Na medida em que se aproximam as eleições gerais do Brasil, é cada vez mais notório, através dos meios de comunicação, o envolvimento e ativismo político dos líderes de igrejas com a política partidária. As consequên-cias desses acordos, alguns de caráter espúrios, saltam aos olhos de qualquer leigo, comprometem a real função da igreja cristã, especialmente as igrejas dos evangélicos.
É cristalino que no seio desses movimentos existe uma avidez por valores materiais e status político. É assim com quase todas as denominações espalhadas por este Brasil afora. Na contramão, ou em detrimento da missão para qual foram chamadas, estão mesmo é envolvidos até a goela com empreendimentos incompatíveis com o Reino dos Céus. Não menos comprometedor é ver que muitos desses líderes afluem de forma apressada ao Poder Público para oferecer apoios de campanhas eleitorais. Eles apresentam o “rebanho” como barganha para auferir vantagens pessoais. É a política antiga do coronelismo: “É dando que se recebe!”
Esses chefes de igrejas, além de afetar o “rebanho” deixam transparecer um caráter arbitrário. Muitos deles estão à frente de denominações religiosas por “autoridade própria”. Depois não querem ser chamados de ditadores e se aborrecem quando a opinião pública nomeiam suas “igrejas” de curral eleitoral.
Outro problema é que a experiência trágica, recente, advinda da participação de líderes e pastores evangélicos na política, quase nos faz pensar como pensavam os novos secularistas, ao dizer que a história anda sem fé religiosa e que fé não é necessária muito menos decisiva para a política; porquanto a política tem sua autonomia específica e se auto-afirma por si mesma, sem precisar de legitimação política qualquer.
Diante dessa farra, que são os conchavos entre partidos políticos e chefes de rebanhos religiosos, cai aquela ideia ética de antigamente, de que a igreja não pode ter pretensões de poder terreno. Não cabe à igreja assumir papel de protagonista no campo político. Contudo, à luz dos fatos atuais, isso é coisa do passado
Essa postura sem vergonha, no dizer de dois colunistas políticos local, é um ultraje ao Cristo, notadamente ao Cristo crucificado, de cuja vida, sofrimento e morte nasce o Santo Evangelho. Cristo resistiu, quando aqui viveu, aos poderes da ordem social existente e dominante. O Senhor da Igreja Cristã, optou por permanecer ao lado dos mais humildes. Essa gente humilde fazia parte da grande maioria marginal que vivia permanentemente fora do alcance das vazias promessas de Roma de trazer prosperidade e esperança às classes inferiores e degradadas de mulheres e homens.
A Igreja atual, notadamente os “novos evangélicos” tem dificuldades para manter esse fiel testemunho do Senhor Jesus Cristo. Esse deslocamento da visão original de Jesus Cristo é, sem sombra de dúvidas, produto de más doutrinas infiltradas, em longo dos anos, nos bastidores das igrejas evangélicas.
Esquecendo as querelas e a mediocridade dessa questão, o óbvio é que o voto dos evangélicos, que agora conta com uma população de 42 milhões de fiéis, configura-se numa fenomenal força política. Ou como diz o historiador e cientista político brasileiro Boris Fausto (83) “É uma força política plural, pois vão aparecendo diferentes denominações religiosas. Ainda bem que não constituem uma força monolítica! O fato é que o grau de negociação dessas igrejas com os candidatos é intenso e acaba por comprometer o discurso. Quem, com esse tipo de apoio, vai querer discutir direito ao aborto? Quem vai tratar de homossexualidade? Ninguém, a não ser um candidato de um partido menor, sem nenhuma chance de vitória”.
Falou e disse!
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br