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Ideologias do status quo

Ideologia, junção de ideia, do grego eidos, e logos, discurso, raciocínio etc., é  palavra contemporânea da Revolução Francesa, foi criada, dizem as boas Enciclopédias de Filosofia, por um tal de Antoine Destutt de Tracy (1754-1836) para designar uma disciplina filosófica que deveria ser à base de todas as demais ciências. Em sentido positivo, ideologia significa qualquer sistema de ideias e normas que orienta a maneira de pensar e de agir das pessoas. Aponta para ideias e maneira de refletir que caracterizam um grupo particular, bem como os ideais que guiam a conduta desse grupo.

 Karl Mannheim usava o termo “ideologia” para aludir a algum conjunto de crenças onde aparece uma diferença entre motivos anunciados e motivos subjacentes. Uma ideologia total, dizia Mannheim, e aquela que tem sua origem nas condições sociais.
Marx, que quando exilado em Paris (1844-45), copiou parte dos Elementos de Ideologia de Destutt, sabia  que a palavra ideo-logia, após designar a ciência das ideias, passara a ter  conotação pejorativa, assim tratou de eximir seu materialismo dialético, hoje conhecido como marxismo – ciência da realidade social e pensamento para a ação – dentre a designação geral de ideologia.

 Para Marx e Engels, além de representar “uma mentira coletiva mais ou menos involuntária”, ideologia, na condição de pecha, servia para alcunhar e divulgar ideias políticas, religiosas, jurídicas, filosóficas, criações artística,  econômicas e, até, éticas, com as quais eles não concordavam, atribuindo a todos esses domínios do pensamento  erros e distorções. O termo, pois, foi usado em sentido depreciativo para indicar todos os sistemas, menos o sistema comunista. Em sua altivez, eles consideravam que o sistema marxista não continha erros e nem deformidades,  pelo que o sistema deles não seria uma ideologia. Estudiosos atribuem uma grande contradição nessa afirmação, pois que mais na frente, nos escritos de Marx e Engels, o termo “ideologia” aparece em sentido generalizado, especialmente no tocante a questões sobre o materialismo e as suas condições, sobretudo as condições econômicas.

 O certo é que nem fé, nem política, por modelo, teriam sobrevivido sem as ideologias. Negar essa realidade é no mínimo desfaçatez de uns e outros. A fé, por exemplo, sem ideologias é uma fé morta, ou seja: é incapaz da encarnação na história, é, portanto totalmente impraticável. Essa é a realidade, pelo menos, da teologia praticada pelos católicos latino-americanos. O seguimento da fé cristã dita ortodoxa, que tanto odiava o hoje combalido comunismo, viu a igreja cristã, nas últimas três décadas, por contraste, crescer em cima da ideologia de libertação marxista. Mesmos os neopentecostais, que tanto crescem, são destituí-dos de racionali dade em nome da “transformação agora”.

 No Brasil, apesar da euforia de muitos ativistas religiosos, este modelo tende a fracassar por dois aspectos: Primeiro porque as igrejas brasileiras que se pretendem cristãs, notadamente, as neopente-costais, possuem donos. São instituições particulares, cujos líderes optaram, deliberadamente, fazer alianças com as ideologias do status quo. O status quo está relacionado a uma situação que envolve fatos, situações, coisas, etc. A situação é tão crítica que nos leva a pensar se Cristo teria lugar nessa sociedade “cristã” contemporânea.

  Segundo, porque, essa mesma “liderança” se desviou do foco central da missão espiritual e social da igreja. Uma prova cabal do que afirmo é o envol-vimento de pseudos líderes cristãos com a política partidária, oferecendo o “rebanho” como barganha para auferir vantagens pessoais. É a política do: “é dando que se recebe!”

 Dia desses Samuel Escobar, um dos mais respeitáveis teólogos da atualidade, conceituado mis-siólogo e estudioso  dos desafios da Igreja na América Latina fez a seguinte assertiva: “Se perguntarmos a alguns líderes evangélicos por que estão na política, eles não saberão responder”.

 Ainda assim, sem saber por que querem cargos políticos, quase todas igrejas, especialmente, as pentecostais resolveram inserir nas casas legislativas seus representantes. É o triunfo do pragmatismo, no seu lado mais cruel.   

*E-mail: assisprof@yahoo.com.br“>assisprof@yahoo.com.br

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