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Desonestidade

Na Grécia antiga, o homem grego admitia que a honestidade fosse a melhor política, mas tentava  tudo antes de ser honesto. Afinal, diria Tucídides, os homens se esforçam mais por serem tidos como inteligentes (espertos) do que como honestos, suspeitando que  no fundo a honestidade fosse pobreza de espírito.

No Brasil, por mais otimista que sejamos não podemos contornar ou camuflar essa realidade tortuosa que reflete, em grande parte, o caráter da nossa gente. Com isenção para o povo de boa índole. Brasileiros, homens e mulheres, jovens e adultos, que, ano após ano, lutam honestamente com  suas famílias, na busca do pão nosso de cada dia, sem serem devidamente remunerados pelo labor diário. Gente honesta, mesmo!

O grande paradoxo dessa questão é o fato do país possuir a notoriedade de “nação cristã”. São 123 milhões de católicos e, dizem as estátisticas, mais uma população de 42 milhões de “fiéis” evangélicos. Com tanta gente se abeberando do Evangelho do Senhor Jesus Cristo, que só ensinou o bem,  não deveria haver tanta corrupção e tanta desonestidade, como há nos quadrantes da nação.

Nesse caso, não é leviano deduzir que somos um país de cristãos nominais, sem nenhuma responsabilidade de colocar em prática o que aprendemos no catecismo ou, na  escola bíblica dominical. Ou, quem sabe, dizer que as igrejas tidas cristãs e seus líderes carismáticos, corromperam a mensagem do evangelho. Mensagem  que não muda jamais.

A estética objetiva dessa improbidade, muito além da minha desonestidade, se revela nos vícios do poder público que, desgraçadamente, se perpetuam. P.ex: a atual legislatura municipal no país, só para falar desta, é comprovadamente uma das mais corruptas que os municípios brasileiros já abrigaram. No quesito administração pública municipal, os recentes escândalos, com o erário público, fartamente noticiado pela mídia, com o envolvimento de grande parte de legisladores, pois são em maioria, que detém cargos eletivos, deixam obvia a ausência, nos tais, de honestidade. Incluem-se, neste paneiro, alguns políticos “renomados” envolvidos com toda sorte de fraudes,  mancomunados com gente muito boa, alguns protegidos pelo privilégio real, inclusive.

Seria demasiado longo, neste artigo de frases feitas, enumerar todos os tipos de fraude que são cometidos contra o povo. O que fazer?

O que fazer então para espantar de uma vez por todas o mau caráter  que circunda os governos: federal, estadual e municipal, eternamente em crises; como evitar que maus caretistas, afluam ao Congresso Nacional e as nossas casas legislativas e; por extensão, o que fazer para extirpar do cenário nacional, os partidos políticos que, em sua maioria, nada mais são do que siglas de aluguel, de algumas figuras endinheiradas e de mentes espertas? Uma das respostas seria galgar ao poder público, somente mulheres e homens que comprovadamente  possuam conduta ilibada e estejam dispostos a pagar o alto preço do serviço publico sem se deixarem contaminar pelo canto da sereia, que tenham domínio próprio, pois quem não é capaz de governar a si mesmo não será capaz de governar os outros.

Contudo, onde encontrá-los? Pois, parece que o mundo de hoje é o mundo dos velhacos, dos trapaceiros, dos charlatões, infiltrados em todos os segmentos da sociedade. Deste modo, estamos todos privados de fim, de unidade e de verdade. O mundo parece sem valor.  Mundo sem valor e cada vez mais distante dos princípios e leis da lógica, como arte do pensar, que mostra que a moral visa à edificação de um “reino dos fins”.  Mundo em que a vontade legisladora de um “reino dos fins” infelizmente sucumbe diante da desonestidade dos que “edificam” na construção de um “reino dos meios”.

Pondo de lado a minha indignação, própria de cidadão comum, remeto o meu cogito para esse enigma indecifrável, à luz do  pensamento humano, da desonestidade.  Qual é a origem dessa desonestidade, qual é seu fundamento? E por que o homem frauda o seu semelhante? Alguém pode responder essas questões? Uma coisa é certa, essas práticas nocivas estão  inerentemente ligadas nas entranhas do próprio homem.

Talvez, sem escárnio, as confissões de Santo Agostinho (354-430) nos ajudem a entender, sem compreender, os motivos que faz essa gente, tão bem assalariada, trilharem pelo caminho da desonestidade.

Quando jovem, diz Agostinho, quis roubar sem ter sido levado pela necessidade, simplesmente por indigência e desgosto do sentimento de justiça, por excesso de iniquidade. Furtei, diz-nos ele, aquilo que eu tinha em abundância e de melhor qualidade.

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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