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A utópica vida feliz!

Hoje me volto para as reais possibilidades duma vida simples e feliz. Seria possível ao ser humano ser feliz sem as  motivações dessa “competição” entre os povos, entre as nações, entre o meu próximo e eu, mesmo aquele mais próximo, nas mínimas coisas.

Por que esse negócio de ganhar e perder? Ser o melhor e o mais destacado, em alguma atividade existencial, mesmo nas disputas esportivas? Essa é uma interrogação de  inculcar a mais prevenida das mentes humanas. Trata-se de uma competição desditosa. Na ciência propriamente dita, nos meios eclesiásticos, na escola e, até, na família entre irmãos de sangue. No esporte, nem se fala. Nos jogos queremos ganhar, não importa a maneira, se com penaltis inventados como vimos no jogo Brasil e Croácia. O importante é vencer! Por quê?

A política, p.ex. que deveria ser a ciência da felicidade coletiva, é essa porfia, com bafo de perversidade, se agiganta cada vez mais em grau mais elevado. É aqui, nessa atividade pública que essa atitude se revela extremamente egoísta e desonesta, produto da busca desenfreada do homem pelo poder, prazer e realização pessoal desmedido, nem que para isso tenha que esfolar, nessa corrida louca, o seu semelhante; aliás, já diziam os antigos, bom político é aquele que vende a própria mãe para se eleger.

Do mesmo modo, talvez de forma mais aviltante, os partidos políticos, quase sem exceção, deste mundo pós-moderno, com  linha “ideológica” extremamente pragmática, pois que seus mais dignos representantes, loucos por poder e protegidos pela memória curta do povão, têm corroborado, notadamente, pela parceria promíscua com algumas empresas, com essa porfia desonesta, fomentando rivalidade entre as siglas, na busca desenfreada pelo poder.

Thomas Hobbes (1588-1679), empirista inglês, tentou explicar o comportamento dos homens, ao afirmar que os mesmos tendem naturalmente para o prazer, bem como para comportamentos egoístas que visavam sujeitar os outros.  Esse tipo de atitude, segundo Hobbes, transformava os homens em “lobos uns dos outros”. Essa atitude, também, era o fator responsável pelas  guerras e pelos conflitos, pelas perversões das condutas, situações prejudiciais a todos. Para Hobbes, essa porfia não tem cunho de irracionalidade, já que as criaturas irracionais são incapazes de distinguir entre injuria e dano, entre ter e não ter. Às criaturas irracionais, basta que estejam satisfeitas para nunca se ofenderem, ou criarem disputas, com seus semelhantes. Os apetites das formigas, por exemplo, são todos conformes e levam a um bem comum que em nada difere de seu bem particular. Já os homens, se encontram por natureza num estado de guerra universal em razão das paixões que os dominam. Assim essa  competição  não passa pelos animais irracionais, é uma batalha própria de quem pensa, de quem cogita, diria René Descartes. É um estado de guerra que faz com os homens se movam  pelo desejo de adquirir bens, poder e prestígio (Hobbes). É a destruição do homem pelo homem, que no dizer de Nietzsche (Genealogia da Moral), é a maior e mais inquietante de todas as doenças, da qual a humanidade  ainda hoje não está curada, o homem, doente de si mesmo.

O que fazer para evitar as rivalidades, lutas e discussões inúteis? Seria utopia ou  miragem social, sonhar com uma sociedade em que não existam a corrupção, a pobreza, a tirania, as guerras e porfias de toda ordem? Como sair  desse estado totalmente insuportável? Como os homens podem sair desse círculo vicioso de luta, inimizade,  ódio e suspeita? Seria demasiado tarde, para a humanidade, refletir  sobre sua miséria, usando a razão para construir um Estado, corpo artificial destinado a garantir  a segurança de todos?

Aristóteles (384-322 a.C.)  em sua Ética a Nicômaco, responde com franca simplicidade que é uma vida feliz. Apesar de o livro abordar  vá-rios problemas de moral e política, o objetivo não é tornar o homem bom, mas como fazê-lo feliz. Afinal, diz Aristóteles, certos fatores são necessários à felicidade duradoura: bom nascimento, boa saúde, boa reputação, bons amigos e, entre outras virtudes, vida de pensamento.

O mais feliz de todos os homens é o que combina uma dose  de prosperidade com sabedoria, pesquisa ou contemplação; esse homem é o que mais se aproxima da vida dos deuses, pois todos os outros prazeres requerem a assistência  de outras pessoas.

Ademais, o propósito último do homem é o seu bem-estar, ser feliz na simplicidade da vida, pois nem a  posse das riquezas, tampouco a abundância das coisas, nem a obtenção de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza (Epicuro).

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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