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Abandono de animais é problema de saúde pública e a castração pode ser solução

Presidente da SAQP quer controle da natalidade de animais

A quantidade de cães e gatos abandonados nas ruas em Rio Branco, além da questão de maus tratos, é problema também de saúde pública que ainda não sensibiliza a sociedade e as autoridades na busca de uma solução efetiva. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam, em países pobres e emergentes como o Brasil, a proporção de 15 filhotes de cães e 45 de gatos para cada bebê nascido.

No caso dos gatos, a reprodução sem controle torna-se mais grave diante da frequência dos períodos de cio. De acordo com a médica veterinária Fabiana Frota, o ciclo dos felinos se repete a cada 21 dias. Por isso, estima-se que uma cadela ou gata não castrada pode gerar ao longo de sua vida fértil algo em torno de 60 mil descendentes diretos e indiretos.

A reprodução de cães e gatos acontece em progressão geométrica e é simplesmente impossível que você garanta uma vida inteira de cuidados e bem-estar para todos os descendentes dos animais que por sua culpa nascerão e, pior, estarão no mundo reproduzindo.

A omissão diante do problema expõe os animais e os próprios seres humanos a algumas zoonoses. A veterinária explica que, além das verminoses, doenças fúngicas simples, sarna e a raiva, já passadas também pelos cães, os gatos podem transmitir, quando infectados, a esporotricose, a criptocose, leshimaniose e a toxoplasmose.

“Animais abandonados nas ruas ou que são domiciliados, mas têm acesso à rua, possuem maior probabilidade de estarem infectados com qualquer uma destas doenças, algumas delas, podem ser transmitidas para o ser humano”, adverte Fabiana.

Na sua avaliação, há solução para o problema, ainda que de longo prazo. No entanto, para que as ações sejam viáveis é necessário um envolvimento sério e contínuo da sociedade e dos governos municipal, estadual e federal, por meio de seus órgãos públicos.

Ela aponta não haver uma solução única, mas um conjunto de medidas, tais como um amplo programa de recolhimento de animais para abrigos públicos, com recuperação do estado clínico dos mesmos, já que a maioria apresenta as mais diferentes doenças. A medida deve ser acompanhada pela castração em massa com a doação e acompanhamento do animal no novo lar.

A esterilização de cães e gatos ainda é a medida mais eficaz para o atual problema, também defendida por ONGs como a Sociedade Amor a Quatro Patas (SAQP). Na tentativa de reduzir o número de animais nas ruas, alguns Estados oferecem incentivos para quem adotar um bichinho vinda das ruas. Em alguns casos, são oferecidos descontos de até 50% no Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Em outros casos, para maior controle são implantados microchip nos animais adotados.

O direito dos animais é um assunto que tem entrado constantemente em pauta. Muito se discute sobre a violência, abandono e castração, mas poucos aliam essas questões à saúde pública. A lógica é simples, com a castração dos animais haverá menos abandono, menor número de bichos para sofrem com a violência e menos indivíduos transmitirão doenças, tanto de um animal para outro quanto as zoonoses, transmitidas de animais para pessoas.

De acordo com Luciana Souza, presidente da SAQP, a castração é de suma importância para controlar a natalidade dos animais e para administrar a saúde pública com menor custo e maior eficiência.

“Estamos trabalhando para que haja esse tipo de serviço em Rio Branco para que os donos possam castrar seus animais de forma gratuita, em parceria com o Centro de Zoonoses. Esse tipo de serviço já é disponibilizado em outros Estados sem custos para os donos. Com o número reduzido de animais abandonados nas cidades, consequentemente diminuem os casos de mordidas e doenças relativas aos animais”, explicou. Não há números oficiais sobre animais que vivem nas ruas da Capital.

Não existe um número oficial ou censo que quantifiquem o número de animais abandonados pelas ruas da capital, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, revirando o lixo atrás de comida, transmitindo doenças, vivendo ao relento sob o sol forte ou o frio intenso.

Sofrem com maus tratos e a rejeição até que finalmente são recolhidos ou encaminhados ao Centros de Controle de Zoonoses (CCZ). Esse local funciona como depósitos superlotados, pois recebem animais de todos os tamanhos e raças, muitos deles cães e gatos que foram abandonados por quem um dia já lhes prometeu amor e proteção.

Estima-se que, de 10 animais abandonados, 8 já tiveram um lar. São animais que, por um motivo ou outro, foram rejeitados por não atingirem as expectativas de seus “donos” e, por isso, foram descartados. Cresceram demais, adoeceram, não foram educados o suficiente, geraram gastos e aborrecimentos.

Também não há números que comprovem o índice de abandono, pois as pessoas praticam este ato em lugares escondidos, estradas com pouco movimento. “Mas podemos citar que os animais mais velhos, que não ‘servem para algum propósito – segurança, procriação ou por economia – sejam os mais abandonados pelos donos”, disse a presidente da ONG. Outro fator que determina os abandonos é o fator humano, como nascimento de um filho, mudança de endereço ou descaso e descarte do animal como objeto.

“O Brasil não tem leis efetivas para defender os animais principalmente de maus tratos, o que já existem em outros países. O poder público de modo geral carece de políticas para resolver o problema. Por isso, ressalto e parabenizo o trabalho realizado pela Sociedade Amor a Quatro Patas (SAQP)”, aponta a médica veterinária Fabiana Frota.

Pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde estima que no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)


Benefícios para o animal

A castração ainda é um processo cheio de mitos e preconceitos. Mas ele é para o bem do seu animal e uma solução para a grave questão do abandono de cães e gatos no Brasil. Após os três meses de idade, os animais já estão liberados para serem operados.

A cirurgia é bastante simples e aumenta a qualidade de vida do animal. Por exemplo, para cadelas e gatas, evita o tumor de mama e, com relação às fêmeas mais velhas, previne a infecção do útero, cistos, tumores e ovários.

A cirurgia não é feita sem exames prévios para saber qual o estado de saúde do animal. Ela só é impossibilitada em casos de animais mais velhos que possuam histórico de problemas cardíacos, o que faz com que a cirurgia seja recomendada quando o animal é jovem.

O mito mais comum é que tal procedimento afete negativamente na personalidade do animal e na sua virilidade, no caso de machos, o que não é verdade. As mudanças que podem ocorrer são positivas. Animais mais agressivos ficam mais dóceis, os mais agitados, mais calmos, e assim por diante.

Dizem que castração engorda. Isso não é de todo verdade. A cirurgia faz a supressão de alguns hormônios, o que torna algumas atividades comuns como buscar parceiros, marcar territórios e confrontar rivais, desnecessárias.

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