programas de televisão”.

Alguns pensadores imbuídos de otimismo irracional enxergam o problema pelo prisma da incidência de depressão, angústia, vício de drogas, comportamento auto-destrutivo, fanatismo religioso, suicídio e chacinas. Para autoridades religiosas o significado da crise mundial atual contém todos os elementos que constituem um preparativo natural para os fins dos tempos.

Mas enquanto o fim não vem, o fim pode estar a séculos de distância de nós, compete a todos, sem charangas, buscar soluções, no mínimo, plausíveis para esse mal que nos aflige.

Essa negação da vida é tema de abordagem de filosofias do passado, do tipo  idealismo e naturalismo que surgiram como expressões de uma sociedade  ideada para libertação do homem, mas que caiu sob a escravidão de objetos que ela própria criara. Este é o fundo do ataque de Pascal ao predomínio da racionalidade matemática no século XVIII; é o fundo do ataque de Kierkegaard ao predomínio da lógica despersonalizante no pensamento de Hegel. É o fundo da luta de Marx contra a desumanização econômica, da mesma forma é o esforço de Nietzsche em prol da criatividade, igualmente é o combate de Bergson contra o reino espacial de objetos mortos. É o profundo desejo da maioria dos filosófos da vida, de salvar  a vida do  poder destrutivo da autoafirmação do eu, numa situação na qual o “EU” estava cada vez mais perdido em seu mundo. Esses filosófos da vida tentaram indicar um caminho para a coragem de ser como si próprio, debaixo de condições que aniquilam o EU e o substituem pela COISA  (Paul Tillich).

Nietzsche é o representante mais importante e afetivo do que poderia ser chamada uma filosofia da vida. Em seu Zarathustra, assinala os diferentes meios pelos quais a vida é tentada a ceitar sua própria negação: “encontram um inválido, ou um ancião, ou um defunto e dizem de imediato: A vida foi negada!”

Quando autoridades policiais consideram positivo o alto índice de homicídios ocorridos em seus Estados de origem, é porque a coisa é insustentável mesmo. Em Rio Branco para cada caso solucionado pela polícia, surgem mais dez. É essa a proporção do crime em nossa cidade. Não tem para onde correr.

Quanto a mim, simples mortal, enquanto não vislumbro no horizonte medidas reparadoras para essa refutação da vida, peço a Deus, depois de longos anos de luta, pois que já passei dos 63 anos, que não me deixes morrer nas mãos desses  perpetradores de horrores aos cidadãos de bem.

*E-mail: assisprof@yahoo.com.br

Categories: Francisco Assis
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