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Mãe relata experiências por ter filho com profissão de risco

Jocirene ora todas as vezes que o filho Norberto sai de casa

Para a aposentada Jocirene Casas do Nascimento, 60 anos, ser mãe é uma tarefa de tirar o sono. O filho, Norberto Lima Vieira do Nascimento Júnior, 35, é diretor do Centro Socioeducativo Santa Juliana, localizado em Rio Branco. No currículo dele aparecem intervenções em pelo menos nove rebeliões sérias de adolescentes em conflito com a lei, além de inúmeros motins vividos durante os cinco anos de atuação nessa área.

A profissão de risco foi questionada por Jocirene. “A escolha foi uma surpresa, porque queríamos outra coisa. No início eu não entendia muito bem o significado desse trabalho, mas comparava com os agentes penitenciá-rios, só que pior”, afirma.

Apesar de Norberto nunca ter sido ferido nas unidades socioeducativas, Jocirene criou um hábito de orar todas as vezes que ele saía de casa. Sempre que ela fica sabendo de algum movimento perigoso no Centro Socioeducativo, a primeira atitude era ligar para o filho. “Quando tinha rebelião eu pedia a Deus que protegesse ele e seus colegas de trabalho”.

Em 2011, uma lista feita na parede do Centro Socioeducativo Aquiry repercutiu na imprensa acreana. Nomes de autoridades, promotores, agentes e do Norberto Júnior apareciam ao lado de uma promessa de morte. “Foi assustador. Eu não conseguia dormir achando que algo poderia acontecer com o meu filho”, relata.

A partir de 2012, os inúmeros conflitos dentro das unidades cessaram com a chegada de uma nova gestão no Instituto Socioeducativo do Acre (ISE) trazendo uma política diferente. Os adolescentes internados passaram a receber oportunidades em cursos profissionalizantes, emprego e a serem destaque na educação. Alguns chegaram a ter êxito no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), fato inédito nas medidas.

Norberto Júnior ressalta que existem muitos casos de superação no sistema socio-educativo. “Gratificação é ver o mesmo menino que te ameaçava pedir desculpas e, ao sair, ligar para falar que está trabalhando. Sinto que as oportunidades vieram com os cursos”, declara.

Jocirene reconhece esse avanço. Apesar da preocupação que o trabalho de Norberto lhe causa, ela valoriza o esforço do filho. “Ele acredita no melhor dos socioeducandos e fica realizado com o que faz. Eu me sinto orgulhosa, porque ele faz a diferença no mundo”.  (Foto: BRENNA AMÂNCIO/ A GAZETA)

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