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“Guerras insanas!”

 As guerras, entre povos ou nações, de modo óbvio, desgraçadamente nunca cessaram. Elas apenas se deslocam de um lugar a outro. Agora se instalou no Oriente Médio, palco de eternos conflitos históricos. Aqui, no médio oriente, o  mundo é testemunha, nos últimos dias,  do saldo macabro dessas guerras. A gente olha perplexa a insanidade  entre os defensores do presidente deposto Mohammed Morsi em confronto com as forças  do “novo governo” do Egito, num verdadeiro horror nas ruas de Cairo. O conflito na Síria não é diferente. Resultado de longos anos de ditadura insana, o governo instituído  oprime o povo com suas armas pesadas; agora é acusado de se utilizar de “armas químicas” devastadoras, para impor, notadamente a cidade de Damasco, opressão, terror e morte. O número de mortos passa de 100 mil pessoas nesta “guerra interna” na Síria, sendo que grande parte dessas pessoas é constituída de civis.

 As motivações dessa irracionalidade sejam na guerra civil da Síria ou do Egito ou em qualquer outro lugar do Planeta Terra, são ambições hegemônicas. Guerreiam num dado momento, para “resistir à brutalidade de um ditador”. Em outro,  em favor de uma agenda mulçumana, detentora de regras e cânones reacionários. Mas, no fundo querem a supremacia política e religiosa.

 A guerra no Oriente Médio inspira ao poderoso Primeiro Mundo o desejo de intervenção, notadamente para testarem suas armas sofisticadas e para deixar bem claro, ao todo mundo, seu projeto de domínio total, sua ganância de poder e riqueza, representado hoje, ainda, pelo petróleo. Os EUA têm verdadeira sede de supremacia total em países como o Catar, Iraque e Irã, entre outros que compõe o Golfo Pérsico, manancial de ouro preto.

 Nesse caso específico do conflito na Síria, os EUA podem intervir ou atacar a qualquer momento, pois como disse o secretário de defesa norte americano: “Estamos prontos para atacar a Síria, caso  o presidente Obama, ordene”. É a hora e a vez do Estado conquistador. A propósito, o filósofo Nietzsche, adorava o Estado conquistador, “uma raça de conquistadores e senhores, que com toda sua organização guerreira e todo o seu poder crava as terríveis unhas sobre uma população tremendamente superior em número, mas sem forma e organização”. Vale à pena citar que Nietzsche exaltava a guerra, não via outra forma de conquistar o mundo.

 É a glorificação da guerra, diria o pedante Georg W. F. Hegel (1770-1831), numa de suas teses sobre o fascismo. Alias, de todas as definições de fascismo, fico antes de qualquer outra com aquela que diz que fascismo é um sistema político antidemocrático. Contudo, em diversos países republicanos, há governantes que não admitem que suas decisões sejam contrariadas. Este é um tipo de fascismo mitigado, mas não deixa de ser fascismo.

 No centro do paradoxo dessa questão temos a ONU que entre os propósitos básicos da sua missão está o de manter a paz e a segurança internacionais, desenvolver relações de amizade entre as nações com base no respeito ao princípio de igualdade de direitos e autonomia dos povos. Apesar disso, na prática a ONU é hoje uma entidade desmoralizada, humilhada pelas  nações “poderosas”. Foi assim com Bush, na invasão contra o Iraque. Com a Rússia na guerra da Geórgia em 2008 e, recentemente, diante do poder de veto da Rússia e da China.

 Hoje, precisamente hoje, dia 31/08/2013, a ONU terá que dar seu  parecer sobre a utilização ou não de armas químicas,  usadas pela Síria. Em errando no laudo deixará  o mundo à mercê da insanidade de governos fascistas. As redes de comunicação mostram que os EUA e seus aliados estão preparados para a carnificina. O presidente da Síria diz que se defenderá de todas as formas, trazendo de volta, inclusive, os kamikazes. Aviões  caças de pequeno porte com grande poder de destruição, pilotados por fanáticos suicidas.  É inegável que estamos vivendo perigosamente  os limites da irra-cionalidade, isto é, estamos na contramão da razão.  Insanidade total!

 Deste modo, morrem as esperanças, de que  neste novo século (XXI) por tudo o que já vivemos de mal, neste mundo, os homens assumam atitudes mais civilizadas, no que concernem à preservação da vida. Mas, é justamente neste  século tão decantado que a violência vem se apresentando em suas formas  mais insidiosas, mais cínicas, num grau de refinamento que provavelmente supera em muito os períodos mais cruéis da história da humanidade. Genocídios e torturas “cientificamente” organizados; perseguições de todos os matizes, depurações raciais e “limpezas étnicas”; êxodo forçado de populações inteiras e grupos sociais indefesos; terrorismo em formas inumanas; segregação e/ou exclusão econômica, racial e religiosa, todos  são comportamentos individuais e coletivos que traduzem nada mais, nada menos, do que o simples e cruel desejo de destruir o outro.    

 Essa realidade insana faz ressuscitar e inspirar  em mim um pessimismo do tempo das catacumbas, que não vê nada de bom neste mundo, pois o homem a cada dia que passa se escraviza em ações que coloca em risco a própria existência humana. Entre outras mazelas, vivemos a cultura da morte!

* E-mail:assisprof@yahoo.com.br

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