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Campanha incentiva exames para hepatite C em pessoas acima de 45 anos

Raimundo Paraná, infectologista e presidente do Congresso Hepatologia do Milênio, Carlos Varaldo, jornalista e presidente do grupo de apoio a pacientes com hepatite C, Édison Parise, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia e Érico Arruda, médico e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia

Domingo, 28 de julho, foi comemorado o Dia Mundial de Alerta para as Hepatites. E é com esse gancho que a Sociedade Brasileira de Hepatologia, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Associação Médica Brasileira lançaram dia 22 último, em Salvador-BA, uma campanha pública para incentivar  as pessoas que tem acima de 45 anos, para a necessidade de realizarem exames para diagnosticar a hepatite C. A campanha 45+ visa também  alertar a comunidade médica sobre a importância de criar o hábito de solicitar o teste para detectar o vírus da doença. O exame é simples e rápido e pode ser realizado em unidades públicas de saúde gratuitamente.

Dos infectados, 70% tem mais de 45 anos
As pessoas que tem mais de 45 anos podem estar infectadas e não saberem. E a ênfase para essa faixa-etária é porque 70% dos que desenvolveram a doença estão acima dos 45 anos. Isso porque tempos atrás, antes da década de 90, quem doava sangue não era obrigado a fazer o teste para detectar as hepatites e outras doenças. As seringas para injeções comuns eram de vidros e as agulhas compartilhadas, o que aumentava o risco de contaminação. E o desconhecimento da existência da doença fez com que muitos se infectassem. “A hepatite C como doença foi identificada há menos de três décadas, assim como os testes para o seu diagnóstico”, informa o médico Édison Parise, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, idealizador e um dos coordenadores da campanha.

Entenda a doença
A hepatite C é uma doença infecciosa causada pelo vírus HCV e que afeta o fígado. Seu desenvolvimento é lento, silencioso e gradual. Leva à fibrose do fígado e por fim à cirrose, que se manifesta após 20, 30 anos. “Essa doença tem uma evolução arrastada e os sintomas iniciais são os mesmos de uma virose, mas o que diferencia é a amarelidão nos olhos. O vírus, a partir daí fica ativo e existe a lesão progressiva. O fígado tem um grande poder de recuperação. E ele vai se recuperando dessa lesão, mas progressivamente perde essa batalha”, explica o médico infectologista Édison Parise.

Os jovens tem imunidade alta, as vezes a doença nem progride. As mulheres também, pois elas são programadas biologicamente para gerar filhos e isso faz com que o sistema imunológico seja mais forte, frisa o médico.

A hepatite C é transmitida de pessoa para pessoa , via sangue contaminado. Entre 15 a 25% delas conseguem eliminar o vírus naturalmente, mas as outras 85% vão desenvolver a doença.

Ela é ainda a causa de 25% dos casos de câncer de fígado, que por sua vez, tem 33% de probabilidade de morte no primeiro ano depois de iniciado o processo de câncer.

Interferon, cenário de hoje
A hepatite C tem cura. O processo de tratamento é duro, mas tolerável. Consiste na aplicação deInterferon e Ribavirina, os dois remédios aprovados pelos órgãos de saúde atualmente. São usados em conjunto. O primeiro por injeção subcutânea de agulha aplicado uma vez por semana. O segundo deve ser tomado via oral quatro comprimidos por dia, de acordo com o peso e a resistência de cada pessoa aos efeitos colaterais. O tempo de tratamento varia de seis meses a um ano, dependendo se o genótipo da doença é do tipo 1, 2 ou 3.

Os efeitos colaterais variam de uma pessoa para outra. O mais forte é o Interferon, que é o terror de quem está para iniciar o tratamento e “cerca de 20% dos pacientes o abandonam  pela metade. Ou seja, de cada 100 pacientes que começam a tomar a medicação, 20 desistem. Esse é o cenário que temos hoje”, explica José Eduardo das Neves, diretor médico da Abbvie no Brasil.

Na maioria das vezes, os efeitos colaterais são de gripes, dores de cabeça, tosse, ânsia de vômito, calafrios, náuseas e muito sono. Em alguns casos, há até a perda parcial da  audição.

Novo medicamento cura doença em 12 semanas

Médico José Eduardo, diretor do Abbvie no Brasil

Um novo tratamento com medicação oral, taxa de adesão altíssima e de abandono de apenas 2%, eficácia de 92 a 100% na cura, efeitos colaterais mínimos e tempo de apenas12 semanas de tratamento, incluindo pacientes cirróticos, para interromper o avanço da lesão pelo vírus da hepatite C. É a isso que se propõe o “tratamento inovador”, uma combinação de ABT-450/ritonavir, Ombitasvir e Dasabuvir, o programa de estudos clínicos em HCV, da Abbvie, uma companhia biofarmacêutica, que começou a operar formal e legalmente no Brasil, no início de 2014.

Essa medicação já foi aprovada nos Estados Unidos da América.  Comercializada em alguns países europeus, vai estar disponível a partir do primeiro trimestre de 2015.

No Brasil, em agosto próximo vai ser submetida a apreciação da ANVISA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para entrar no país. E como ressalta o diretor médico da Abbvie, José Eduardo das Neves, “essa é a esperança para todos os pacientes de hepatite C”.

Alguns pacientes já estão importando esses medicamentos, mas o preço é muito salgado, custa em torno de 450 mil reais.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, médico Érico Arruda, o governo brasileiro precisa liberar e negociar o mais rápido possível com os laboratórios para tornar o tratamento acessível. “Há casos de negociações com países como o Egito e a Índia em que os governos conseguiram descontos de até 99% nos preços desses remédios. Nós queremos sim, mas com preços justos”, finalizou.

Elpídio Rodrigues: “vida nova depois do transplante”

Elpídio Rodrigues Filho fez transplante de fígado

O Acre é um dos estados com o maior índice de hepatite C do país, a taxa é de três por um considerando as proporções por número de habitantes,  segundo dados do Ministério da Saúde.

Elpídio Rodrigues Filho, acreano, 51 anos, está incluído nessa estatística. Ele descobriu a doença em 2001, há treze anos. Na época estava de férias em Goiânia e decidiu fazer um check-up, incluiu, então, exames para hepatites. Quando recebeu o resultado, deu positivo para hepatite C. Ele conta que não acreditava e não entendia o que era a doença. Apreciador de uma boa cerveja gelada, continuou bebendo e se alimentando com frituras e doces sem restrições.

Foi orientado e acompanhado por médicos a tomar o Interferon junto com a Ribavirina. Ele fala que essa foi uma das piores experiências porque passou. “Depois que tomava o Interferon sentia dores de cabeça, tontura, febre, dores no corpo todo e sono, muito sono. Chegava a dormir três dias seguidos. E quando acordava meus nervos ficavam a flor da pele. Queria brigar com todo mundo. Até que completou um ano e eu terminei o tratamento. Por um tempo a doença negativou, mas depois voltou e foi se agravando. O médico falou que meu fígado havia entrado em processo cirrótico. A partir daí, só o transplante resolveria. Como não aparecia nenhum doador compatível e eu piorava, o meu filho, que na época tinha 21 anos, decidiu ser o doador. Viajamos para São Paulo e no dia 23 de abril de 2012 fizemos o transplante. As cirurgias, minha e dele, duraram14 horas. Deu tudo certo, aconteceram algumas complicações mas nenhuma  grave. Fiquei três meses em São Paulo. Fazia exames médicos toda semana até ter alta”, continua ele.

Ele explica que hoje tem uma vida nova. Apenas restrição à frituras, sal e nada de bebidas alcóolicas. Faz exercícios físicos todos os dias, caminhadas e de dois em dois meses faz exames completos de sangue e ultrassom do fígado. Toma 1 comprimido de Mifortk e 6 de Tracolimo para rejeição.

Sente que está tão bem que até disposição para trabalhar arranjou. Faz trabalho voluntário para amigos e apesar de todo sofrimento que passou se sente privilegiado por ter conseguido uma nova oportunidade de vida. E agradece a Deus por ter visto este ano o filho mais velho, que doou 70% de seu fígado, sadio, cheio de planos, pois se formou esse ano em arquitetura. Está trabalhando, é um grande companheiro e um de seus melhores amigo.

O transplante hepático custa hoje em média 70 mil reais, segundo pesquisas. Aí iclui a cirurgia, hemoterapia, medicamentos, diária hospitalar e UTI. Fora a medicação contra a rejeição que é para o resto da vida.  “Com certeza, todo sofrimento valeu a pena para a nova vida que ganhamos e me sinto privilegiado e forte por ter vencido essa batalha”, concluiu.

Material da campanha como cartazes, palestras itinerantes e material educativo estão sendo entregues nas unidades de saúde dando ênfase para as pessoas acima de 45 anos para fazer o exame para hepatite C
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