Uma distinção do progresso ou ascensão da moral manifesta-se como um processo dialético de negação e de conservação de elementos morais anteriores. Assim, diz Adolfo Sanches, a vingança de sangue, que constitui uma forma de justiça dos povos primitivos, cessa de ter valor moral nas sociedades posteriores; o egoísmo característico das relações morais burguesas é abandonado por uma moral coletivista socialista. Por outro lado, valores morais admitidos ao longo de séculos, como: a solidariedade, a amizade, a lealdade, a honradez, e outros, adquirem certa universalidade e deixam, portanto, de pertencer exclusivamente a uma moral particular.
Este é o objetivo que toda sociedade deve perseguir, para que tenha vida sadia, pois progresso moral se mede, principalmente, pela ampliação da esfera moral na vida social. Essa ampliação se revela ao serem reguladas oralmente relações entre indivíduos que antes se regiam por normas externas, como as do direito, do costume, entre outras. O progresso moral se determina, ainda, pela elevação do caráter consciente e livre do comportamento dos indivíduos ou dos grupos sociais.
A moralidade começa com associação, interdependência e organização em que todos dão sua contribuição cooperativa. Afinal, o homem ou qualquer homem, destituído de moral é um caos interior, com reflexos terríveis aqui fora. Então, vida em sociedade requer a concessão de uma parte da soberania do indivíduo à ordem comum, pois a regra de conduta acaba tornando o bem-estar do grupo. É elementar, diria o caro Watson (Sherlock Holmes). É, igualmente, atemporal!
Sim, são valores atemporais que não depende do tempo, da época e de seus modismos e culturas escrotas. Como essa, por exemplo, de que meninas não podem chegar aos 18 anos virgens. Ser virgem até aos 18 anos é careta.
Essas e outras culturas bizarramente “novas” colaboram para aniquilar o pouco que resta, atualmente, de integridade moral, entre os homens, notadamente no campo dos “bons costumes”. Para essas novidades culturais, faremos bem em desconfiar, já que são “verdades” que mudam de roupa com frequência, mas debaixo dos panos continuam sempre a mesma, já dizia nos anos 60 o falecido padre Pedro da escola Salesiana Domingos Sávio de Manaus. Aliás, em moral não devemos esperar inovações surpreendentes.
No Iluminismo, acreditava-se que a idade da superstição e da barbárie estava a ser progressivamente substituída pela ciência e pela razão, atribuindo-se à história uma linha evolutiva de caráter moral. Triste engano, pois nem mesmo aquela “educação” moral de inculcar nas pessoas o medo às consequências da não observância surte mais efeito.
Caso específico dos jovens dos tempos pós-modernos. O jovem atualmente é portal do crime. Todos os dias surgem dos quatro cantos do mundo, relatos lamentáveis sobre: homicídios, assaltos à mão armada, lesões corporais e tráfico de drogas envolvendo diretamente crianças e adolescentes.
Resultado drástico, não pela ausência de leis severas, pois que aí estão até rigorosas demais. Mas, principalmente pelo afrouxamento da moral advinda da igreja, da família e da escola, que tinham um código moral unificador e que davam à conduta humana a maioria das regras do jogo da vida. Graças à iniciação, imitação ou instrução, transmitida pela igreja, pelos pais e pelos professores, a herança mental de grupo ou comunidades passou de geração a geração e chegou até nós, como instrumento que elevou o homem acima da pura animalidade.
O sofista Cálicles (483 a. C) no diálogo Górgias, denuncia a moralidade como sendo uma invenção dos fracos para neutralizar a força dos fortes. Mais tarde Max Stirner (1806-1856) filósofo precursor do anarquismo individualista, exprimiu a ideia de forma concisa quando disse: “um punhado de poder é melhor do que um saco cheio de direito”.
À luz dessas teorias, o Brasil, entre outras nações, atualmente vive uma digressão política sem solução, pelo menos é o que deixa transparecer os poderes constituídos. Isso basta à incompetência.
Contudo, quanto à patifaria que permeia os quadrantes da terra de Afonso Arinos, você e eu, bem que poderíamos nos prevenir contra ela colocando em prática, se possível, boas máximas da moralidade: Moralidade, disse Jesus Cristo, é bondade para com os fracos; moralidade, disse Nietsche, é a bravura dos fortes; moralidade, diz Platão, é a eficiente harmonia do todo.
*Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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