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Matutando sobre as nossas ações!

 Outro dia, num encontro fortuito dentro dum supermercado da cidade, troquei breves palavras com o professor, doutor em Educação, Álvaro Albuquerque. O objeto central  do nosso bate-papo foi sobre um assunto que se agrava a cada dia nos meios acadêmicos. Trata-se da apatia, quase generalizada, dos jovens estudantes que permeiam nossas faculdades, centros universitários e, em especial, a Ufac. Não ligam ou se interessam, em sala de aula, para o conteúdo ministrado pelos mestres.  Negam-se a pensar. Essa é a tônica nos quatro cantos do Brasil. Por quê?

 A resposta é simples: Porque vivemos num mundo, que parece construído sobre a recusa de refletir, diria o existencialista Gabriel Marcel. Vivemos num mundo movido pela tecnologia de ponta. Esses avanços tecnológicos fenomenais que  deveriam estar a serviço do homem. Contudo, o que acontece, na realidade, é justamente o contrário. Cada vez mais o homem vai se tornando escravo da técnica, deixando de refletir sobre a sua condição humana, encantando-se com o fascínio das máquinas e esquecendo que o sentido da vida é usufruir o conforto, enriquecer os conhecimentos, desenvolver a sensibilidade estética, cultivar amizades e ser feliz.

 O  homem a cada dia que passa se escraviza em ações que coloca em risco a própria existência humana. É inegável que estamos vivendo perigosamente os limites da irracionalidade, isto é, estamos na contramão da razão. Especialistas dizem que  há uma atitude generalizada de desconfiança quanto à possibilidade da razão humana ser útil no processo da compreensão última da vida. Motivo: A combinação da liberdade de inteligência com o abandono da moral produz este homem de atitudes não racionais.
Immanuel Kant (1724-1804) dizia que a razão ordena ao homem que suas ações sejam pensadas por dever a ela, em vez de serem simplesmente pautadas por suas inclinações perversas. Para Kant, a liberdade é a capacidade de ser governado pela razão. A razão é uma verdadeira faculdade de desejar superior. Quem usa a razão erra pouco. Não sucumbe aos apelos das paixões desvairadas.  

 Na contramão da razão o homem permeia o seu habitat natural com o  mal moral que é o que traz maior desgraça a existência humana. O que se vê é o homem usando e abusando do reino natural dos minerais, da flora e da fauna. Exploração predatória que só visam os lucros para se gastar com o desnecessário.      

 Por causa dessa crueldade desumana, a relação entre os homens está seriamente comprometida; a convivência nos centros urbanos, principalmente, tornou-se um caos, uma  desordem social que tende a se agravar; não temos princípios, nossos valores são decadentes, “aniquila-se o homem e a mulher, destrói-se o idoso e a criança”. As estatísticas estão aí para comprovar, infelizmente, o que afirmo. Aí estão as guerras convencionais entre as nações, bem como as guerras particulares entre os indivíduos. Os homens podem e devem fazer o bem; ouvir a voz da razão, mas preferem fazer o mal.

 Alguém tem dito que o ser humano em sua dimensão de pluralidade é um ser-com-os-outros e para-os-outros, a isto chamamos de convivência social. Este convívio, desgraçadamente, por causa dessa ausência de razoabilidade do homem, provoca, inevitavelmente, confrontos e disputas, onde o mais forte e o mais esperto são beneficiados, provocando situações injustas.

 O homem atual deixou, em sua maioria, de ser consciente de si e dos outros. Não tem capacidade de reflexão e de reconhecer a existência do próximo como sujeito ético igual a ele. Perdemos a consciência moral, trocamos a verdade pela mentira. Podemos dizer a verdade, contudo preferimos a mentira, é assim aqui, ali ou em qualquer outro lugar nos quadrantes da terra.

 Ao deixar de pensar nas nossas ações, banalizamos o crime de estupro e o assassinato de mulheres indefesas. Vulgarizamos e até contamos piadas sobre as improbi-dades do executivo, do legislativo e do judiciário (este em menor escala). Aceitamos passivamente a cultura da morte e a cultura da droga. Não nos perguntamos os porquês de não haver solução para o problema da gravidez e por extensão do aborto na adolescência, problemas humanos insolúveis que não conseguem sair do campo das soluções teóricas.

 Como deixar de pensar na neurose massiva do tempo presente que leva o homem ao vazio existencial, ou nas minorias étnicas discriminadas, ou ainda no capitalismo ufano que põe à mostra seu lado mais desprezível, o de usurpar o labor do homem humilde.

 Devemos refletir nossos atos, porque  alguém que pensa, é uma pessoa que duvida que concebe, que afirma, que quer, que não quer, que imagina e que sente. Só assim podemos sair dessa condição desumana, produto de tradições de pensamento onde a faculdade crítica foi adormecida e o julgamento abandonado, tendo como consequência uma sociedade completamente dominada por aqueles que determinam o que é bom ou mau, certo ou errado, justo ou injusto.

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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