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Enem: 190 detentos e 56 socioeducandos farão as provas em dezembro

 “Se estivesse lá fora, não estaria me dedicando as provas. Hoje eu sei que posso trilhar outro caminho e o início dele depende do meu desempenho no Enem”, destaca o socioeducando José Mateus (nome fictício), 18, que cumpre semiliberdade e é um dos 56 adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no Acre que foram inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio 2013. No ano passado foram 18 inscritos.

 Segundo a coordenadora pedagógica da escola do Centro Socioeducativos e o Centro de Apoio à  Semiliberdade, ao Egresso e Família (Casef), Vangela Silva, os próprios adolescentes se interessaram em participar do Enem.

 “É uma oportunidade de mudança de vida e é claro que nós apoiamos. Temos histórias de adolescentes que passaram pela unidade e hoje tem curso superior e trabalham, procuramos explorar esse tipo de exemplo. Eles tem todas as chances de ter um bom desempenho nas provas”, confirma.

 Os socieducandos estão tendo aulas preparatórias para o Enem. “Eles estão resolvendo provas anteriores, produzindo redações e fazendo análises. A equipe está trabalhando duro para combater a maior dificuldade deles, a interpretação de texto. Mas tenho boas expectativas em relação ao desempenho dos meninos”, afirma a coordenadora.

 Alguns deles estudavam fora da unidade, mas não conseguiam acompanhar o ritmo das aulas, decidiram então, se transferir para a escola das medidas socioeducativas, conhecida como, Darquinho.

“Na outra escola, era complicado. Aqui tenho vários professores dando atenção reforçada. Daí, quando soube que iria ter o Enem, eu não pensei duas vezes e me matriculei. Quero ser fazer o curso de Educação Física. Minha maior dificuldade é na disciplina de matemática, mas os professores aqui estão me dando todo o apoio”, confirma o socioeducando.
Já o adolescente João Renato (nome fictício) sonha em cursar Direito. “Sei que para realizar esse sonho preciso me dedicar ainda mais aos estudos, mas acredito que agora estou no caminho certo”, destaca.

 De acordo com a coordenadora pedagógica do Centro Socioeducativo (CS) Aquiry, Lúcia Regina Oliveira, 14 internos efetuaram a inscrição e estão sendo preparados para enfrentar a prova. “São alunos de ensino médio, dedicados e interessados. A preparação tem que existir porque o grau de dificuldade da prova é até maior se comparado com o Enem feito pelos outros estudantes. O objetivo de alguns é a certificação e outros almejam a graduação”, confirma.

 O socieducando José Lucas (nome fictício) confirma o nervosismo as vésperas da prova e destaca que estar na unidade o fez refletir sobre a vida. “Quero fazer o curso de engenharia florestal. E durante esse um ano e seis meses que estou aqui dentro, penso e planejo uma vida diferente para mim”, revela.

 Os socieducandos estão sendo preparados para o Enem desde o mês passado, além disso, eles recebem livros nos alojamentos.

 Segundo o presidente do ISE, Henrique Corinto, a maioria dos adolescentes que chega às unidades possui um déficit de aprendizagem.

“Essa é uma herança de séries e escolas anteriores. Se o aluno não tem uma boa base no ensino fundamental, consequentemente ele chegará  ao nível médio com problemas para resolver assuntos mais avançados. Portanto, o desafio da nossa equipe pedagógica é minimizar essa diferença e estimulá-los aos estudos”, finaliza.

Provas serão aplicadas nos dias 3 e 4 de dezembro

 As provas serão aplicadas nos dias 3 e 4 de dezembro, dentro dos presídios e unidades de internação. Em todo o país este ano, 30 mil internos e presos participarão do Exame, 28% a mais que em 2012.

 A prova possui 45 itens de ciências humanas, 45 de ciências da natureza, 45 de linguagens e 45 de matemática, além da redação. No primeiro dia de prova, os participantes terão quatro horas e meia para responder às questões de ciências humanas e suas tecnologias e de ciências da natureza e suas tecnologias.

 No segundo dia, serão aplicadas as provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, matemática, além da redação. A duração chegará a cinco horas e meia.
No ano passado, o Enem para privados de liberdade teve 23.665 inscritos, sendo 20.687 homens e 2.978 mulheres. Do total de inscritos, 17.945 fizeram o exame em busca de certificação do ensino médio. É preciso ser maior de 18 anos para requerer a certificação por meio da prova do Enem.

 No ranking da quantidade de inscrições da Região Norte, o Pará é líder com 668 inscrições, Amazonas com 340, Acre com 316 inscritos, Rondônia 311, Amapá 261, Roraima 186.
As inscrições foram feitas via internet pelos responsáveis pedagógicos de cada instituição. Eles também estarão encarregados do acesso aos resultados, da divulgação das informações do exame aos inscritos e do encaminhamento dos candidatos ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e a outros programas de acesso à educação superior.

Enem também será aplicado nos presídios

 Além dos adolescentes, o Enem também é voltado para as pessoas que se encontram nas penitenciárias. No Acre foram registradas as inscrições de 190 detentos, número inferior ao registrado em 2012.

 De acordo com a coordenadora de educação do Iapen, Helena Guedes, o número de inscrições deste ano foi menor devido a exigência do ensino fundamental.

“No ano passado, se o preso demonstrasse interesse podíamos inscrever. O índice de nota foi considerado baixo, porque alguns dos presos não haviam terminado o ensino fundamental, as vezes semianalfabetos, que na hora de realizar a prova não conseguiam ler direito. Este ano foi priorizado a qualidade, então, apenas inscrevemos presos que já tivessem ao menos concluído o ensino fundamental”, afirma a gestora.

 Ainda de acordo com a coordenadora, os alunos que estavam matriculados nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) de ensino médio foram automaticamente matriculados pela escola prisional.


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