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Tudo pela Copa de 2014

O Governo Federal fez investimentos graúdos na construção de estádios ou “novas arenas” tendo em vista a próxima Copa de 2014.   Estádios como Maracanã, RJ e o Mané Garrincha, DF levaram dos com-balidos cofres públicos a soma astronômica de 2 bilhões de reais.

Digno de nota é o fato de a Presidente Dilma ter dito, na inauguração ou apresentação do estádio Mané  Garrincha, que esta obra é uma resposta aos “pessimistas de plantão”. Bem, sobre o futebol brasileiro, nada tenho a dizer, mesmo porque em nível de seleção estamos hoje, no ranking da FIFA, em 22º lugar; muito menos tenho algo a falar sobre os falidos e mal administrados clubes do futebol brasileiro. Igualmente, não entro no mérito do investimento, afinal somos o país do futebol, vivemos futebol e, tem gente por aí comendo e enricando por conta do futebol.

À luz do meu olhar pessimista, o acintoso por parte do poder público, é que não se assiste na mesma proporção, com a mesma boa vontade, com  investimentos pesados,  em âmbitos cruciais da vida social brasileira, como  p. exemplo:  a educação e a saúde.

Dados estatísticos mostram que mais de 44% das escolas da educação básica brasileiras ainda apresentam uma infraestrutura escolar elementar. A maior parte das escolas brasileiras (84,5%) apresenta uma estrutura elementar ou básica. Isso significa que tem apenas água, banheiro, energia, esgoto, cozinha, sala de diretoria e equipamentos como TV, DVD, computadores e impressora.  Na outra ponta, 0,6% das escolas apresenta uma infraestrutura considerada avançada, com sala de professores, biblioteca, laboratório de informática, quadra esportiva, parque infantil, além de laborató-rios de ciências e dependências adequadas para atender a estudantes com deficiência física.

A conclusão é do estudo dos pesquisadores José Soares Neto, Girlene Ribeiro de Jesus e Camila Akemi Karino, da Universidade de Brasília (UnB), e Dalton Francisco de Andrade, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Uma Escala para Medir a Infraestrutura Escolar. Os pesquisadores utilizam dados do Censo Escolar 2011 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O estudo foi feito com dados de 194.932 escolas, incluindo públicas e privadas, rurais e urbanas.

Os pesquisadores se dizem surpreendidos com os resultados. “Há um percentual alto de escolas que não têm requisitos básicos de in-fraestrutura, como sala de diretoria, sala de professor e biblioteca. Assim, fica transparente a necessidade de políticas públicas que visem a diminuir as discrepâncias e promover condições escolares mínimas para que a aprendizagem possa ocorrer em um ambiente escolar mais favorável”, diz o artigo.

“A criança, quando chega na escola, tem que ter equipamentos, conforto do ambiente para se concentrar, se dedicar aos estudos e ao aprendizado. O professor precisa de equipamento para desenvolver o trabalho dele, assim como a escola”, explica em entrevista à Agência Brasil um dos autores do estudo, José Soares Neto.

“O Brasil está passando por um momento em que é consenso que se deve investir em educação. A pesquisa traz uma perspectiva de como orientar esse investimento para resolver um problema que não é simples”.

Dividindo-se por região, o Nordeste apresenta a maior porcentagem de escolas com estrutura elementar: 71%; e apenas 0,3% com estrutura avançada. A maior porcentagem de escolas com estrutura avançada está na Região Sul: 1,6% – na região, 19,8% das escolas têm estrutura elementar.

Outro dado destacado pelos pesquisadores é a diferença entre as escolas urbanas e rurais. “Enquanto 18,3% das escolas urbanas têm infraestrutura elementar, o oposto ocorre em relação às escolas rurais: 85,2% encontram-se nesta categoria”, diz o estudo.

No quesito saúde pública, à parte da questão médica e da cegueira generalizada da sociedade, gostaria de ver o Governo Federal investir com a mesma tecnologia de ponta, dada ao novo Maracanã, os hospitais da Baixada Fluminense, onde, segundo dados reais, crianças morrem ao receber vaselina ou café no lugar de soro, mulher permanece com um pedaço de faca no corpo por 37 anos, um homem foi operar uma verruga e saiu do hospital operado de vasectomia.

Só posso entender essa decisão do Governo Federal, em investir pesado na construção e reforma de estádios, pelo Brasil a fora, visando à copa de 2014, pela seguinte ótica:  o povo precisa mais de circo do que educação e saúde de qualidade.

Provavelmente algum sapiente do poder vigente, numa paráfrase da célebre expressão atribuída a  Marx: “A religião é o ópio do povo” pretenda mostrar, dada a paixão do brasileiro pelo futebol, que no Brasil o ópio do povo não  é a religião, mas o futebol e, assim, através das alegrias do futebol, amortecer a combatividade dos oprimidos e explorados. Povo, que granjeia o pão nosso de cada dia  com muito suor e sacrifício, em meio aos apertos dos consumos pesados  da luz elétrica, água potável, dos remédios caríssimos,  dos meios de transportes humilhantes que se somam aos implacáveis impostos oficiais. Para não falar da violência angustiante que nos oprime, mais e mais, a cada dia.

 * Francisco Assis é professor e pesquisador  Bibliográfico.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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