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Anjos e demônios

 Estamos vivendo um processo de demonização da política e da figura do político. As pessoas transferem, muitas vezes, seus problemas particulares para aqueles que são responsáveis pelo controle e administração do Estado. Mesmo acreditando que existem maus políticos e que a corrupção está intimamente ligada à história do nosso país, me parece equivocada a generalização. E, ainda mais, a satanização daqueles que são eleitos para exercer cargos públicos.

 Negar o crescimento do país talvez seja insistir na cega visão do eterno caos, tão propagada pela grande mídia. Tomar como verdade absoluta que tudo vai de mal a pior é, entre outras coisas, deixar de reconhecer que nos últimos 20 anos tornamo-nos um país em franca ascensão. Para se ter uma ideia, nesse período o IDH brasileiro cresceu mais de 47% nos municípios, conforme dados divulgados pela ONU. Isso sem contar com as quase 40 milhões de famílias que deixaram a situação de extrema pobreza. E, acreditem amigos, não estou falando aqui de nenhum país das maravilhas. Me refiro ao Brasil que conquistou um equilíbrio econômico antes impensável. Um país que desaba ao perceber que a taxa de inflação é de 6% ao ano e esquece que já fomos o Brasil de 82% de inflação ao mês e do desemprego descontrolado. Por falar nisso o ano de 2013 registrou a menor taxa de desemprego de nossa história. Menor inclusive que a de países, ditos de primeiro mundo, como a Espanha.

 O aumento da taxa de crescimento, a inclusão social, o fim da extrema pobreza, a ressurreição da classe média, o fato de termos sentido apenas em doses homeopáticas os efeitos da crise mundial e várias outras coisas que aqui poderiam ser citadas, parecem não ter eco na nossa imprensa. E falo isso porque o exercício de ler ou assistir um jornal de grande repercussão é praticamente um convite para aceitar aquilo que costumam chamar de “alienação do caos”.

 Peço desculpa àqueles que até este momento do texto foram levados a acreditar que falo de um conto de fadas. É fato que estamos longe de ser um país com oportunidades para todos e sem corrupção. Só acredito que é necessário ter noção completa da realidade. Pois, somente assim entenderemos o estágio em que nos encontramos.

 Por exemplo, pra mim é difícil relacionar os escândalos políticos simplesmente às siglas partidárias, ou mesmo acreditar piamente que todos os que estão no poder fazem parte de um grande plano de enriquecimento ilícito. A corrupção faz parte de nossa história desde o Brasil-Colônia e nunca foi tão investigada e combatida como é hoje.

 Como disse, o poder que tem a mídia de alienar é sem medidas. Julgar qual o interesse por trás dessa alienação seria um bom tema para outro texto. Aqui quero apenas deixar claro que, da mesma forma que é impossível acreditar que tudo é lindo, por outro lado, engrossar o coro midiático de que estamos involuindo é prova de total superficialidade e desconhecimento.

 Por fim, quero falar dessa cultura, extremamente perigosa, de que a política é imoral e deve ser posta no estágio de amiga intima do Satanás. Tudo a nossa volta é política. Da hora que acordamos até o fim do filme que quase nos faz dormir na madrugada. Estamos sempre fazendo política. Que tal, depois de refletir sobre todo o mal que a pratica política já fez ao nosso país, pensarmos, uma vez ao menos, nas coisas incríveis que só através da politica podemos realizar. Será que tudo é tão caótico assim?

 O processo de demonização da política é real e lamento sinceramente por isso. Pois acho que renegar a importância do “fazer político” é, entre outras coisas, abrir mão da única ferramenta que temos para realmente fazer a diferença.

* Aarão Prado (músico e radialista)

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