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Cheia do Rio Madeira: autoridades do Acre traçam plano de contingência para evitar desabastecimento

ENCHENTE – ESPECIAL – PARTE 2

*GLEYDISON MEIRELES
*MARCELA JANSEN

Cheia histórica do Rio Madeira em 2014 atingiu a BR-364, danificou a estrada e isolou o Acre do restante do país

Com o período chuvoso se intensificando, uma nova cheia do Rio Madeira já não é mais vista pelas autoridades como uma possibilidade, mas como um fato iminente. O Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) afirma que a apesar da ocorrência de uma nova cheia ser inevitável, não irá se assemelhar a enchente ocorrida em 2014.

Mesmo com essa ‘garantia’, a preocupação de um novo isolamento do resto do país tem sido motivo de uma série de reuniões entre as autoridades acreanas e rondonienses, a fim de elaborar medidas para minimizar possíveis problemas.

No Acre, o governo já deu início à elaboração de um plano de contingência. Reuniões com empresários de diversos segmentos estão sendo realizadas ao longo dos últimos dias. O objetivo é preparar uma estrutura adequada para os transportes de mercadorias, caso a estrada seja realmente encoberta pelas águas.

A ideia é evitar que se repita o que ocorreu no ano passado, quando a enchente provocou a falta de vários produtos no mercado acreano. A população enfrentou principalmente, a escassez de alimentos e combustíveis. Diante do temor do desabastecimento, muitos tentaram estocar produtos, o que acabou agravando ainda mais a crise que se instalou nas principais cidades do Acre.

Por hora, a trafegabilidade na BR-364, sentido Rondônia/Acre, continua dentro da normalidade, mesmo com a água próxima de atingir a estrada.

De acordo com a Defesa Civil, o coordenador da Defesa Civil de Rondônia, cel. José Pimentel, o nível do Rio Madeira continua subindo. Na terça- feira, 27, o rio marcava 15,28 metros, se aproximando ainda mais da cota de transbordamento que é de 16,69 metros. Em 2014, quando ocorreu a cheia histórica, na mesma data, o nível registrado foi 15,15 metros.

Segundo a medição realizada na terça-feira, faltam apenas 52 centímetros para atingir a BR-364.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Supermercados já começam a estocar alimentos

Donos de supermercados negociam locação de galpões para evitar desabastecimento

Temendo um possível isolamento, a Associação Acreana de Supermercados (Asas) vem orientando os empresários do respectivo ramo a aumentar seus estoques de mercadorias. Para isso, os gestores estão negociando a locação de galpões para depositar maiores quantidades de alimentos não perecíveis.

Segundo o presidente da Asas, Luiz Deliberato Filho, atualmente os supermercados trabalham com estoque para durar uma média de 60 dias. Com a aquisição dos novos galpões, eles poderão estocar alimentos para um período superior a 90 dias.

“Estamos buscando a alternativa de locar galpões ‘lonados’ para que possamos nos precaver com um volume maior de estoque, a fim de evitar qualquer problema de desabastecimento”, frisou.

O empresário Marcello Moura, proprietário do grupo Recol e da linha de supermercado Pague Pouco, confirma que a pretensão é aumentar a estocagem. Ele ressalta que algumas medidas ainda estão sendo tomadas junto ao Governo do Estado para que o plano seja efetuado.

“Duas semanas atrás, o governo foi até Brasília para viabilizar uma linha de crédito específica para que possamos aumentar o nosso estoque de mercadorias. Esse apoio ao governo é fundamental, pois duplicar o estoque não é tão fácil como se imagina”, disse.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Drogarias, concessionárias e lojas de eletrodomésticos reforçam seus estoques

Drogarias de Rio Branco também buscam alternativas para evitar a falta de medicamentos

A preocupação com a cheia do Rio Madeira e o possível isolamento do Acre em relação às outras unidades da federação não abrange apenas empresários dos ramos de alimentos e combustíveis. As drogarias de Rio Branco também buscam alternativas para evitar a falta de medicamentos.

O empresário José de Oliveira Cruz, proprietário da Drogaria Popular, informou que possui um bom estoque de medicamentos, porém, havendo a escassez de algum remédio, estarão buscando via aérea. “Estamos atentos à situação. Por enquanto, nossos medicamentos estão chegando por via terrestre. No entanto, já estamos programando, se necessário, a vinda por via aérea. Vamos nos manter abastecidos”.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Postos de combustíveis também estão atentos
Quanto ao setor de combustível, ações no sentido de evitar uma possível escassez também já estão sendo tomadas. A ideia é trazer o produto através de uma rota alternativa. O Governo do Estado já sinalizou a possibilidade importar o produto do Peru.

Um dos gerentes do Posto Ipiranga, localizado na entrada da cidade, afirma que o estabelecimento já estuda a possibilidade de receber o combustível através de Cruzeiro do Sul. “Por enquanto, nosso produto continua chegando pela BR. Mas, em caso de haver a interdição da estrada, já estamos prontos para receber o combustível via balsa, por Cruzeiro do Sul”, disse Geraldo da Silva.

Nova cheia no Rio Madeira preocupa Associação Comercial do Acre
A elevação do nível das águas já está causando preocupação no setor empresarial do Estado. Tanto atacadistas quanto varejistas já traçam um plano estratégico para minimizar os problemas que uma nova crise no abastecimento pode acarretar.

Segundo o presidente da Associação Comercial do Acre (Acisa), Jurilande Aragão, desde novembro de 2014 o órgão vem alertando aos empresários do possível isolamento do Acre. Segundo ele, a preocupação da Acisa em antecipar esse debate foi fundamental para que hoje os comerciantes pudessem se preparar melhor para enfrentar a situação.

“Temos feitos reuniões a todo o momento para deixar os empresários a par da real situação do Madeira. Vamos contar tudo que for necessário e colocar em prática nosso plano de contingência. Isso não quer dizer que teremos uma crise, mas queremos fazer de tudo para que, em caso de ela aparecer, nossa população não sofra com preços altos ou falta de produtos nas prateleiras de nossas empresas”, destacou o presidente.

Por fim, Jurilande afirma que a população acreana não precisa temer um desabastecimento. “Os consumidores não precisam ficar com receio de uma grave crise, pois estamos nos organizando para manter o controle da situação nesse ano”, disse.

Caminhoneiros afirmam que o tráfego é normal na BR-364

Ailton aposta em medidas eficientes das autoridades

Após ouvir técnicos, Defesa Civil, Dnit, PRF e Governo do Acre, o jornal A GAZETA procurou saber quem está em contato quase que diariamente com os trechos que em 2014 foram os mais atingidos durante a cheia do Madeira: os caminhoneiros.

A reportagem conversou com os profissionais e eles garantiram que, apesar das fortes chuvas que atingiram a região nos últimos dias, nos trechos mais afetados na alagação do ano passado o tráfego é normal para todos os tipos de veículos. Até arriscaram o palpite de que esse ano o Acre não ficará tão ‘isolado’ do restante do país, como ocorreu em 2014.

Trabalhando com o transporte de cargas há 32 anos, o carreteiro Ailton Brogni, o ‘Morcegão’, afirmou que a situação na estrada está tranquila e que nos trechos mais críticos o nível das águas está a cerca de 50 cm das margens da rodovia. ‘Morcegão’ acredita que se houver alagamento na estrada a situação será mais amena do que em 2014, quando o trecho ficou totalmente interditado.

“Acredito que se houver outro alagamento na estrada a situação será mais tranquila do que no ano passado. Os trechos que apresentaram problemas em 2014 foram elevados após a enchente. E, com certeza, pelo menos o transporte de cargas não será comprometido”, comentou o profissional.

Pensamento igual tem o caminhoneiro José Arimatéia. Trabalhando com o transporte de cargas para a Região Norte há 5 anos, ele afirmou que todas essas notícias de um novo isolamento por conta de uma nova cheia do Rio Madeira tem mais especulações do que verdade.

“É fato que o rio está enchendo e isso não podemos negar. Mas acredito que existe mais especulação. Mais fantasia em tudo que está sendo dito do que é realmente verdade. Passei por esse trecho e vejo que a água ainda está distante da rodovia. Caso ocorra da água atingir a estrada, não será como no ano passado”, afirmou Arimatéia.

Durante a conversa com os caminhoneiros, houveram as mais variadas declarações a respeito da BR-364. Só que todas têm uma mesma conclusão: Se a BR-364 alagar, não terá as mesmas proporções do que no ano passado.

(FOTO: GLEYDISON  MEIRELES/AGAZETA)

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