Para a filosofia existencialista, o primado da técnica deve-se ao resultado natural daquele desenvolvimento pelo qual, o homem em detrimento de si mesmo, se deixou arrastar pelos bens de consumo, coisas, tornando a vida temporal puro objeto a dominar e desfrutar.
Essa conduta, que não se deterá, nem mesmo ou sequer quando, como acontece hoje, o homem têm suas bases de sustentação terrena ameaçada terrivelmente. É comportamento que se tornou onívoro; isto é: crença total e alienante na tecnologia como domínio sobre tudo e sobre todos.
Por que estamos vivendo essa realidade alienante? É notório, seria quem sabe a principal causa dessa abobalhada universal, que o individualismo contemporâneo tem produzido uma geração fútil, mesquinha e egoísta. As pessoas parecem querer que o mundo gire ao seu redor. Querem ser centro do mundo, e geralmente seu mundo é pobre. São vazias. A vida lhes é roupa de grife, a quinquilharias eletrônicas mais recentes, e pobreza existencial.
Amigo meu, filósofo, que partiu para outra aura de vida, ano passado, dizia: “Caríssimo, me-diocridade da cultura atual é assustadora. A bobagem avulta em todos os segmentos da mídia! As pessoas se pautam pela mediocridade. As pessoas hoje são famosas não pelo brilho intelectual ou por acrescentarem à sociedade, mas pela estética e por aparecerem na tevê”.
É verdade, nua e crua: Veja-se a internet, com seus “feices” e “whatsapps” ferramenta valiosíssima para a pesquisa, que é utilizada hoje, especialmente para achincalhar a vida do outro. Serve para ver o que as “celebridades” estão fazendo. Bisbilhotar gente frívola, etc. e tal.
Alguém pode contra argumentar que, além de eu ser repetitivo, sou também pessimista e anacrônico. Que a minha visão é no mínimo esclerosada ou obsessiva. Que sou um teorista do tipo “imprensa marrom”. Afinal, o mundo está ótimo. Estamos até provendo a Copa do Mundo de futebol. Cantamos, nas arenas: “Sou brasileiro com muito orgulho” e outras máximas de país de terceiro mundo.
Reconheço que não tenho o otimismo de alguns políticos locais que, em dias passados, ultimaram esforços junto às autoridades mor deste país, com o fim de tornar Rio Branco subsede da atual Copa. Talvez, o nosso aeroporto, hoje completamente sucateado, fosse outro. Também, não estou entre os que “acham” que tudo vai bem como querem e proclamam os diversos apóstolos religiosos do presente século, pródigos em fazer uso da pedagogia da promessa. Por outro lado, não tenho capacidade ilusionista de transformar aquilo que é devorador, que subverte ou consome que corrói e destrói no melhor dos mundos. Não tenho a química de melhorar um mundo violento e destrutivo, com simples argumentos filosóficos; matança em litígio e derrocada moral em paraíso. Mesmo porque, já dizia, há 1.900 anos, o geógrafo Estrabão: “Lidando com uma multidão de mulheres e homens, massa promíscua, o filósofo não consegue influenciá-los pela razão”. Nem mesmo um estudioso de filosofia por longos 45 anos, como este velho escrevinhador, que deveria viver tranquilo e indiferente aos preconceitos e convenções sociais, resiste a essa alienação total.
Felizmente, nem tudo é descaso nessa questão cruciante da alienação pela técnica, com resultados nefastos junto ao público juvenil, que assola os quadrantes da nação brasileira, temos diversos setores da imprensa que responsavelmente, fazem eco aos apelos do povo. Também, li recentemente, que em pelo menos 19 estados do país já existe algum tipo de iniciativa pública para combater a prostituição generalizada de crianças e adolescentes, fomentadas pelas redes sociais. Existe ainda um “pool” de ONGs, (financiada por entidades internacionais) que “produz a mais ampla pesquisa sobre o assunto”. A luta terá de ser incessante, pois a safra que estamos agora colhendo é o resultado da semeadura, no curso dos últimos decênios, de que a moralidade é relativa.
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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