Depois do seu nascimento, há 21 séculos, em Belém Efrata num humilde estábulo, dentro dum tabuleiro em que se põe comida para os animais nas estrebarias. As evidências do padrão de vida que Jesus teve enquanto permaneceu entre nós, cerca de 30 ou 33 anos, são de quase estrita pobreza, condições humilhantes, para os padrões de vida moderna. Por providência divina seus pais, Maria e José, receberam ofertas que permitiu à família esconder-se da ira de Herodes, no Egito. De volta do Egito, onde, provavelmente, viveu seus primeiros dois anos, radicou-se com seus pais em Nazaré, onde morava numa casa feita de pedra, madeira e terra, que não tinha mais do que 20m2; o piso era feito normalmente de chão batido. Instalações como banheiros existiam apenas na casa de pessoas muito abastadas; a maioria dos habitantes fazia suas necessidades fisiológicas em pinico ou se aliviava no mato. Mobílias eram poucas e pouquíssimos tinham cama; os pobres dormiam no chão. Os telhados das casas, dizem os bons e honestos livros de história sobre a vida humana de Jesus, eram planos e utilizados para secar roupas e frutos, guardar ferramentas ou até mesmo para dormir. As casas tinham normalmente apenas uma porta, que servia de fonte de luz e ar. Janelas eram raras e normalmente pequenas, de maneira que não havia muita iluminação e circulação de ar. O pátio era parte integrante da casa e servia como lugar para as atividades domésticas, como lavar e cozinhar. A água provinha normalmente de cisternas, que armazenavam água da chuva.
Com José, Jesus aprendeu o ofício de carpinteiro, profissão que até onde se sabe, em qualquer época ou mundo possível, nunca deixou alguém rico. Viveu em Nazaré até completar, aproximadamente, 30 anos, quando então iniciou sua missão.
Jesus era tão humilde, que o povo da cidade de Nazaré não aceitou que alguém com uma origem tão paupérrima pudesse ser o Messias. A cidade ficou ofendida com ele; rejeitou e se escandalizou com a ideia de Jesus, o carpinteiro, afirmar ser o ungido de Deus. Alguns perguntaram: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria?”.
Depois de sacudir a poeira das sandálias e sair de Nazaré, interior da Galiléia, Jesus foi para Cafarnaum. Nesta cidade as pessoas que Jesus conheceu e se relacionou faziam parte da grande maioria marginal que vivia permanentemente fora do alcance das vazias promessas de Roma de trazer prosperidade e esperança até mesmo às classes inferiores e degradadas de mulheres e homens.
Além disso, o sentido da missão de Jesus Cristo e o método que usou foram inaceitáveis para seus contemporâneos e parece que ainda é, hoje, para alguns “cristãos” do presente século, ávidos por poder terreno e riquezas; suas palavras provocaram ira e oposição. Foram aos pobres, as vítimas da sociedade, aos débeis, abandonados e explorados pelos poderosos e aos marginalizados, a quem Jesus dirigiu primeiramente seu ministério. Jesus Cristo sempre se mostrou ao lado dos pobres, pois a pobreza não é uma virtude, mas desafio à justiça Divina. Sua presença em meio aos humildes foi à presença de um pobre entre os pobres. Foi um cidadão pobre numa província pobre do tributário Império Romano. O “proletário de Nazaré” identificou-se primeiramente com o povo e depois o confrontou com a visão do Reino. Suas referências, ilustrações e linguagem correspondem ao estilo de vida das classes mais simples da sociedade.
O nascimento de Jesus é a decorrência de toda a história da humanidade, pois em vista desse dia sem igual, tudo foi concebido e criado, é o que nos diz o apóstolo São Paulo em sua epístola aos Efésios (1.3-10). Fora de Jesus Cristo, diria Pascal, não sabemos o que é a vida, o que é a morte, nem o que é Deus, nem o que somos nós mesmos.
O Natal desse menino pobre de Nazaré não é uma mera ilusão. O Natal transcende toda e qualquer falsa esperança e a tudo o que é passageiro, excede até mesmo ao generoso, gordo, bonachão e barbudo Papai Noel, visto que o Natal se radicaliza em Jesus Cristo, a verdadeira esperança de um novo amanhecer.
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: [email protected]