Excetuando a maquinaria e as quinquilharias eletrônicas, é raríssimo não encontrar, em nossa cultura secular algo que não tenha seu berço na Grécia. Escolas, ginásios, aritmética, geometria, história, retórica, fisíca, biologia, anatomia, higiene, terapia, cosmético, poesia, música, tragédia, comédia, filosofia, teologia, agnosticísmo, ceticismo, estoicismo, epicurismo, ética, política, idealismo, filantropia, cinismo, tirania, plutocracia e democracia; são palavras gregas que designam formas de cultura originadas, para o bem e para o mal, pela exuberante energia dos gregos. Todos os problemas que hoje nos preocupam: o desflo-restamento e a erosão do solo; a emancipação da mulher e a limitação da família; o conservantismo e des-moramento da moral; os experimentos da música, da política e dos governos; as corrupções da política e as perversões da conduta; o conflito entre religião e a ciência e o enfraquecimento dos dos fundamentos sobrenaturais da moralidade; as guerras de classes e de nações e continentes; as revoluções dos pobres contra o poder econômico dos ricos, e dos ricos contra o poder político dos pobres; as lutas entre a democracia e a ditadura, entre o individualismo e o comunismo, entre o Oriente e o Ocidente. Todos esses problemas, documenta a História da Filosofia, agitavam a brilhante e turbulenta vida da antiga Hélade. Assim, não há nada, em absoluto, na civilização grega que não traga luz à nossa. Este é o legado da filosofia que o mundo do presente século recebe, diria Sêneca, se aqui estivesse.
Acompanho o desenvolvimento da Filosofia, como ciência, desde a minha juventude. Deste modo, foi um choque para este cronista, em meados da década de 60, no ápice da minha juventude, quando vi com tristeza o governo militar brasileiro suprimir o ensino de filosofia nas escolas de Ensino Médio e dificultar, de tal modo, o mesmo ensino, em nível superior, nas universidades, por entenderem que a filosofia era uma forma de saber perigosa nas mãos dos cidadãos comum.
O tempo passou e, em 2007, por conta da medida reparadora do Conselho Nacional de Educação (CNE), a Filosofia foi novamente inserida no Ensino Médio, dando ao jovem brasileiro a oportunidade de não ser presa fácil de sistemas perversos e dos problemas sociais experimentados pelos brasileiros.
Entretanto, com o advento da educação do “futuro” e as facilidades de financiamento de cursos de “mercado” não há mais demanda ou procura para os cursos de Filosofia e , por extensão, para qualquer outro curso de Ciências Humanas. Uma exceção na área da educação, é o curso de Pedagogia. Assim, são inúmeras as Faculdades e até Universidades particulares, que estão optando por cursos de “mercado” preterindo os de Filosofia, Letras, etc. Estes últimos, nos próximos anos, terão pouquíssimas demandas nas Universidades Federais. As particulares, vão abrir mão dos tais. Hoje qualquer curso do tipo: como ensinar caminhar com bumbum empinado, tem mais alunos do que qualquer curso de filosofia, seja licenciatura ou bacharelado.
Mas, por que e para que estudar filosofia? Uma boa resposta a esta pergunta, seria porque: a filosofia, à luz da lógica, livra a mente dos preconceito e ensina princípios para a ação correta. Insere o acadêmico na luta contra os preconceitos raciais, contra o espírito tribal, contra a sociedade fechada, contra as ideologias sectárias, contra os mitos patológicos do nacionalismo, do colonialismo, contra as visões particulares, estreitas e restritivas ao homem, diria Remo Cantoni, personalidade eminente da cultura italiana das últimas décadas.
E mais: para os que estigmatizam a filosofia, assevero que esta ciência como investigação conceitual busca mapear relações entre nossos conceitos e determinar o que faz e não faz sentido dizer. Formulação de ideia bem oportuna no mundo de hoje, pois o que tem de gente ejucalando baboseiras, por aí, em nome de pseudas ciências, não está nos antigos gibis do Tarzan, Zorro e do Roy Rogers.
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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