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Alteridade!

 O Papa Francisco, provavelmente, ficará na história como o papa dos direitos do homem. Sua missão apoia-se, em muitos sentidos,  no respeito absoluto a todo ser humano. Sua alegria é espontânea, não apenas uma euforia eventual e passageira. Este estado de ânimo do Papa é a marca dos que depositam sua fé e a própria vida aos cuidados do Senhor. Sua preocupação e seu alvo é o outro ou o próximo como queria São Francisco de Assis. Suas ações estão eivadas de alteridade. O significado da palavra alteridade possui o sentido de colocar-se no lugar do outro numa relação interpessoal. É a “face do outro” que se impõe com sua irredutível alteridade, que me envolve e  me põe em questão, torna-me imediatamente responsável. Que me remete, de forma inexorável, à caridade com preo-cupação de justiça, especialmente justiça social, diria Emmanuel Lévinas (l905-l995).
 
 Essa ética da alteridade do Papa Francisco, contraria completamente a tese de  Nietzsche que o cristianismo é platônico para as massas e que a ética era uma ética de escravos débeis. O Papa demonstra com sua presença entre os que professam a fé cristã católica, os 3 km na orla de Copacabana acenando e tendo contato direto com os féis é a prova cabal do que afirmo,  uma liberdade revolucionária que traz as formas apostólicas do próprio Senhor Jesus Cristo. Afinal, o  ministério de Cristo pontificou pela presença de um pobre entre os pobres. Foi um cidadão pobre numa província pobre do tributário Império Romano. O “proletário de Nazaré” identificou-se primeiramente com o povo e depois o confrontou com a visão do Reino.

 Essa ética cristã de alteridade, por outro lado, contraria o pensamento mesquinho e egoísta, impregnado em nossa alma, de só olhar para os nossos próprios interesses em detrimento do próximo. Para um ser humano educado moralmente é preciso escolher em suas ações somente aqueles fins que podem ser aceitos como bons e aceitos por todos os outros. Tal fato já o remete para o plano da comunidade universal, para a perspectiva de uma cidadania cosmopolita. Agir considerando a humanidade em si mesmo e na pessoa dos demais, nunca como meio, mas sempre como fim em si mesmo, implica estabelecer outra forma de relação com os seres humanos e com a natureza. Aí não pode haver espaço para a instrumen-talização. Este ideal de uma civilização cosmopolita permite que os seres humanos possam se sentir e se tratar como membros de uma só comunidade, não apenas pelo estreitamento das relações interpessoais, quanto pelo fato de compartilharem uma causa comum. Compartilhar a mesma condição, reconhecer em si e nos demais a mesma dignidade, enfim, sentir-se no mundo como co-habitantes da mesma.

 As mensagens do Papa proferidas em solo brasileiro estão per-meadas de referências, ilustrações e linguagem que correspondem ao estilo de vida das classes mais simples da sociedade. É notória sua preocupação com as crianças, nota-damente aquelas que são vítimas das desigualdades sociais. Seus gestos em direção aos infantis é um verdadeiro apelo à comunidade cristã no sentido de semear bons propósitos nos corações das crian-ças, pois a safra de miséria, que estamos colhendo agora é o resultado da semeadura, no curso dos últimos decênios, de que a moralidade é relativa. Que tenhamos programas venha de onde vier que resgatem a essas quase inditosas, o direito de viver dignamente a fase mais bela da vida humana. Ser criança, estudar, viver e usufruir dessa condição de ser criança, é  tudo o que elas precisam.

 Chama a atenção de homens e mulheres de bem, que se indignam com as injustiças sofridas, inconscientemente, pelas crianças. Investidas criminosas, produto dum sistema iníquo que só pode ter sua origem no inferno, visto que, nestes novos tempos, as crianças  são alvos principais de toda sorte de perversidade.  Crianças, que estão inseridas num contexto familiar miserável; sobrevivendo à margem da vida, sacrificadas pelas desigualdades sociais, fruto, também, duma sociedade míope e arrogante em todas as suas manifestações, quando se trata de proteger e defender os sem defesa.

 Por tudo isso, o Papa está tendo nesta estada no Brasil os aplausos de todos.

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