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Pobre Jordão pobre!

 Em agosto de 2011, dois anos atrás, li em  www.agazeta.net   uma pesquisa, alusiva aos índices de IDH no Estado do Acre, que nos deixou, no mínimo, penalizados. “A grande maioria dos municípios possui estimativas muito altas de prevalência de desnutrição infantil, destacando-se o município de Jordão com as piores estimativas de prevalência de desnutrição segundo o indicador de déficit de estatura para idade (44,6%).

 Uma pesquisa  da Universidade Federal do Acre e da Universidade de São Paulo analisou  a prevalência de anemia e fatores associados no município de Jordão, um dos mais pobres e isolados do Acre.

 O resultado do estudo mostrou que a prevalência geral de anemia foi de 57,3%. Considerando-se a população de crianças com ascendência indígena residente na área urbana, a prevalência de anemia foi de 37,5%, valor que aumenta consideravelmente na zona rural, onde 64,3% das crianças com ascendência indígena eram anêmicas”.  
 
 Agora, em novas pesquisas, a partir de dados do IBGE, dos 5.565 municípios do Brasil, o Jordão apresenta o oitavo pior índice  de desenvolvimento da educação. Parece que neste município, com o passar dos dias, os problemas  se agravam cada vez mais.

 Não vou, nesta opinião simplória, cair na vala comum de repetir aquele velho jargão: “Os ricos continuam mais ricos e os pobres mais miseráveis”. Ou dizer que o subdesenvolvimento de algumas famílias pobres, não passa do desenvolvimento de outras famílias ricas, assim como o subdesenvolvimento de países pobre, notadamente do Terceiro Mundo, é nada além do que subproduto de países desenvolvidos e, por dilatação, ricos. Afinal, essas são teses “furtadista” isto é, oriundas do pensamento  econômico de Celso Furtado, nos idos anos 50.

 Outra coisa, que merece ser dita: Estamos longe do desenvolvimento, que os filhos dessa nação necessitam e merecem. O Brasil, pelas suas mazelas internas, não tem à flor da pele, aparência de potência economia mundial, coisa nenhuma; os estudiosos em ciência econômica sabem que estamos dando os primeiros passos rumo à emancipação da pobreza incondicional. Em 2050, diz o IBGE, o nosso contingente populacional poderá alcançar os 259 milhões de habitantes. Até lá teremos de pensar nossos irmãos em situação de miséria, com soluções que não se resumam em planos assistenciais.

 No entanto, o remédio que o Governo Federal tem para o Brasil é um remédio paliativo, com o objetivo de escapar ou driblar a pobreza, uma vez que como pode uma família que  pertença às fileiras da pobreza ordinária, não tendo o bastante para os confortos triviais, possa ao menos desfrutar duma vida simples e feliz com ganhos de apenas R$ 70,00?  Nesse caso, a ajuda simboliza uma gota d’água num vasto deserto. Serve para animar um povo  que vive num contexto de privação material e exclusão social.

 Quanto à realidade do Jordão, à luz dos fatos,  não é leviano dizer que  o  município vive, na pele, o seu ou a sua apartheid particular. Para quem não sabe o termo apartheid é oriundo da África do Sul e significa literalmente “separação”. Como é do conhecimento geral  a África do Sul, de 1950 até o final de 199l, viveu um contexto de segregação racial. Assim na conjuntura ético-social o apartheid pode ser usado como referência, dizem os bons dicionários de ética, a qualquer separação percebida e moral de elementos, a ponto de um ser excluído em benefício do outro. Logo, nas relações sociais, a palavra denota separação de um grupo quanto a outro em favor de se enaltecer o status dos membros de um grupo as expensas dos outros  na sociedade.

 Essa distinção na realidade social de Jordão, que pode ser intencional ou não-intencional, revela a ausência de programas de ação social que minimizem, em parte, as agruras dos filhos deste município, pois não há dúvidas que esses acreanos estão sendo vítimas de descaso por parte do poder público.  

 O  Jordão é um município isolado, separado de tudo e de todos. E pensar que os eleitores desta esquecida cidade contribuíram para eleger uns e outros políticos, destes que vivem a gastar nababescamente em farras nas praias do Nordeste, ou tomando vinhos caríssimos em churrascarias 5 estrelas de Brasília. Pobre Jordão pobre!!

*Email: assisprof@yahoo.com.br

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