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Os iluminados

Interessante a entrevista que o saudoso e insubstituível compositor e cantor Raul Seixas deu ao iniciante entrevistador Jô Soares, ainda no ano de 1989, pouco antes de sua prematura morte, por “causas naturais”.

Naquela memorável entrevista, Raul Seixas, de forma despretensiosa, afirmou que esteve com o John Lennon, ícone da Banda The Beatles, que, separado de sua musa Yoko Ono, fazia algumas “viagens” querendo entender aquelas pessoas que haviam influenciado na formação da civilização humana.

Naquela conversa que tiveram falaram dos iluminados que findaram por influenciar positivamente os povos, muitos em determinados povos e outros, como o próprio Jesus Cristo perante todos os povos do planeta terra.

O John Lennon perguntou ao Raul Seixas se no Brasil havia alguma pessoa que tinha essa sensibilidade e quais as mensagens que influenciavam o povo brasileiro para um caminho de paz e harmonia social.

Surpreso, Raul Seixas citou o nome de Café Filho – (foi presidente do Brasil entre 24 de agosto de 1954 e 8 de novembro de 1955, em substituição ao presidente Getúlio Vargas, que havia se suicidado).

Ora, a citação de Café Filho, como o próprio Raul Seixas afirmou, se deu pelo fato de que desconhecia qualquer pessoa que pudesse, realmente, servir de referência como elemento propulsor de um processo histórico e fundamental na formação social e cultural do povo brasileiro. Portanto, ninguém, estaria em condições de servir como exemplo. O Brasil não tinha um Martin Luther King (Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes; mas não aprendemos a simples arte de vivermos junto como irmãos), um Maomé (Não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim, um ser humano; contudo, entre os fiéis, ele é visto como um dos mais perfeitos seres humanos) e nem mesmo um Jesus Cristo (Ame a teu próximo com a ti mesmo e não faça aos outros o que não quer que façam contigo).

Apenas um ano antes daquela entrevista (1988) e, coincidentemente, da morte de Raul Seixas, havia sido assassinado na cidade de Xapuri – Acre, a pessoa de Francisco Alves Mendes Filho, depois mundialmente conhecido apenas como CHICO MENDES (com a mesma idade que morreu Raul Seixas, 44 anos), em consequência de sua luta pela preservação da Amazônia, enfrentando os “destemidos” sulistas, que desmatavam a selva para a implantação de fazendas de gado e acabando com as riquezas naturais da castanha, ainda denominada do Pará e com as seringueiras, fonte de rendas dos povos da floresta.

Naquele momento, Raul Seixas, ainda não tinha como mensurar a importância da figura de Chico Mendes no processo de preservação da Amazônia e do próprio planeta terra, em face da repercussão que a sua morte teve e da luta aparentemente modesta que empreendeu contra os poderosos fazendeiros, inclusive de Companhias Empresariais que financiavam a devastação da região para a implantação de grandes fazendas de gado.

A partir da morte de Chico Mendes e já com o reconhecimento mundial de sua luta preservacionista, os povos passaram a entender que o planeta estava precisando de uma política de cuidado do meio ambiente, sob pena do planeta terra sofrer, ainda mais, total degradação, colocando em risco de morte as pessoas, através do denominado aquecimento global, com repercussão na preservação da humanidade.

Como é do conhecimento de todos, Jesus Cristo, com seu Novo Testamento, nos trouxe paz e harmonia social; Martin Luther King, com a sua influência nos deu a igualdade entre os homens; Maomé, que unificou o povo árabe; e, alguns outros poucos, são referências na harmonia e formação da nossa sociedade.

Agora, é possível se incluir dentre esses nomes a pessoa de CHICO MENDES?  Respondo que sim, pois a sua luta e os avanços na preservação do planeta se deram com o reconhecimento de sua batalha, que redundou numa guerra preservacionista de todos os povos do nosso planeta.

Tenho certeza que se a conversa de Raul Seixas, um visionário que havia “nascido há 10 mil anos atrás”, com o seu guru John Lennon, fosse aos dias atuais, ele, sem sombra de dúvidas diria: Sim, nós temos, CHICO MENDES.

* ATALIDIO BADY CASSEB
Advogado, professor universitário e músico.

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