Eu não embarco na “demonização” do PT orquestrada pelas elites do sul, sudeste e centro-oeste do Brasil em conluio com a mídia rica dessas regiões. A campanha odiosa agrada aos “filhotes” da ditadura civil-militar (1964-1985), saudosos da truculência e da corrupção que a dita cuja instituiu no País naqueles anos de chumbo. Concordo com o filósofo e escritor Leonardo Boff, para quem, por trás da orquestração feroz contra o Partido dos Trabalhadores, o que existe mesmo é o “ódio das elites contra o povo brasileiro”.
Num artigo publicado terça-feira, 10, no Página 20, Boff lembra aos leitores uma pesquisa feita por Márcio Pochmann em seu Atlas da Desigualdade no Brasil que aponta este absurdo de dado: “45% de toda a renda e a riqueza nacionais é apropriada por apenas 5 mil famílias extensas”. Ou seja, num país de 200 milhões de habitantes, o maior e mais influente do continente, todos os bens e vantagens são usufruídos por ínfima parcela de nababos. É, claro, essa minoria luxenta que alimenta a escória da classe política e do empresariado, bem como a mídia que a aplaude.
Os dirigentes políticos, os militares, o empresariado e a intelectualidade burguesa de São Paulo, sobretudo, me parecem em parte suspeitos. Porque estão acasalados com os piores segmentos da sociedade e agem criminosamente com os menos informados, e por isso vulneráveis, induzindo massas populares a manobras politicas perversas. Para o que contribuem as redes sociais na Internet, democráticas, mas ao mesmo tempo anárquicas e principalmente desqualificadas.
O jornalista Paulo Nogueira, fundador e diretor do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo, em novembro do ano passado (portanto após as eleições de outubro), assinou o artigo “O odiojornalismo…” em que fornece exemplos de como a mídia comprometida com o grupo derrotado na disputa presidencial toma as dores das elites contra a escolha soberana do povo:
“O ódio que a revista Veja semeia com tanta obsessão” – diz ele – “se refletiu manifestações criminosas, nas redes sociais, contra os nordestinos. Diogo Mainardi, o primeiro “odioarticulista” da revista, há poucos dias chamou os nordestinos de “bovinos” num programa de televisão que vai se tornando igual à revista, o Manhattan Connection”.
Já o blogueiro da Veja, Augusto Nunes, “o gênio cosmopolita de Taquaritinga”, segundo o articulista “acha que está sendo engraçado ao tratar Lula como o “presidente retirante” e Evo Morales como “índio de topete”. Paulo Nogueira entende que Diogo Mainardi, que também andou falando mal do Acre tempos atrás, espalha “sua má fé e falta de princípios jornalísticos” na grande mídia brasileira: “Mainardis e derivados infestam jornais, revistas, rádios, tevê”.
O “odiojornalismo”, por princípio intolerável, não pode, naturalmente, ser patrocinado pelo dinheiro público: “O anunciante privado que quiser prestigiar este tipo de pseudojornalismo tem inteira liberdade para fazer isso. Mas o dinheiro público não pode ser torrado numa coisa tão predadora”.
O que estamos vendo (lendo) nestes dias é mais odioso. A imprensa de um modo geral procura convencer a sociedade brasileira de que o PT é o partido vilão da República, e causa de todos os males, ao mesmo tempo em que minimiza os malfeitos de outras siglas mais envolvidas no escândalo da Petrobrás. No bojo da campanha antidemocrática, a presidente reeleita Dilma Rousseff é condenada antecipadamente pela mídia elitista, enquanto as redes sociais acenam para a ditadura civil-militar que a torturou no passado.
Na verdade, alguns nomes nacionais do PT estão a merecer punição no caso Petrobrás – isso a Justiça vai decidir, – mas, certamente, eles não são os patifes principais dessa história. Enquanto isso, é bom que o povo brasileiro se previna contra o ódio criminoso que ameaça sua crescente importância na vida política do país.
* ELSON MARTINS