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O sufrágio da quimera!

O sufrágio de amanhã, domingo dia 05/10/14, em todo Brasil, deve refletir as legítimas ansiedades do povo, achacado, infelizmente, por uma realidade duríssima. O voto, aqui ou em qualquer lugar da pátria mãe, é o exercício da esperança renovada; esperança circundada pela expectativa, quase angustiante, de dias menos aperreados, sobretudo para os que sofrem na pele os male de não ter, no dia-a-dia, os serviços públicos almejados.

Desta vez vou às urnas com uma motivação além da obrigatoriedade do escrutínio. Não vou tão somente porque se eu não for, pela minha desobediência, sofrerei pesadas medidas repressivas. Vou, pelo exercício do voto. Talvez um dia este quase setentão aprenda a votar, já que incentivo para votar é o que não falta nesta nação. A cada dois anos, somos obrigados a ir às urnas, quer em nível municipal, quer em nível estadual e federal, como agora.

O meu voto, ingenuamente, é sufrágio da quimera. Sufrágio do sonho de desejar que os nobres candidatos eleitos, à meia noite de domingo já saberemos quem são, entendam finalmente que, num sistema republicano, em que o povo exerce soberania, ninguém é dono do poder. “O poder emana do povo através do povo”. De fazê-los entender que o Estado, pelo menos na teoria de alguns antigos pensadores, p.ex. Hobbes e Locke, é uma entidade subalterna aos indivíduos. Fazê-los aceitar que a política é um confronto de ideias, não um balcão de negócios altamente rentável.

O meu voto é quimérico, pois é o voto de quem sonha não mais presenciar ou ouvir, neste país, o surgimento de novos e terríveis crimes venais, iguais aos que o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, traz à tona, que se repetem a cada minuto e nos chocam e nos deixam mentalmente transtornados. É o sufrágio de quem quer espantar, de uma vez por todas os maus presságios que circundam a política nacional; é o voto de quem não quer ver aqui e ali, a contumaz violência  que permeia as nossas cidades; é o voto pela extinção de partidos políticos que, em sua maioria, nada mais são que siglas de aluguel, de algumas figuras endinheiradas, de mentes espertas; é o voto de quem vive a expectativa, a exemplo de outros milhões de brasileiros, de que os que forem alçados ao poder público, legisladores estaduais, governadores, congressistas e presidente da república, sejam possuidores de conduta ilibada e fiéis às propostas de campanha; que estejam dispostos a pagar o alto preço do serviço publico sem se deixarem contaminar pelo canto da sereia; que não aceitem cooptação venha de onde vier;  que tenham domínio próprio, pois aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros.

O meu voto vai sobejado de esperança de que, nestas eleições, seja resgatado o caráter coletivo, a ética e a consciência política das pessoas; valores democráticos que têm sido corroídos pela postura de maus políticos, que praticam a política da amoralidade, dos conchavos, dos arremedos de democracia e do totalitarismo extremado, tanto da direita, quanto da esquerda.

Não podemos negar que as campanhas partidárias, de norte a sul do país, tiveram como tônica principal o despautério da maioria dos candidatos. Com a facilidade da comunicação instantânea, especialmente por meio do aplicativo WhatsApp todos se ridicularizaram: governadores, governados; prefeitos, munícipes; ministros, senadores e deputados; candidatos velhos, jovens; fortes, fracos; sábios, ignorantes de todos os municípios; de todas as idades e de todas as condições sociais. A desmoralização foi geral. Negócio feio, mesmo!

Não menos feio, é a descarada compra e venda de votos. No Acre, a disputa por uma cadeira de deputado estadual vale tudo. “O jogo é pesado” diz o jornalista Luís Carlos M. Jorge, na sua famosa coluna política, aqui ao lado. “Um mercado persa!” enfatiza o Crica.

Então, neste domingo, enquanto deposito meu voto de confiança, ao nomear os meus virtuais representantes, despojo-me por algumas horas do meu pessimismo crônico e encho o meu íntimo de ilusão, ou utopia, ensejando que nesta eleição possamos extirpar da vida pública essa gente capaz de vender a própria mãe, no grande afã de alcançar o poder público.

Em nível de Acre, dedico o meu voto quimérico, ao povo do município de Jordão, na ardente expectativa de melhores dias. O Jordão é um município isolado, separado de tudo e de todos.

Essa distinção na realidade social do Jordão, que pode ser intencional ou não-intencional, revela a ausência de programas de ação social que minimizem, em parte, as agruras dos filhos deste município, pois não há dúvidas que esses acreanos estão sendo vítimas de descaso por parte do poder público.

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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