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Iapen afirma que preso que denuncia ter sido torturado chegou doente ao Acre

 O diretor-presidente do Iapen, Dirceu Augusto da Silva, afirmou que o preso Wesley Ferreira da Silva já chegou ao Acre “com seríssimos problemas de saúde”. O preso, de 27 anos, alega ter sido vítima de tortura no presídio Antônio Amaro Alves.

 De acordo com o Iapen, o preso foi vítima de um AVC no Acre e levou um tombo no banheiro. Como consequência, o jovem está com os movimentos de mãos e pernas totalmente comprometidos, além de estar com sérios problemas de visão.

 A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar a denúncia de tortura no presídio de segurança máxima Antônio Amaro Alves, feita por Wesley Ferreira da Silva, de 27 anos. O prazo para conclusão das investigações é de 30 dias com possibilidade de ser prorrogado por igual período. O trabalho é conduzido pelo delegado Fabrizio Leonard, responsável pela Delegacia Itinerante.

 “Não é preso que tem que provar que foi espancado”, reconhece o diretor-presidente do Instituto Penitenciário do Acre, Dirceu Augusto da Silva. “Nós que temos que provar que não espancamos aquele preso, que o Estado não permitiu que servidores ao seu serviço espancasse um preso”.

 O diretor foi enfático ao reconhecer que ainda existe a possibilidade de prática de tortura em presídios do Acre. “Eu seria leviano se eu dissesse que no Acre não pode haver esse tipo de problema”, disse o diretor-presidente em entrevista coletiva realizada ontem à tarde na sede do Iapen.

 Atualmente, a corregedoria do instituto trabalha em dez procedimentos apuratórios, com denúncias de prática de tortura no sistema prisional do Estado. “Já mandamos gente para rua”, relata o diretor. “Quantos agentes não estão lá dentro? Existe a possibilidade de algum tratar um preso mal”.

 Wesley Ferreira da Silva alega que foi torturado por seis agentes penitenciários. Existe um conflito de versões. Ele diz que os agentes queriam a confissão de que ele pertencesse ao grupo criminoso PCC.

 Mesmo após as negativas, as supostas sessões de tortura continuaram por quatro dias, segundo o preso. Nas investigações já realizadas e divulgadas pela Polícia Civil, o nome de Wesley Ferreira não é citado.

 O Governo pretende demonstrar que ele já estava doente quando chegou em 23 de março deste ano. “Ele chegou aqui com seríssimos problemas de saúde”, lembra o diretor Dirceu Augusto.

 Uma servidora do Iapen está indo a Porto Velho para apurar “os antecedentes” de Wesley Ferreira da Silva. Um dos “antecedentes” já foi adiantado ontem pelo diretor do instituto.

 De acordo com Dirceu Augusto, a provável participação de Wesley Ferreira da Silva em duas rebeliões em presídios de Rondônia teve consequências. “Em uma delas, parece que ele foi forçado a comer um quilo de sal”, especula.

 A promotora de Justiça, Laura Miranda Braz, da 4ª Promotoria Criminal foi até o Hospital de Urgência e Emergência, onde está internado o preso. “Lá em Rondônia ele estava com muitos problemas de saúde”, diz a promotora, reforçando o argumento do Iapen. “Agora, nós temos que averiguar se esse agravamento do quadro foi por causa da saúde que ele já tinha ou se foi em decorrência desse espancamento”.

 Wesley Ferreira da Silva foi condenado a 21 anos por oito crimes, incluindo um homicídio. Veio para o presídio do Acre em sistema de permuta com o sistema carcerário de Rondônia. Após uma rebelião no Francisco de Oliveira Conde, em que ele não estava envolvido, a direção decidiu transferi-lo para o Antônio Amaro.

 “Eu vejo isso como uma calamidade artificial”, avalia o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Acre, Adriano Marques. “Acredito na inocência dos colegas e vejo que isso é uma falha do Governo porque se tivesse um sistema de monitoramento de vídeo esse problema seria facilmente resolvido”.

 Marques afirma que os agentes envolvidos na denúncia têm bons antecedentes. O grupo de agentes penitenciários ainda não foi ouvido pelas autoridades policiais.

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