Hoje, abstenho-me dos problemas complexos e angustiantes, do mundo moderno, para prestar tributo às mães, essas eternas santas protetoras.
A figura da mãe é, em longo dos tempos, emblemática, especialmente, quando a família, por questões econômicas, luta pela sobrevivência e não ocupa posição proeminente na sociedade. Ser mãe, embora todas as demais funções sejam igualmente reconhecidas, é o papel mais preponderante da mulher, isso é pródigo a partir dos relatos bíblicos. Esse papel de mãe era tão importante, em dias idos, que a esterilidade feminina chegava a ser considerada uma maldição dos deuses, porquanto furtava a mulher de uma de suas funções mais importante na vida. A extrema dependência da prole humana, em seus tenros anos, ensina-nos que, desde o princípio, deve haver mães que cuide de seus filhos, o que já constitui uma unidade básica da família. De outro modo, dizem os especialistas, a raça humana não poderia sobreviver.
Digno de nota é o uso metafórico que se faz, em diferentes culturas, desse nome afável: A nação de um indivíduo podia ser chamada de mãe; a terra é nossa mãe. O Estado por abrigar, com suas benesses a todos é, em muitas ocasiões, chamado de mãe. Alguns governos, que para o velho Sócrates deveriam ser o pai e educador do povo, são verdadeiras mamães, especialmente para meia dúzia de afilhados e protegidos. Ultimamente o termo se tornou pejorativo; já que até comentarista de futebol quando se refere a um time fraco diz que a “defesa” é uma mãe.
Mas o que pontifica na história da mulher mãe é a afeição por seus filhos, fato que exemplifica nas Sagradas Escrituras, os cuidados especiais de Deus pelos seus filhos espirituais. Aliás alguém tem dito que a melhor comparação do amor de Deus por nós é tipificada no amor da mãe pelo seu próprio filho.
Nessa condição de benfeitoras, existem mães que vão as últimas consequências no afã de proteger seus filhos. Conta-se que, na antiga Mesopotâmia, uma família, pai, mãe e três filhos, estavam morrendo a mingua (a fome era grande e inexorável). Numa noite, o pai tomou uma decisão: venderia um dos três filhos aos mercadores do deserto e, com o dinheiro da venda, salvaria a família. A mãe, tal qual uma ave que, sob as asas, protege seus filhotes, se acercou dos filhos, enquanto discutia contra a decisão do marido. O grande drama era qual dos três seria o escolhido: O mais velho argumentava a pobre mãe, não podemos vender, é o primogênito, o primeiro fruto do nosso amor; o do meio é muito parecido com você marido, não, este, também, não podemos vender; o terceiro, este é que não podemos vender mesmo, já que se trata do caçula, o nosso dengo-dengo. Então, pai, mãe e filhos, sucumbiram todos, debaixo da fome implacável, morrendo um após outro.
Outra característica das mães, de qualquer época da história da raça humana, é vê os filhos como eternas crianças. No meu caso específico, só deixei de ser menino após a morte de minha mãe. Todavia, ainda hoje, ressoam em minha memória: “Vem tomar café, menino!” ou “Por onde você anda menino!” Palavras, aludidas nos versos de Fernando Pessoa: “Para a mãe, ele é sempre a criança, o menino, o sonho mais querido e a mais cara lembrança”.
Sabemos de casos de mulheres que em ato de desespero existencial atiram seus filhos recém-nascidos, às vezes, até em lata de lixo. Essas pariram simplesmente. Não são mães; pois que uma mãe verdadeira jamais abandona, em qualquer circunstância, seu próprio filho. Maria, mãe de Jesus, foi corajosamente ao pé da cruz, onde o filho estava crucificado, enquanto muitos de seus “discípulos e amigos” fugiram ou se esconderam.
Santo Agostinho dizia que a memória é o presente do passado. Significa que é através da memória que cada um de nós consegue trazer o passado para o presente. As lembranças que eu guardo, na memória, da minha afável mãe (morreu aos 89 anos) são tantas e prazerosas.
Lembro-me de momentos ímpares que neste domingo, dia alusivo às mães, fará com que a saudade seja mais intensa no meu peito. Saudade em dizer, novamente: Benção mamãe!
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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