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‘Amor’ em USB

Há um fenômeno, que não é de agora, alterando as relações interpessoais. Enquanto você lê estas primeiras linhas, bilhões de informações já foram compartilhadas ao redor do mundo, em telas digitais de celulares, computadores, laptops e outras quinquilharias eletrônicas por meio da internet. Ela se incorporou ao modo de vida do padeiro, do mecânico, da diarista, de nossos tios, vizinhos e de quem mais acessa uma conta de e-mail.

Mas disso tudo, há um fato que merece extrema cautela para que não influencie na sua relação conjugal: a tal ‘revolução sexual’ que a rede propõe.  No Facebook, a rede de relacionamento mais popular no momento, se é pos-sível agendar encontros importantes, oferecer novos produtos, conversar com familiares, conhecer novas pessoas e lugares. Porém, há um número crescente de usuários incentivando paixões e exteriorizando desejos que jamais seriam confidenciados de outro modo, em tão pouco tempo. Aí está o perigo.

É fato que as pessoas nunca deixaram de se relacionar presencialmente, mas estão avalizando muito mais novos encontros reais, no virtual. É o que alguns sites de relacionamentos chamam de encontros casuais, para disfarçar o peso da palavra adultério. Sites como o C-date chegam a promover pesquisas sobre qual melhor período do ano para sexo casual.
Os ‘emoticons’, dispositivos que quando clicados exibem carinhas amarelas que podem ser de choro, de desaprovação, de vergonha ou timidez são usados como se o usuário estivesse num bom papo, enquanto toma sorvetes na praça com o flerte. Isso não muda o objetivo real (e já previsível), o de ir para os ‘final-mentes’ (sic).

Num tempo em que os relacionamentos estão cada vez mais fragi-lizados, são muitas as pessoas queimando etapas. Recentemente, uma revista abordou o assunto, estampando na capa dois ursinhos: um macho segurando um cabo de conexão e a fêmea com uma entrada de USB. A imagem sugere o sexo banalizado na internet.  

Numa análise real, o USB tem o objetivo de tornar mais fácil a tarefa de conectar aparelhos e dispositivos periféricos a computadores sem a necessidade do modo ‘desligar/reiniciar’. Como não é preciso ‘desligar’ nem ‘reiniciar’, na vida real muitos não precisam desligar seus relacionamentos estáveis em detrimento de um “restart virtual’, que quase sempre descamba para o mundo real. É o ‘Plug and Play’ ou o ‘conecte e rode’.

Neste caso, o “play” tem também o significado de ‘brincar’. Então é como se disséssemos: conecte-se e brinque à vontade, (ou então até onde você puder). Depois elimine a relação, jogando-a na ‘lixeira’. Mas ainda assim, se um dos dois não aceitar o final, bloqueie-o com um antisspam ou clique em “desfazer a amizade”, pressionando no painel ‘configurações’. Simples, não? Nem tanto quando se trata de pessoas. É que elas podem se macular por sentimentos reais não correspondidos no irreal. E aí está de novo o perigo.

Resley Saab é jornalista.
saabresley@gmail.com

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