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Contradições da vida real!

Contradições ou paradoxos são pensamentos ou argumentos que, apesar  de aparentemente corretos, apresentam conclusões ou consequências contraditórias.O mundo de hoje está eivado de contradições. Algumas delas tão cruéis que, ultrapassam o campo semântico ou da lógica, pois que interferem diretamente na forma simples de ou da sobrevivência humana.À luz desse quadro trágico, basta uma simples olhadinha no panorama geral da vida moderna, especialmente na vida urbana, para constatar que as nossas prioridades estão invertidas; isto é, estamos todos, ou quase todos, lutando por valores instrumentais, bens de consumo.  Enquanto que o conhecimento (como verdade) os valores morais (como o bom); os valores vitais (saúde e bem estar) estão relegados ao terceiro plano.

Caso típico dessa contradição é a gente viver na região Amazônica, em meio à floresta, numa extensão territorial fabulosa, rica em espécies de animais próprios da terra, e não poder retirar dela o mínimo para a nossa sobrevivência. Outro dia, uma guarnição da Polícia Militar Ambiental, prendeu dois “caçadores” que abateram três macacos e um porco do mato. Deduzo que, além de terem as espingardas calibre 32 apreendidas, ainda tiveram que pagar multa para não serem encaminhados à Penal, uma vez que foram presos e autuados por crime de porte ilegal de armas e por crime ambiental.

Não entro no mérito das leis de preservação do meio ambiente, elas são necessárias para determinar o lugar  que o homem ocupa na natureza e das suas relações com o universo das coisas; úteis para estabelecer os limites de nosso poder sobre a natureza, pois o que se vê é o homem usando e abusando do reino natural dos minerais, da flora e da fauna. Exploração predatória que só visam os lucros para se gastar com o desnecessário.       Fato comprovado, principalmente por nós que vivemos nas últimas fronteiras, que somos testemunhas, ano após ano, dessa insanidade ou situação caótica, em que  o Estado do Acre fica, em função da sua situação geográfica, em época de estiagem, das queimadas irresponsáveis e criminosas.

Todavia, desde antigamente, as leis humanas ou positivas são estabelecidas pelo homem com base na lei natural e dirigidas à utilidade comum. Toda lei tem como finalidade o bem comum e nunca o bem de um determinado indivíduo ou grupos  em prejuízo do bem geral. Abro parêntese, para dizer que pratos especiais como: Tatu, recheado com cenoura e vagem;  Paca, no leite da castanha ou ao molho pardo; sarapatel de tartarugas, e outras iguarias, sobejam à mesa de uns poucos privilegiados. Enquanto nós, simples mortais, temos que continuar comendo carne de frango industrializado, transgênicos, ou na melhor das hipóteses, sobrevivermos à carne de vaca aguada. Fecha parêntese!

Especialistas dizem que quando a lei se desvia do bem comum pode ser impugnada como carente de razoabilidade, isto é, está na contramão da razão. No mundo de hoje, notadamente aqui nas últimas fronteiras, no quesito alimentação, onde a coisa tá preta, impedir um humilde homem de abater uma simples caça, é um acinte.
Então, se um dependente químico ou de drogas pode portar, continuamente, por ser usuário, determinada quantidade de maconha, crack ou outra porcaria; por que, um homem que vive na zona agreste, não pode abater um animal “silvestre?” Hein?

Trata-se, na minha ótica, de sobrevivência tanto dele como de sua família. Afinal, ele não está em Nova York ou em Tóquio, sociedades de consumo urbano. Ele é mateiro, caçador, é homem do mato. Agora, prender um homem simples deste, filho da região, que não conhece outro meio de sustento; apreender uma velha espingarda calibre 28 ou 32 é mais do que acintoso. É desumano!

Outra pergunta: como ficou aquela proposta da deputada Federal Perpétua Almeida, em permitir que o homem simples que reside no capão, nos beirados dos rios e igarapés ou em outros lugares afastados dos meios bem-educados, tenha posse de uma espingarda, como ferramenta de caça, tendo em vista a sua sobrevivência?  Salvo engano, essa proposta “era” para ser transformada em lei. Cogitou-se, pelo menos?

Reconheço que a sociedade não é produto da lógica, com suas regras de silogismo, mas da história; é o trabalho contínuo das gerações, de acordo com múltiplas necessidades sempre em mudança. Por essa razão, suas bases são arbitrárias e, por serem arbitrárias, estãocontaminadas de contradições. Infindáveis mesmo, que terminam por promover levantes violentos do tipo que estamos presenciando nas ruas das principais cidades brasileiras.

* Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof @yahoo.com.br

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