Precisamente quatro anos atrás, deste mesmo espaço, quando o Brasil todo vivia a expectativa de quem seria o novo presidente, se Dilma ou Serra, este articulista citava a práxis do Lula, de unir a sua teoria simplória a prática, com o fim, principalmente de alcançar, com três refeições diárias, os mais humildes, gente sofrida mesmo. Essa práxis, considerada ingênua por muitos especialistas, com o tempo debelou a fome, tão antiga quanto à incompetência do homem em erradicá-la do seu convívio diário, e cessou em milhares de lares brasileiros. Não é à toa que se apregoava nos quatro cantos do Norte e Nordeste brasileiro que Dilma, candidata do Lula, era melhor para a região. Dilma seria a continuidade e garantiria a manutenção desse programa. Até aqui, no Acre, o refrão de que Dilma era, e continua sendo, melhor para a região se faz presente de forma implacável. Afinal a miséria que ainda afeta algumas famílias do interior do Estado e, não podemos negar, da periferia de Rio Branco, deveria fazer reverberar, nestas plagas, a mesma preferência dos eleitores do Nordeste, visto que só no semi-árido nordestino, existem 15 milhões de miseráveis.
Ressalte-se que, no crepúsculo de sua missão, como presidente de direito já que de fato ainda hoje fala e dá pitacos como se fora o presidente, com os avanços no campo social, decantado como o melhor presidente da história republicana brasileira, sufragado por milhões de homens e mulheres que, até ali, eram vítimas de governos fracos e omissos, bem como incapazes, quando se tratava de assegurar ao pobre, todos os direitos de que são credores, Luis Inácio Lula da Silva, provavelmente o último populista da política partidária brasileira, com seu discurso de guerra à pobreza e à desigualdade, vivia a perspectiva de os eleitores brasileiros elevarem Dilma à presidência da república. O que confirmaria que sua práxis é o melhor modelo de governar este país. Com a eleição de Dilma, Lula saiu do governo de “alma lavada”. Afinal, sua práxis dera certo!
Doze anos depois, essa práxis de optar pelos pobres e desvalidos da rica nação brasileira continua. Sabem por quê? Porque, em muitas regiões do Brasil, mais da metade da população brasileira ainda não tem acesso a saneamento básico. Pelo menos é o que revelou uma pesquisa feita recentemente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o Instituto Trata Brasil. Nesta mesma pesquisa, chamou atenção os investimentos consideráveis, em direção ao problema, advindos do atual governo federal, a partir da implantação do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Sabe-se, entretanto que para universalizar o serviço, são ou seriam necessários aportes financeiros cinco vezes mais dos investimentos feitos até aqui, já que, que o índice apontando que mais de 50% dos brasileiros não tem saneamento básico é, além de preocupante, alarmante. Não menos inquietante, é constatar que o número de moradores em favelas, tem aumentado consideravelmente. Em Brasília/DF, pasme o leitor, a incidência subiu mais de 50% em apenas cinco anos.
O governo da presidente Dilma aposta, como práxis de campanha, no ainda sofrido povo que vive as agruras das desigualdades regionais. Afinal, somos campeões em desigualdades regionais. Contraste produzido por uma estrutura iníqua, pois afinal, sempre fomos, por natureza, um país rico habitado por um povo, em sua maioria, miserável.
Com essa práxis Dilma tem tido considerável progresso no campo social, notadamente, entre os que viviam, pois não vivem mais, abaixo da linha de pobreza. Esse conjunto de práticas descentralizou os recursos, via BNDES, que até pouco tempo atrás eram destinados, em percentuais alarmantes, apenas as grandes empresas localizadas no Sudeste e Centro Oeste. Hoje, o Norte e o Nordeste passaram, também, a receber melhores incentivos. A propósito, o Nordeste atualmente é outro: respira progresso. Mesmo a região do semi-árido nordestino, citado acima, que na década passada era povoado por aproximadamente 15 milhões de miseráveis, hoje já enxerga novos horizontes.
Digno de menção, é o fato de em meio a tantas corrupções envolvendo vários setores do seu governo, bem como do seu partido de apoio, o PT, em longo desses 12 anos, especialmente o “mensalão” e o atual esquema de corrupção na Petrobrás, Lula no passado e Dilma no presente, não abriram mão dessa práxis. A presidente Dilma, p.ex., com austeridade, não tem permitido que setores viciados da sociedade de grupos organizados continuem intermediando os recursos destinados às necessidades dos municípios que é onde os problemas e as soluções precisam ser discutidos e dirimidos. Sabe-se, inclusive com raras exceções, que a maioria das administrações municipais do Brasil passa hoje, criteriosamente, pelo crivo da prestação de contas. Essa práxis, essa tarefa, ou a ação de levar a cabo, como designava o termo no pensamento da filosofia grega. Alias, o marxismo antigo, não o de hoje, foi apresentado como uma “filosofia da práxis”. A práxis do marxismo visava criar condições indispensáveis à existência, a sobrevivência, de um povo ou sociedade. Pois é, com essa práxis que a presidente Dilma, apesar dos pesares, conta para ganhar a eleição de amanhã (26.10.2014), pois os votos destes inditosos, por mais estranho que possa parecer, farão a diferença nesta pugna eleitoral, colocando sobre os ombros de quem for eleito Presidente da Republica, a responsabilidade em fazer realçar, cada vez mais, uma política de combate à pobreza, orientada pelo menos em princípios fundamentais, que no dizer do professor Pedro Demo, é: o direito radical de assistência para garantir a sobrevivência; o direito de inserção no mercado, para que possa existir auto-sustentação e; o direito de cidadania, para que possa ocorrer emancipação.
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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