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Eu acredito é na rapaziada!

De repente o Brasil e as consciências foram sacudidos por centenas de milhares de jovens. Um movimento que dispensa a análise especializada para ser entendido, mas que gera perplexidade dentro e fora do Brasil.
Afinal, o que querem esses jovens? Por que inundaram as ruas das grandes cidades brasileiras? Que mensagem querem transmitir?

O país não está mais rico. Os dados nos mostram que está até menos desigual. A última pesquisa realizada há menos de 30 dias, apontou a presidenta da República com um percentual de 75% de aceitação popular.
Precisamos ler nas entrelinhas. Enxergar o que está por trás dos cartazes de R$ 0,20. Parafraseando, “estamos mudando o país” é uma das mensagens que saem das ruas. A própria presidenta reconheceu que “esta m ensagem direta das ruas é por mais cidadania, por melhores escolas, hospitais, postos de saúde, por mais participação”.

Arrisco a ir mais longe. Acredito que o grito, antes sufocado, clama por um combate permanente à corrupção, pelo fim dos desvios dos recursos, por uma melhor gestão dos gastos e por mais acesso da sociedade a serviços públicos de qualidade.

Querem o fim da impunidade? Também acredito que sim. Este flagelo só alimenta ainda mais a corrupção que sangra o país em R$ 85 bilhões a cada ano. É dinheiro que deixa de atender as demandas desta mesma sociedade que se cansou e saiu às ruas.

Essa rapaziada que agora toma as principais cidades do país e bota a cara pra bater, incomoda porque alguns se excedem e quebram vidros, depredam ônibus e paralisam o trânsito. Mas, incomodam muito mais porque nos obrigam a olhar para dentro do nosso país. Nos obrigam a olhar para dentro das nossas próprias vidas.

Eles desfazem a confusão entre cidadania e consumo. É verdade que o consumo aumentou, mas isso não é suficiente para um país que já é a sexta economia mundial, que é cada vez mais respeitado pela comunidade internacional e exemplo por suas políticas sociais pioneiras.

No entanto, a prestação dos serviços públicos ainda deixa muito a desejar. E aqueles que saem às ruas, sentem na pele o que é ser alijado do sistema com um tratamento indigno em escolas e hospitais, por exemplo.
Eles não estão contra a Copa do Mundo. Eles acreditaram que os grandes eventos deixariam um legado à sociedade. Acreditaram nas grandes obras de infraestrutura, de mobilidade urbana, na modernização dos sistemas de transportes. Somos reconhecidos por nossa tradição mundial neste esporte. Associá-lo a um país em desenvolvimento que inclui, é promover ainda mais o desenvolvimento que perseguimos, aquele que gera empregos para os nossos jovens, fort alece nossas indústrias e empresas e consolida nossa voz na cena mundial.

Mas, tal qual aconteceu nas manifestações da Copa do Mundo na África do Sul, o povo não aguenta ver os bilhões investidos em obras de estádios, com denúncias de superfaturamento, como no Brasil (inviáveis para a classe trabalhadora assistir aos jogos de ingressos caríssimos), ao mesmo tempo em que saúde, educação e habitação necessitam de investimentos de tamanha urgência.

Esses jovens querem uma democracia mais madura. Foram gestados nos anos de chumbo da ditadura, passaram pelas Diretas-Já e muitos dos seus pais (aí me incluo) foram os cara-pintadas que banharam o país com protestos que resultaram no impeachment de um presidente da República, sem blindados nas ruas ou corpos nas estatísticas.

A juventude antes anestesiada, quer agora ser protagonista de um Brasil para todos.

As ruas estão dado o recado- não aceita o que têm a lhe oferecer e exige ser consultada sobre o que deseja. Querem um Brasil melhor. Nada mais.

Como disse o jornalista Altamiro Borges em artigo recente – “Talvez, de fato, estejamos nos acomodando. Talvez o país precise, de vez em quando, sofrer uma sacudidela, só para lembrar que o ritmo das mudanças tem de ser constantemente acelerado”.

Que venham, portanto, os protestos! Que os jovens tomem as ruas e exijam um Brasil para todos os brasileiros. Que seus gritos ecoem pelos ouvidos de todos nós que estamos ou que já estiveram nas instâncias de poder. Seja no Legislativo, no Executivo ou no Judiciário. Que sonhem! Que não percam a esperança de que “amanhã há de ser outro dia”.

Assim eles nos despertam e nos lembram que nunca devemos deixar de lutar.

*Perpétua Almeida é deputada federal (PCdoB/AC)

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