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A BR-364 e o desafio de concluir e cuidar

 Seiscentos e trinta e um quilômetros de estrada estão entre a capital acreana Rio Branco e a segunda cidade mais populosa do Estado, Cruzeiro do Sul. A BR-364, rodovia que une o Acre de uma ponta a outra é reconhecida como um dos maiores desafios de engenharia do Brasil, mas um desafio que finalmente está sendo vencido. Depois da conquista de mantê-la aberta o ano inteiro, apenas 47 quilômetros não estão concluídos. Falta o trecho entre a cidade de Feijó e a região conhecida como Jurupari, a última etapa, que deve ser asfaltada definitivamente este ano.

 Pela primeira vez na história da BR-364 é o próprio Deracre que está realizando a obra de construção de um trecho, com seus funcionários e sem empresas terceirizadas na execução. São mais de 100 máquinas (sendo 42 caçambas) e 300 pessoas envolvidas. Só este ano foram investidos no total R$ 85 milhões na estrada, 51 vindos do Governo Federal e o resto de recursos próprios do estado.

Mas por que é tão difícil?
 “O primeiro problema é o solo. O segredo para fazer qualquer estrada é pedra. E isso o Acre não tem”, explica o engenheiro responsável pela obra, Fernando Moutinho. O famoso barro “tabatinga” que existe em toda a região não tem nenhum valor, qualidade e não é capaz de suportar camadas asfálticas. “No início era horroroso, tivemos que arrancar todo esse material ruim. Teve local que arrancamos 12 metros de profundidade e tivemos que preencher tudo. E os lençóis freáticos? Tínhamos que drenar a água toda e ainda lidar com a instabilidade do solo”, reforça Moutinho.

 Para complicar ainda mais, todos os importantes rios do Acre cortam a BR-364, alguns trechos ficam completamente alagados no período de chuvas e por isso pontes precisaram ser construídas. Ao todo, a rodovia tem 55 pontes, só na região entre Jurupari e Feijó são cinco. E com uma região tão alagadiça, bueiros e galerias tiveram que ser construídos, existindo três a quatro linhas por quilômetro, o que em comparação a outras rodovias é uma proporção enorme.

 Tudo isso gera particularidades únicas para a BR-364. Questões que os protocolos oficiais estabelecidos pelo Dnit não são capazes de resolver. “Cheguei aqui, ajudei na realização de um trecho e estourou tudo. E não entendi porque tínhamos feito tudo correto em relação ao planejamento. Foi necessário desenvolver um protocolo próprio, que terá que ser anexado aos protocolos do Dnit. São especificações próprias. Essa estrada é uma universidade. Tenho 40 anos de engenharia e ainda estou aprendendo todos os dias”, contou o engenheiro e consultor Salvador Almeida, que trabalhou em 21 estados antes de vir pro Acre nos anos 80.

 E embora não existam mais travessias de balsa entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, ainda existe uma barreira que encarece e dificulta a conclusão da BR-364: insumos. (Samuel Bryan / Agência Acre)

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