Numa sexta-feira 13, no mês de julho de 1990, o jornal “Notícias Populares” publicou reportagem na qual um lobisomem, com mais de três metros de altura, corpo totalmente coberto de pelos, um olho no meio da testa e outro na barriga, estava apavorando, havia uma semana, a população de Seringal Sardinha, que fica a 40 km da cidade de Manoel Urbano, no interior do Acre.
De acordo com a reportagem, um grupo de seringueiros que trabalhava na região ouviu gritos de um bezerro e, ao entrar no meio da mata, deu de cara com um monstro devorando o pequeno animal.
Esse episódio fez com que os policiais Antônio Mendes e Zacharias de Souza, acompanhados pelo vereador Chico Peres, saíssem à caça do lobisomem por três dias. Ao fim da expedição, explicaram ao delegado da cidade, Josimar Matos, que encontraram pegadas redondas enormes, com rastros de garras profundas na terra e restos de outros animais que haviam sido devorados. Disseram também que chegaram a estar próximos da fera, mas que não conseguiram capturá-la. As pegadas do lobisomem foram fotografadas e publicadas em vários jornais de Rio Branco.
O policial Mendes confessou que o monstro soltava gritos apavorantes. “Nunca sentimos tanto medo, mesmo estando armados”, disse. Os guardas e o vereador pediram, então, ao delegado que solicitasse reforços ao secretário de Segurança Pública do Acre.
Muitos moradores acreditavam que, por ser sexta-feira 13 de lua cheia, o animal deveria atacar. Depois das seis horas da tarde, ninguém mais saía de casa. As portas e as janelas foram trancadas. Algumas pessoas chegaram a armar fogueiras enormes perto de galinheiros e chiqueiros a fim de espantar um ataque da criatura.
Alguns moradores locais achavam até que o tal monstro poderia ser o Mapinguari, um ser lendário da região, que tem mais de três metros de altura e uma boca localizada na barriga.
A tensão aumentou após autoridades municipais informarem que o lobisomem já havia matado e devorado diversos animais, que derrubara um boi com apenas um soco e que sugava o sangue de suas vítimas em minutos. Em meio a tantas histórias, porém, não havia relatos de que a fera teria atacado homens ou mulheres.
No dia 15 de julho de 1990, o “NP” informou que o caçador e ex-policial Eliseu Rodrigues de Araújo havia se dirigido até a redação do jornal “Gazeta de Rio Branco”. Ele estava armado e prometia fazer picadinho do monstro. Disse que não tinha medo da fera e que não acreditava em monstro do outro mundo. “Não vejo a hora de dar as caras com ele”, falou à reportagem da “Gazeta”.
“Lobisomem está numa pior” foi a manchete do “NP” de 17 de julho de 1990, a qual informava que o caçador Eliseu estava pronto para ir atrás da fera e que levaria também velas e água benta.
No dia seguinte, em outra reportagem, o jornal noticiou que uma criança de três anos fora arrastada mata adentro pelo suposto lobisomem.
Em pânico, dezenas de famílias começaram a deixar a região. Diante disso, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Manoel Urbano, Chico Mateiro, resolveu sair à caça do animal.
Depois de uma caminhada de três dias, o sindicalista afirmou ao delegado Josimar Matos ter ficado cara a cara com o monstro e que, sem dó, descarregou 17 balas no bicho. “Mandei brasa. O lobisomem, ou coisa parecida, soltou um grito apavorante e fugiu sangrando mata adentro. Fui atrás, mas não o encontrei nem mesmo vi nenhum rastro de sangue”, explicou Chico, que confessou ter sentido medo nesse momento.
Em seu relato, o sindicalista ainda acrescentou que havia usado munição especial, tendo preparado bala por bala. Sabendo do perigo, ele usou chifre de boi nos cartuchos das munições.
Na tentativa de tentar diminuir o pavor já instaurado na cidade, a Prefeitura de Manoel Urbano passou a afirmar que o lobisomem não existia. Seria apenas uma índia da tribo das Colinas, com o corpo todo deformado e problemas mentais. A população, contudo, não acreditou nessa versão.
Tanto não acreditou que viu depois, no dia 21 de julho, o “NP” publicar “Lobisomem ataca outra vez”. Agora, o bicho havia tentado abocanhar uma menina que brincava em frente de casa, localizada às margens da rodovia BR-364. A fera só não arrastou a criança porque sua avó ouviu os gritos desesperados da garota e atirou com uma espingarda, atingindo o lobisomem, que fugiu para dentro da mata. Ele estaria ferido e sangrando muito.
Em 23 de julho, a primeira página do “NP” informava que o lobisomem havia tomado “chá de sumiço”. “Um fim de semana tranquilo. Mas o medo ainda toma conta da cidade de Manoel Urbano” foi a frase com a qual o “NP” encerrou a saga do lobisomem no Acre.
Da mesma forma inexplicável com que aparecera, a criatura não fora mais vista nos rincões do Acre. Tornou-se assim mais uma lenda a divertir, e a assustar, as populações locais.