Outro dia em entrevista à TV Senado, o sociólogo italiano contemporâneo Domenico De Masi disse que a principal característica do capitalismo é a “CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZAS”. No Brasil três quartos da riqueza existentes estão concentrados nas mãos de apenas 10% da população. Riquezas imensuráveis continuam nas mãos de poucos, enquanto a miséria é privilégio de muitos. Serve como consolo dizer que, em tempos idos, já foi pior!
Então, vivemos uma sociedade política levedada, uma vez que entre nós, tupiniquins, a palavra Estado, em linguagem comum, na Constituição e nas leis, designa as unidades federadas, e o Brasil, como estado Federal é denominado União. Sociedade fermentada, isto é não pura, porque do ângulo sociológico, o Estado é uma sociedade política global, que envolve outras sociedades políticas, como p.ex. os municípios. O Estado é uma sociedade política, mas também uma sociedade natural, no sentido de que decorre naturalmente do fato de os homens viverem em sociedade e aspirarem ao bem geral que lhes é próprio, isto é, o bem público. Mesmo os políticólogos e politicistas sabem disso, ou deveriam saber. Resumindo a seus elementos essenciais podemos dizer que a sociedade política é um grupo humano organizado, com poder próprio, para realizar o bem comum de seus membros.
Repetindo: uma sociedade política genuína ou pura, sem utopias, é um grupo humano organizado, com poder próprio, para realizar o bem comum de seus membros. Regula-se pela idéia de humanidade e de perfectibilidade humana. Tal fato remete o grupo humano para o plano da comunidade universal, para a perspectiva de uma cidadania cosmopolita. Agir considerando a humanidade em si mesmo e na pessoa dos demais, nunca como meio, mas sempre como fim em si mesmo, implica estabelecer outra forma de relação com os seres humanos e com a natureza. Aí não pode haver espaço para a instrumentalização. Este ideal de uma civilização cosmopolita permite que os seres humanos possam se sentir e se tratar como membros de uma só comunidade, não apenas pelo estreitamento das relações interpessoais, quanto pelo fato de compartilharem uma causa comum. Compartilhar a mesma condição, reconhecer em si e nos demais a mesma dignidade, enfim, sentir-se no mundo como coabitantes da mesma.
Nessa trilha, o ideal democrático “surgiu” como conceito séculos antes de Cristo. Foi exposto em Ética a Nicomâco, obra em que Aristóteles investiga em torno do que deve ser o bem e o bem supremo. Conforme o próprio Aristóteles, esse ideal em essência ou ciência “parece ser a política”. “Com efeito, essa política, determina quais são as ciências necessárias nas cidades, quais as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto. Dessa forma, o conceito grego de política como esfera de realização do bem comum tornou-se clássico, teve vida longa na tradição filosófica e permanece até os nosso dias, mesmo que seja como um ideal a ser alcançado”.
Thomas Hobbes (1588-1679) p. ex., dizia: “A Política e a ética, ou seja, a ciência do justo,do injusto, ou do iníquo, pode ser demonstrada a priori ,visto que nós mesmos fizemos os princípios, pelos quais se podem julgar o que é justo e equânime,ou seus contrários, vale dizer, as causas da justiça, que são as leis ou as convenções”. Neste sentido, dizem especialistas, todas as obras sobre direito natural foram consideradas tratados de Política.
Por sua vez, o conceito moderno de política, no dizer de Norberto Bobbio (1909-2004) está estreitamente ligado ao poder. O julgamento de Bobbio é corroborado por cientistas políticos da atualidade. Segundo os quais, a política é o processo de formação, distribuição e exercício do poder.
Exerce o poder quem tem mais poder de “barganha”, principalmente de manipular pesquisas, ou como queiram de intenções de votos.
Hoje, infelizmente, vive-se uma sociologia política levedada, possivelmente pela força da globalização mundial e suas constantes mutações. O que se constrói pela manhã é substituído à tarde pelo “novo” e assim vai. Na presente sociedade, chamada de pós-moderna não tem nada pronto, nada perdura e tudo sofre mudanças bruscas. Vivemos o caos (desordem) social diferentemente, sem saudosismo, dos bons dias de antigamente, quando parecíamos ter poucos problemas sérios e a vida era confortável, serena e previsível.
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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