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Álcool e ônibus: zero!

Concordo com o “Álcool Zero”. É necessário. Não pode um cidadão encher a cara e sair dirigindo por aí, colocando em risco a vida dele e a de terceiros. Sei que é proibido consumir álcool e dirigir. Então, se eu beber uma latinha “piriguete” de cerveja e for ao volante, posso ser pego na blitz. Seria sensato pagar uma multa de quase R$ 2 mil por conta de 269 ml de cerveja? Pela Lei Seca, sim. E toda lei é coercitiva e intransigente.

E deveria ser, principalmente, para aqueles que bebem e dirigem seus carros em alta velocidade nos rachas, que se metem a fazer malabarismos sobre duas ou quatro rodas, cantando pneus, dando cavalos de pau e matando pessoas. Aliás, mesmo com o “Álcool Zero”, muitas dessas aberrações ainda estão soltas e motorizadas perigosamente pelas ruas. Isso precisa acabar definitivamente, ou melhor, zerar, já que a tolerância ao álcool no trânsito é zero para todos.

Ocorre que há quem não aceite essa nova cultura e continue insistindo em dirigir embriagado. Verificamos nos noticiários da TV situações cômicas de pessoas que são flagradas dirigindo sob o efeito do álcool. Um cidadão, por exemplo, parado pela polícia, ao invés de soprar o bafômetro, pensou tratar-se de um copo e tentou bebê-lo. Por outro lado, o que prevalece, de fato, é o aspecto trágico dos acidentes de trânsito provocados por motoristas bêbados. Basta dar uma olhada nas páginas policiais dos nossos jornais e vê-las manchadas do sangue de vítimas da irresponsabilidade daqueles que não tem a consciência de que álcool e direção matam.

Mas será que o Estado, apenas com as blitzen do “Álcool Zero”, está cumprindo o seu papel? Será que, com isso, isenta-se da responsabilidade de dispor ao cidadão outros direitos, como o direito de um transporte público de qualidade? Creio que não. Eu, por exemplo, se preciso me transportar até o boteco, beber seja qualquer quantidade alcoólica, vou de ônibus. Isso, por si só, seria ótimo se não implicasse em problemas. Vejamos…

Se for sair à noite, a festa tem hora para acabar. Depois das 23h30 não tem mais transporte coletivo na cidade de Rio Branco. Após esse horário, na volta para casa, que tal pegar um mototáxi? Pode ser, embora com um certo grau de risco e com a sorte de encontrar um na madrugada, a depender da localização. Ir de táxi? Só se tiver dinheiro sobrando, pois custa os olhos da cara (até considerando o preço absurdo da nossa gasolina). Arranjar uma carona? Sim, seria ótimo, com um motorista sóbrio, mas geralmente esse serviço está indisponível.

Para mim, como para outras pessoas, o ônibus é a primeira opção. O jeito é encará-lo para ir a eventos etílicos. O problema é que o nosso transporte coletivo é nota zero, lamentável, precário, de péssima qualidade, além de transportar o ser humano como carga. Nem vou mencionar o estado dilapidado dos ônibus e a falta de respeito com o passageiro: esperar, muitas vezes, mais de uma hora numa parada; sinalizar com a mão e ver o motorista passar direto; quase nunca receber dez centavos de troco; pegar o ônibus lotado e ficar espremido feito gado num calor de 38º…

Concordo com o Estado, que instituiu o “Álcool Zero” para resguardar a segurança do cidadão. No entanto, acho, também, que esse mesmo Estado deva oferecer ao cidadão, para seu trabalho ou para sua diversão (não importa), a alternativa de um transporte público que funcione com um mínimo de dignidade, para transportar pessoas como pessoas, e para fazê-las exercer, decentemente, o seu direito constitucional de ir e vir, sob qualquer hipótese.

* Márcio Chocorosqui

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