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Momento histórico!

É indubitável que os “protestos” ou  “ manifestos”  públicos da gente brasileira, indo às ruas das principais cidades e capitais do país, reprovada a participação de uns poucos baderneiros, nos leva a dizer sem sofismas que vivemos um momento histórico.

O movimento, tendo à frente a juventude, levou às ruas a insatisfação geral, acumulada por quase uma década, da crise financeira, crise de credibilidade, crise de autoridade moral. A crise  é de todo o sistema, o que coloca em questão a própria condição republicana  do país, já que a rea-lidade atual, sem ser camuflada, olhada de frente, seja ela política, social ou econômica é desa-lentadora e indesculpável em  relação às normas jurídicas e morais. Por extensão, é uma realidade desumana, em todos os seus aspectos. Fatos, notadamente a violência urbana, com conse-quencias drásticas que ocorrem no presente momento, em todas as instâncias ou segmentos da vida social, mesmomascarados pelo sistema dominante, por mais otimistas que sejamos, estão deixando seqüelas brutais, já que estão longe de serem extirpados da vida nossa de cada dia.

A manifestação inesperada, além de uma resposta ao sistema dominante, é um aviso de que estamos cansados de utopias governamentais. Mostra que a sociedade, do tempo presente, não quer mais conviver com a morte brutal de seus semelhantes; fazer ouvido de mercador aos reclamos da gente sofrida;  fechar os olhos aos escândalos de extravio do erário público; admitir a  banalização dos latrocínios diários, como se essa realidade fizesse parte do contexto moderno.

A manifestação é a reação dos desiludidos, é o levante daqueles que até um dia desses temia o futuro, por conta do desmoronamento dos ideais republicanos. O Brasil das ruas representa outras milhares de pessoas  desiludidas, que diariamente recorrem aos balcões de reclamação dos programas apelativos de Tv.Brasileiros, homens e mulheres, jovens e adultos, que, ano após ano, lutam heroicamente com  suas famílias, na busca do pão nosso de cada dia, sem serem devidamente remunerados pelo labor diário. É a nação brasileira debaixo da influência da miséria, da pobreza e da marginalização que atinge setores imensos da população, que tem todo o direito de ficar com raiva dos que estão no poder.  Essa reação expõe igualmente a vergonha pelo quadro de desprezo que o legislativo brasileiro (poder parlamentar representativo do povo) tem pela gente em geral, pois que foram criados constitucionalmente para legislar, fazer leis, em favor do povo, mas que vivem a legislar em causa própria.

O Brasil fenomeno dos “protestos” trouxe à tona o pensamento político de figuras expressivas da vida pública brasileira: FHC, disse que o movimento é puramente social, e  não cabe a inserção de “oportunistas”. “Quem meter a cara, vai perder!” O filósofo José Arthur Giannotti, foi incisivo: “O projeto de governo do PT acabou. O povo cansou de ver essa troca de favores entre PT e PMDB”.

 O movimento histórico, longe de  arrastar o Brasil  para uma convulsão social, como alguns segmentos do poder apregoam, deixou os comandantes da República  em situação vexatória. O  Estado, até antes do evento nacional,  fazia ouvido de mercador aos apelos da nação, não dava, sequer, uma resposta convincente para os problemas que afligem toda a gente. A própria Senhora Presidente, teima em dizer que a inflação está sob controle. Em sua glossolalia autoritária, alcunha a imprensa nacional de pessimista e acusa vários setores dosmeios de comunicação de querer engendrar na população o “conto do vigário da inflação”. Ocorre que  a inflação é uma realidade em todos os lugares, nos quadradantes da nação. Está aí, transparente, aberta a todas as pessoas, uma vez que é um fato consumado.

Em dias idos o renomado jurista e cientista político Afonso Arinos (1905-1990) numa de suas famosas conferências sobre o pensamento político e a reconstrução da democracia no Brasil, dizia que não haverá paz e progresso autênticos sem o restabelecimento das normas éticas no trato dos negócios públicos nacionais e internacionais; sem a restauração das liberdades fundamentais cívicas e privadas, do homem e do cidadão; sem a restituição da legalidade aos poderes políticos; sem o bani-mento, tanto quanto possível, da corrupção e da violência nos negócios entre o Estado e o cidadão.

 * Francisco Assis é professor e pesquisador  Bibliográfico.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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