Em maio de 2013, a reconstituição de fragmentos da carapaça e da parte inferior do casco de um quelônio encontrado 16 anos antes, na região de Assis Brasil, pôs a Universidade Federal do Acre (Ufac) em evidência para todo o país. Pesquisadores locais tinham descoberto e acabado de montar o maior, e mais completo, exemplar de jabuti fóssil já descrito pela ciência. Dois anos depois, os estudos continuam. A expectativa atual é detalhar e nominar cientificamente o exemplar que pode comprovar a ancestralidade direta dos jabutis gigantes que habitam, até hoje, as ilhas Galápagos, distante mil quilômetros da costa do Equador.
O grau de parentesco, se comprovado, confirmaria uma hipótese antiga, levantada pelo naturalista britânico Charles Darwin durante suas pesquisas, em 1835, no arquipélago equatoriano, com conclusão, posteriormente, publicada no livro “A Origem das Espécies”. “Para ele, esses jabutis deveriam ter vindo do continente sul-americano. No entanto, se comparamos os jabutis de Galápagos com os atuais da América do Sul, verificamos que eles são desproporcionalmente grandes em relação aos seus primos do continente”, diz o coordenador do laboratório de ornitologia da Ufac e orientador do trabalho de montagem do exemplar, Edson Guilherme, que acaba de chegar de uma viagem a Galápagos. “Com o encontro dos jabutis gigantes na América do Sul, é mais plausível acreditar que foram os ancestrais desses gigantes que acabaram chegando às ilhas e não os pequenos que hoje vivem aqui”, completa.
Guilherme lembra que fragmentos de jabutis de grande porte — menores que o identificado no Acre, no entanto — também foram encontrados na Argentina e no Chile. A teoria é a de que os gigantes que se estabeleceram no arquipélago equatoriano sobreviveram e prosperaram graças às condições climáticas, e os que ficaram no continente sul-americano acabaram extintos devido a uma grande seca.
“As semelhanças entre a carapaça do jabuti de Galápagos e o exemplar depositado na Ufac, o qual viveu na região há 8 milhões de anos são, à primeira vista, impressionantes. Essas semelhanças reforçam a ideia de que os ancestrais dos jabutis gigantes de Galápagos viveram na Amazônia pretérita muito antes de ficarem ilhados no meio do pacífico”, diz o pesquisador.
Quase duas vezes maior que os gigantes de Galápagos
O fóssil do jabuti exposto no Laboratório de Pesquisas Paleontológicas da Ufac foi encontrado pelos pesquisadores na margem esquerda do rio Acre, na fronteira com o Peru, em 1995. As dimensões impressionaram. Ele mede, aproximadamente, 1,65 metro de comprimento, um metro de altura e outros 90 centímetros de largura, quase o dobro das características dos possíveis parentes do Equador.
Os fragmentos da carapaça e do casco ficaram depositados no laboratório por 16 anos até o início da montagem pelo técnico do laboratório Wagner Vasconcelos, com orientação do professor Guilherme. O trabalho de reconstituição total das peças levou dois anos.
Para Guilherme, em vida, o animal deveria pesar mais de 300 quilos, com hábito alimentar composto basicamente de gramíneas, frutos caídos, folhas de árvores e, eventualmente, carniça. O imenso jabuti viveu durante o período chamado pelos paleontólogos e geólogos de mioceno superior, equivalente a uma idade aproximada entre 8 e 5 milhões de anos.
O estudioso acredita que um trabalho em conjunto realizado entre pesquisadores da Ufac e de Galápagos ajudaria a revelar quais as semelhanças morfológicas existentes entre os jabutis atuais e os do passado. “A partir de então seria possível afirmar, ou não, se foram os desentendes dos jabutis encontrados aqui na região que um dia fizeram a viagem pelo oceano pacífico até aquelas ilhas”, pondera.