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Câncer incurável

Vira e mexe e fingimos tolerar algumas aberrações humanas. A morte por uma causa incom-preendida, o assassinato motivado pela raiva, o escárnio pelas minorias em detrimento de sexo, raça ou ideologia. Mas ainda assim, nenhum dessas anteriores se compara ao grau de repulsa que provoca um crime de estupro.

É angustiante olhar para uma criança violentada – como já estive em alguns serviços noticiosos – e perceber uma mancha impregnada na alma dela, que se não permanecerá até o fim de sua vida, perdurará de algum modo por muito tempo como entrave para uma vida plena. Atos animalescos teimarão em permanecer entre nós como nas épocas medievais.

Porém, tão terrível quanto o aumento desses tipos de crime é saber que uma em cada cinco mulheres foi ou será estuprada durante a vida, segundo a Organização Mundial de Saúde. A violência é oculta, o choro é abafado e a dor, em silêncio porque geralmente são causados por quem poderia zelar pela integridade das vítimas, entre eles pais, padrastos, irmãos, namorados, primos, tios, padrinhos e vizinhos.

No Acre, há um aumento no número de abusos sexuais. Em média, 40 novas vítimas de estupro dão entrada por mês na Maternidade Bárbara Heliodora, onde há uma equipe de atendimento a vítimas de crimes sexuais. É mais de um estupro por dia, segundo a psicóloga Luana Lyra, que é da unidade, tendo como maiores vítimas mulheres entre 11 e 19 anos.

O recrudescimento dos casos de estupros no Acre parece ocorrer na proporção inversa com que as mulheres se cuidam ao caminhar sozinhas. Os estudos de comportamento já provaram que o estuprador não necessariamente comete suas barbaridades contra mulheres que, eventualmente, estariam provocando sua libido.

Em mulheres adultas, por exemplo, se sabe que muitas das vítimas não estavam usando nenhuma vestimenta especial quando foram atacadas. A maioria dos ataques acontece ao amanhecer ou ao entardecer, quando elas estão a caminho do trabalho ou retornando dele ou mesmo da escola. Este era o modus operandi de indivíduos como um mecânico de automóveis que confessou ter abusado de mais de dez mulheres, recentemente, no Parque do Tucumã.

Mas se é impossível extirpar esse câncer, eis recomendações para evitá-lo. Caso acredite que está sendo seguida ou esteja na companhia de alguém suspeito procure olhar essa pessoa nos olhos e faça alguma pergunta direta do tipo “que horas são?”. Estupradores têm medo de ser identificados e estabelecer contato visual direto aumenta suas chances de escapar.
Se estiver andando e alguém pular na sua frente, grite. Lembre-se que eles procuram alvos fáceis, e uma postura combativa e enérgica muitas vezes pode afastá-los. Confie em seus instintos e esteja alerta o tempo inteiro. Para os pais, é preciso estar atentos, não deixando suas crianças sozinhas nunca.

Resley Saab é jornalista.
saabresley@gmail.com

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