Na eleição de domingo votei em Dilma Rousseff, mas até sábado a noite estava certo que votaria em Aécio Neves. O que me fez mudar? Não compactuo com manipulações e tentativas escancaradas de ganhar eleição no grito. Explico: nessa eleição a sociedade brasileira quase foi vítima da manipulação orquestrada pelo ‘partido da imprensa golpista’ (PIG), termo criado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim para designar o conjunto de grandes empresas de comunicação que monopolizam há décadas a ‘forma e o conteúdo’ das informações que chegam à população brasileira.
Refiro-me ao episódio protagonizado pela revista ‘Veja’, amplamente difundido pelos integrantes do PIG, que afirma em sua última edição que o doleiro Alberto Youssef denunciou a autoridades policiais e judiciárias a participação da presidente Dilma e do ex-presidente Lula nos desvios financeiros ocorridos na Petrobrás. O depoimento do doleiro foi acompanhado por seu advogado, que ao ser questionado negou ter ouvido tal afirmação.
Para caracterizar o interesse eleitoreiro, a revista antecipou de sábado para quinta-feira a publicação de sua capa e de parte do texto da reportagem. Além disso, não é preciso lembrar que o interesse em ‘vazar’ partes do processo – que supostamente deveria correr em segredo de Justiça – não é canônico, especialmente porque aconteceu na véspera da eleição.
A orquestração patrocinada pelo PIG esta semana não tem nada a ver com a liberdade que a verdadeira imprensa – conservadora ou progressista – tanto reclama. Liberdade de informar tem que vir atrelada com a responsabilidade de apurar e a oportunidade do contraditório para os acusados. O que o Jornal Nacional protagonizou no sábado (25/10) é um exemplo didático do ‘jornalismo de esgoto’. Não deu a Lula espaço para se defender. Não repercutiu a denúncia na sexta, mesmo com tempo de sobra para elaborar sobre o tema. Preferiu ‘fazer a festa’ no sábado, véspera da eleição, quando tentativas de esclarecimentos não iriam ter efeito algum no pleito ocorrido no domingo.
Como bem afirmou o colunista Ricardo Melo no jornal Folha de S. Paulo “A triste realidade: bandoleiros de gravata, travestidos de “bem informados”, tentam dar credibilidade a histórias oriundas de porões. A forma e o conteúdo, mais uma vez, andaram de mãos dadas”.
E para os leitores mais jovens, que não conhecem ou se interessam em buscar outros fatos protagonizados pelos integrantes do PIG, fazemos questão de relembrar os episódios que resultaram na eleição de Fernando Collor em 1989.
Não consigo esquecer a manipulação que a Globo fez do debate Collor x Lula no Jornal Nacional exibido na véspera daquela eleição, quando, como agora, não era mais possível reparar a verdade dos fatos. No debate Collor x Lula houve um claro equilíbrio, mas na matéria exibida pelo Jornal Nacional, Collor deu ‘um banho’ em Lula.
E o episódio do sequestro, por terroristas chilenos, do empresário Abílio Diniz? Diniz foi ‘libertado’ no sábado, véspera do embate final Collor x Lula. Os integrantes do PIG não perderam a oportunidade de fazer a ligação do PT com os sequestradores: a polícia – atendendo interesses não esclarecidos até hoje – plantou material de propaganda do PT no cativeiro e, depois de torturar os sequestradores – que apareceram sujos, maltrapilhos, com olhos inchados e lábios partidos -, os fez posar com camisetas brancas, limpas e imaculadas, com propaganda do PT. As fotos foram amplamente divulgadas e um diário de Rio Branco deu como manchete na manhã da eleição ‘PT sequestra Abílio Diniz’. Como Lula poderia ganhar aquela eleição?
Se me arrependo de ter votado em Dilma? O tempo, o senhor da razão, dirá. Hoje tenho minha consciência tranquila, mas se minha escolha se mostrar equivocada poderei me corrigir na próxima eleição, daqui a quatro anos. Essa é a vantagem da democracia e não podemos negar, eleitores de Aécio inclusos, que a vitória de Dilma é uma vitória de nossa democracia.
Quanto aos que tentaram manipular o resultado dessa eleição, a vitória de Dilma representa um duro golpe em suas pretensões. Resta saber se Aécio fez parte da trama tendo em vista a exploração que fez de forma tão didática, quase orquestrada com o PIG, das denúncias de Veja em seu programa eleitoral, no debate da Globo e em declarações para a imprensa geral.
Eu terei paciência de aguardar os desdobramentos do inqué-rito policial e do processo judicial. Se houver culpados tenho certeza que pagarão pelos delitos cometidos. José Genoino, José Dirceu, Delúbio Soares, Roberto Jefferson e tantos outros cardeais do PT e de partidos aliados estão ai para provar que nossa justiça tarda, mas não falha. (Evandro Ferreira / Extraído do Blog Ambiente Acreano)